A rota do tráfico no sertão

O alto sertão é o principal alvo dos traficantes / Foto:Portal Infonet
Roubos, furtos, aumento no consumo de drogas ilícitas, principalmente o crack são as principais reclamações de moradores do alto sertão sergipano. A população alega que a violência tem se tornado frequente nos povoados, principalmente os que ficam distantes das cidades e apresentam difícil acesso. A equipe do Portal Infonet ouviu ainda relatos de moradores que afirmam conviver diariamente com o medo e o silêncio impostos por quadrilhas que atuam no tráfico de drogas.

Moradores do município de Poço Redondo, distante 184 km da capital, relatam que a cidade vem sofrendo com a violência e com o aumento nos casos de jovens envolvidos com drogas. Com medo de mostrar o rosto, um comerciante diz que vive assustado com a violência do local e que apesar de ter sido assaltado algumas vezes não denuncia porque é intimidado pelos assaltantes.

Morador denúncia que quadrilhas mantém plantação de drogas / Foto:Portal Infonet
“Infelizmente a violência está crescendo bastante na cidade, já fui assaltado algumas vezes, mas não vou à delegacia porque os bandidos andam pelas ruas e podem até cometer um crime maior”, diz o comerciante.

Um ex-agricultor morador do povoado Areias, distante 15 km da sede do município de Poço Redondo, diz que nos últimos anos tem pensado em deixar a localidade com medo da violência. “Aqui é muito distante da cidade, a gente vive com muito medo da violência porque casos acontecem sempre, mas o que assusta mesmo é essa droga ai que inventaram, esse tal de crack, menina isso destrói uma família”, afirma Jackson Barbosa dos Santos, relatando que fica várias noites sem dormir para tentar fazer a segurança da família.

“Eu e minha mulher moramos aqui assustados, tem noites que nessa estrada de chão passa tanta gente que não dá para dormir. Acho que se continuar assim vou morar em outro lugar, porque aqui é distante e a gente chama a polícia e eles não chegam nunca”, conta o ex-agricultor,

Morador alerta que a violência tem crescido na região / Foto:Portal Infonet
acrescentando que teme que os bandidos podem estar plantando maconha nas proximidades.

A dona de casa Cleide dos Santos, também moradora do povoado, diz que apesar de não saber de casos, teme que seja vítima de violência sexual. “Às vezes tenho que andar para tentar pegar um transporte para ir à cidade e muitas vezes encontro com alguns homens na estrada que ficam encarando de forma suspeita, fico com medo e sempre evito ficar sozinha”, alerta.

O esposo de Gleide afirma que tem redobrado os cuidados com a segurança com medo de assaltos. “Nunca pode sair de casa os dois porque se sair a gente sabe que quando voltar não vai encontrar nada na casa. Os bandidos aqui agem livremente e eles sabem que, como o povoado é isolado, a gente pode chamar a polícia que vai demorar bastante para chegar”, observa Daniel dos Santos.

“A maconha ainda é uma das drogas mais consumidas no sertão”, diz Tenete Oliveira / Foto:PM 
Apreensões

O aumento do tráfico de drogas no sertão é confirmado pelo comandante responsável pelo Pelotão Especial de Policiamento em Área de Caatinga (PEPAC), Tenente Oliveira. “Desde a criação do batalhão em setembro de 2008 temos realizado várias prisões e apreensões de entorpecentes principalmente na área correspondente ao alto sertão sergipano. Somente no ano passado apreendemos cerca de 27 armas, mais de 80 cabeças de gado e cumprimos mandados de busca e apreensão”, diz o tenente.

O delegado Clever Farias, disse que no ano passado realizou uma das maiores apreensões de maconha da região. “Apreendemos mais de três quilos de maconha em Canindé do São Francisco. Isso mostra que o tráfico está crescendo

Para realizar o policiamento ostensivo, o batalhão conta com apenas 28 policiais / Foto:PM 
bastante”, observa o delegado.

Rota do tráfico

O tenente Oliveira destaca que a divisa entre Bahia e Alagoas proporciona um maior fluxo de traficantes de drogas no sertão sergipano. “Canindé, Poço Redondo e Porto da Folha são as localidades mais afetadas pelo tráfico por conta da divisa entre Bahia e Alagoas. Sabemos que muitos aproveitam o Rio São Francisco para transportar drogas e isso dificulta o trabalho do batalhão que realiza diligências em uma grande faixa do território”, salienta Oliveira, ressaltando que é preciso a aquisição de um barco para realizar o trabalho.

“Já temos homens que realizaram um curso para fazer o policiamento fluvial e estamos aguardando

A divisa com Bahia e Alagoas facilita o tráfico de drogas / Foto:Portal Infonet
a aquisição de um barco para poder fazer um trabalho de repressão no Rio São Francisco”, diz o tenente.

Dificuldades

O efetivo de apenas 28 policiais é uma das principais dificuldades para conter o avanço das quadrilhas no sertão. “Trabalhamos com 28 policiais no batalhão de caatinga, quando seria necessário atuar com 56 homens de forma permanente. Mas apesar do efetivo reduzido estamos realizando um ótimo trabalho nas regiões, combatendo o roubo de gado e o tráfico de drogas”, completa o Tenente Oliveira.

Por Kátia Susanna

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