Zózimo Lima Filho, militar reformado, residindo em Natal, no Rio Grande do Norte, tem sido um dedicado pesquisador e organizador da memória intelectual do seu pai, o jornalista e escritor Zózimo Lima, falecido há exatos 30 anos. O jornalista deixou centenas e centenas de crônicas nas páginas dos jornais, algumas delas reunidas em livro por Francisco Guimarães Rollemberg. Zózimo Filho fez uma edição ampliada, com o mesmo título de Variações em fá sustenido, em 2002. E agora renova seu trabalho, revisando-o e republicando o livro, enquanto prepara, com a colaboração de Jackson da Silva Lima, uma edição temática das crônicas de Zózimo Lima. Na quarta capa está a Ponte do Imperador, recanto que o jornalista freqüentava diariamente, com amigos em longas conversas, ou sozinho, como um hábito de anos, de ficar entre o rio Sergipe passando para o mar, e a cidade de Inácio Barbosa crescendo, em todos os sentidos, aos seus olhos. A nova edição de Variações em fá sustenido circula numa época muito apropriada, quando Aracaju completa 149 anos, e quando a Ponte do Imperador, seu maior símbolo, é restaurada. O exemplo de Zózimo Lima Filho deveria ser seguido por outras famílias de sergipanos ilustres, esquecidos, e desconhecidos das novas gerações. As obras de muitos autores desapareceram, ou pela falta de centros de documentação, ou pelo descaso das entidades culturais, ou pelo desinteresse das próprias famílias. Há exemplos tristes, que servem de atestado a esse descompromisso. Livros, revistas, jornais, fotografias foram para o lixo, como coisa velha, inservível, desnecessária. A área cultural do Governo, independentemente de quem esteja à frente, carece de recursos, de uma política, de quadro de pessoal qualificado, de meios práticos para a organização e manutenção dos acervos, para que sirvam às pesquisas e à memória sergipana. Pesquisar, em Sergipe, é um exercício penoso e sacrificante. Os jornais estão em estado deplorável e em fragmentação que, daqui a pouco, não podem ser consultados. Os demais suportes padecem da mesma situação, estando já de difícil manuseio. Pouco se fez, pouco se faz para restaurar os acervos, protegendo-os com novos suportes que a tecnologia coloca à disposição, a custo relativamente baixo. Já existe alguma coisa feita, em CD ROM, que é uma linguagem boa, na medida em que protege o documento, ao tempo em que disponibiliza à consulta, pelo computador, permitindo recuperar textos, dinamizando a pesquisa. O CD ROM revoluciona o instrumental da pesquisa, criando várias interfaces que aceleram a obtenção de resultados, que antes levariam anos. Que o esforço de Zózimo Lima Filho seja seguido, em favor da cultura sergipana. O futuro será grato e melhor, pelo conhecimento partilhado, que sempre será uma boa ajuda para a compreensão da história. Uma terra de grandes intelectuais, com tradição de inteligência e contribuição sem igual na formação da cultura brasileira, não pode negligenciar com seus autores. Quando da preparação da nova edição escrevi o texto que transcrevo a seguir: Conheci o cronista de Variações em fá sustenido antes que ele trocasse o Correio de Aracaju pela Gazeta de Sergipe. Sua crônica tinha, intrinsecamente, um compromisso com os fatos da história. Não se tratava do beletrismo literário, folgado, mas de um texto direto, objetivo, muitas vezes áspero, que tanto expandia as sensações do autor, como acolhia informações preciosas, sem as quais não se poderia recompor o tecido da história de Sergipe. Tanto é assim que sua crônica sobre a presença de Lampião em Capela é a melhor e mais acreditada fonte da aventura inicial do capitão Virgulino em terras sergipanas. Zózimo Lima nem sempre era de fácil conviver. Reclamava, pelo jornal, da revisão dos seus textos e ameaça, vez por outra, encerrar sua colaboração. Li, como editor da Gazeta de Sergipe, muitas críticas aos revisores, mas não tive o desprazer de vê-lo fora do corpo de colaboradores do jornal. Ele continuou firme, a revisão melhorou e seus textos passaram a integrar um repertório essencial, de inegável valor literário, sendo fonte da melhor qualidade para a compreensão de muitos fatos da história de Sergipe. Vivendo entre intelectuais, Zózimo Lima se tornou um deles e nesta condição foi eleito para a Academia Sergipana de Letras, Cadeira 39, de Joaquim Fontes, honrando-a com sua biografia até morrer, em 1874, indicando, como tinha in pectoris, o nome de Orlando Dantas para substituí-lo. Orlando Dantas, seu sucessor, e Maria Thétis Nunes, atual ocupante, fizeram o elogio da praxe e destacaram, em seus discursos de imortais, as qualidades do cronista. Foi presidente da Academia, como o foi da Associação Sergipana de Imprensa, atestando as duas qualificações – jornalista e intelectual – com as quais conquistou o respeito e a admiração dos sergipanos. Zózimo Lima foi, no seu tempo, uma voz que esteve a altura dos grandes do jornalismo e da literatura sergipana, como Clodomir Silva, Prado Sampaio, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, dentre outros que foram mais que companheiros, foram amigos, como Passos Cabral e Freire Ribeiro. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”