Bala e doce, esses são nomes cada vez mais comuns principalmente entre a juventude. Não com o significado de simples guloseimas, mas para camuflar a referência ao LSD, ao êxtase e às anfetaminas em geral. Ficar “ligadão” para dançar a noite toda ou varar a madrugada estudando são alguns dos vários motivos para consumir as anfetaminas. Sergipe não é um dos principais consumidores de drogas sintéticas, mas já é perceptível o aumento do uso dessas substâncias.
Para o delegado Robério Santiago, do núcleo de combate a entorpecentes da Polícia Civil, o aumento do consumo de drogas a base de anfetaminas em Sergipe é reflexo do progresso econômico do Estado. Ele argumenta que a substância é trazida por pessoas vindas de outras cidades, principalmente do Rio de Janeiro e São Paulo, para estudar ou aproveitar oportunidades de emprego.
Santiago afirma, porém, que não há expressividade nas apreensões desse tipo de droga no Estado. Segundo ele, o consumo de produtos a base de anfetaminas ainda está restrito a um grupo restrito. As classes alta e média-alta seriam as principais receptoras devido ao elevado preço da droga. Um comprimido de menos de 5g chega a custar R$ 50 em média.
Ações preventivas
Apesar de considerar o uso de drogas a base de anfetaminas em Sergipe de pouca expressividade, o delegado Robério Santiago revela que ações de combate ao tráfico estão sendo tomadas. Já há linhas de investigação em casas noturnas e festas. Mas o delegado também é enfático ao deixar claro que não se pode fazer ligações necessárias entre casas noturnas e festas rave e uso de drogas. “É bom esclarecer que não são em todas as festas nem em todas as boates que acontece o uso dessas drogas”, pondera.
O traficante
Uma característica peculiar das drogas a base de anfetaminas é o perfil de seu vendedor. O traficante de LSD ou êxtase, diferentemente do de crack ou maconha, está inserido diretamente no grupo do consumidor. Ou seja, traficante e usuário são das classes alta ou média-alta e costumam freqüentar os mesmos ambientes. Santiago indica que a pessoa que comercializa a droga é aquela que já foi iniciada no uso e vê na venda uma maneira de levantar um bom ‘trocado’, além de sustentar seu consumo. Apreensão feita pela PRF em Sergipe / Foto: Arquivo Infonet
Numa outra frente comercial, também estaria o traficante de drogas mais comuns para ampliar seu mercado. Mas ele não atua diretamente nas transações. O ‘traficante profissional’ usaria jovens do mesmo círculo social do usuário para intermediar o tráfico da droga.
Aquela figura do traficante ‘barra pesada’, que fica no alto do morro de fuzil na mão esperando o usuário vir buscar a droga, não se aplica às anfetaminas. Porém, o delegado Santiago salienta que, apesar disso, a violência também é inerente ao tráfico dessa droga. Em um estágio embrionário de comércio, enquanto não há perenidade no fluxo da anfetamina, a violência não é perceptível. Mas ela logo aparece quando a demanda aumenta e as negociações começam a ganhar corpo, abrindo maior margem à ‘inadimplência’.
‘Rebite’
O “rebite” também pertence ao grupo das anfetaminas mais consumidas. Seus maiores usuários são os caminhoneiros e motoristas de ônibus interestaduais, por conta dos prazos reduzidos para entrega de cargas e passageiros. A equipe do Portal Infonet conversou sobre o tema com um grupo de caminhoneiros que preferiram não se identificar, na saída de Aracaju. Prazos apertados gera uso nas estradas
Eles contaram que os colegas são praticamente obrigados a engolir os “pregos” para fazer, por exemplo, entregas de São Paulo à Aracaju em 60 horas. “Eu chegava a botar dois comprimidos num copo de conhaque e tomava. Rodava 24 horas direto. Chegava no destino; fazia a mesma coisa e voltava”, relata um deles.
De acordo com os caminhoneiros, atualmente há um maior combate ao uso do rebite, mas ainda é relativamente fácil encontrá-lo. Em alguns postos de gasolina, assim que eles estacionam, os próprios frentistas já chegam oferecendo as “pedras”. Os motoristas contam ainda que cartelas com 12 ou 22 comprimidos custam de R$ 12 a R$ 18 em média.
Efeitos
Sensação de poder, aumento da disposição energética e da capacidade sensorial são os principais efeitos imediatos das anfetaminas. O uso prolongado pode causar dependência psicológica, gerando doenças psíquicas como esquizofrenia e depressão, levando em alguns casos ao suicídio.
As anfetaminas são rapidamente absorvidas pelo organismo e causam aumento da atividade cardíaca. Os sintomas mais comuns são: pupilas dilatadas, respiração ofegante, pele pálida e fala atropelada. Os efeitos da droga duram de 4 a 14 horas e quando somem, é comum o advento de fadiga profunda. No Brasil, as anfetaminas também são usadas com fins medicinais no tratamento contra a obesidade.
Por Zeca Oliveira e Raquel Almeida