WikiLeaks é o futuro do jornalismo?

Marcos Cardoso

Agora nos chega a notícia de que o site WikiLeaks está sendo indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Responsável por vazar inúmeros documentos secretos de governos e empresas, e de irritar profundamente o império americano, o site criado pelo enigmático australiano Julian Assange foi indicado pelo parlamentar norueguês Snorre Valen por ser “uma das contribuições mais importantes para a liberdade de expressão e transparência” no século XXI. Para o nórdico, ao divulgar informações sobre corrupção, violações dos direitos humanos e crimes de guerra, o WikiLeaks faz-se concorrente natural ao Nobel da Paz. Não se sabe se a proposta torna o site um candidato: o comitê do prêmio não comenta a indicação.

O parlamentar norueguês não se refere ao WikiLeaks como site de jornalismo, mas a referência é inevitável. A iniciativa de Assange provocou um debate apaixonado no meio e muitos jornalistas não só defendem o australiano, mas se referem ao que pratica como o jornalismo do futuro. Não se vai aqui discutir a legalidade do ato em si, mas vazar documentos diplomáticos é jornalismo? Argumenta-se que o direito à informação é superior a qualquer outra consideração moral ou ética. No micromundo do Twitter, onde todos se julgam “jornalistas”, talvez a questão seja colocada de outra forma: há lugar para o jornalismo diante desse novo fenômeno de comunicação social nascido com a internet?

Para o jornalista Alberto Dines, o jornalismo não está ameaçado e nem sequer existe essa discussão sobre o futuro do jornalismo, mas “uma discussão sobre as diferentes tecnologias que vão veicular o jornalismo”. A visão da nova mídia é que os jornais, como o conhecemos há 400 anos, vão acabar, embora se saiba que o homem não abre mão de suas conquistas, como a palavra escrita, o livro etc.

Calcula-se que, nos Estados Unidos, metade dos jornais morrerão nos próximos dez anos, mas Arianna Huffington, criadora da “plataforma digital que reinventou o jornalismo” e primeira a ganhar dinheiro com o jornal online, não vê oposição, mas convergência, no futuro, entre as mídias impressas e online. “O futuro não é excludente, mas de coexistência”, prevê a dona do “Huffington Post”, jornal online que agrega 9 mil blogs, além de uma equipe própria de jornalistas, e que se tornou uma operação lucrativa, mantida por publicidade, graças à credibilidade e audiência alcançadas. A regra que se estabelece é: o conteúdo tem que permanecer bom, mas não se cobra por ele porque notícia de graça tem demais na internet.

Mas e sobre o que veicular? O modelo de jornalismo praticado até hoje subiu no telhado. Fala-se que o suporte papel ainda tem sobrevida de 50 anos, mas com o advento do “novo jornalismo” derrubou regrinhas antes consideradas pétreas, como a publicidade não interferir na redação, a opinião ser delimitada em colunas para não brigar com a isenção e a objetividade. Para quê, se os leitores já não acreditam na independência, na imparcialidade e mesmo na objetividade jornalística?

Certamente que agora cabe uma discussão sobre a profundidade, a qualidade da informação que se tem veiculado como jornalística. Mas há um conceito cujo valor não para de crescer e mais do que nunca deve ser encarado como virtude: a transparência. E transparência não só na forma de manutenção do negócio, se com publicidade, à custa de uma instituição ou se com doações. Mas, principalmente, transparência nas informações que o veículo presta, nas revelações: quanto mais se tornar visível o que fazem os governos e as multicorporações, tanto melhor. Afinal, a transparência do poder público é sempre melhor do que a sombra.

E aí cabe outra defesa do WikiLeaks: historiadores concordam com o vazamento de informações confidenciais, afinal, não é todo dia que se tem à mão fontes primárias tão frescas e conceituadas para entender o tempo presente, como lembrou o historiador britânico Timothy Garton Ash.

O WikiLeaks trabalha com centenas de fontes espalhadas pelo mundo e aceita documentos com material secreto, censurado ou restrito com significação política, diplomática ou ética (mas não aceita rumores ou material que já tenha sido tornado público). Uma equipe formada por jornalistas atesta a veracidade dos documentos recebidos e o material fica em “sala de espera”, para evitar que a identificação da data do vazamento ameace a fonte. Após o material ser compilado, a equipe faz um resumo que é publicado no site, junto com os documentos que o comprovam.

Quanto a Assange, diga-se logo que ele não está sendo perseguido mundialmente porque fez sexo com uma sueca, mas porque ousou incomodar a Casa Branca. Os Estados Unidos que pressionam o Google para não desativar contas de blogueiros na China ou no Egito, segundo revelações do próprio WikiLeaks, lideram uma ofensiva mundial para controlar e restringir o uso da rede. Sob o pretexto de investigar ações terroristas, o governo americano está propondo um projeto de lei determinando que as empresas de internet sejam obrigadas a instalar sistemas de grampo para capturar os dados enviados e recebidos por seus usuários. Isso significa que todos os meios de comunicação existentes na web, de serviços de e-mail até programas de telefonia, como Skype, teriam de abrir brechas para as agências de espionagem do governo. Isso, sim, representa grave ameaça à liberdade de expressão e à autonomia dos povos.

Operação Cajueiro, 35 anos

A coluna recebeu a seguinte carta do advogado Nilton Vieira Lima: “Lembrar para evitar repetir os erros. É necessário se conhecer a história como ela se passou e as prisões ocorreram na sexta-feira da semana anterior a do Carnaval. Eu, já formado em direito, mas sem a carteira da OAB, e alguns outros companheiros da chamada ‘esquerda democrática’ conseguimos fugir. À época, ninguém acusou ou sequer falou que Wellington Mangueira teria dedurado alguém e a carta que se alega ter sido feita por ele e divulgada pelos representantes do regime, tínhamos certeza que deveria ser uma inverdade ou, então, feita sob intensa tortura, assim como ocorreu com Galileu. Ademais, ele não foi nem o primeiro e nem o segundo a ser liberado. Carlos Alberto Menezes ainda era estudante e foi preso, provavelmente porque fazia estágio com o já falecido advogado Jackson de Sá Figueiredo. E José Elias Pinho de Oliveira, também ainda estudante, deve ter sido preso porque recebeu apoio dos que integravam o Partidão para ser presidente da Ala Jovem do MDB, em oposição à nossa chapa, e teve uma atitude, após as prisões, bastante correta, pois se negou a ser testemunha de acusação no processo em troca de evitar ser perseguido e ainda receber vantagens. Finalizo informando que o então Presidente da OAB/SE, Gilton Garcia, além de visitar os presos (somente foi autorizado ver os advogados), abreviou a entrega da minha carteira para que assim eu tivesse melhores condições de defesa em caso de algum processo contra mim. Há também muitos outros fatos sobre determinadas pessoas que merecem ser do conhecimento público, como, por exemplo, alguns médicos que faziam exames para afiançar quais presos poderiam suportar maiores torturas. Mas não é uma boa lembrança.”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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