Há alguns dias parlamentares petistas fizeram um alerta sobre a atual gestão do Banese e os erros que poderiam estar sendo cometidos. Com igual conteúdo, Antonio Góis, vereador em Aracaju, e Ana Lúcia, deputada estadual, denunciaram a possibilidade do Banese se transformar num apêndice político do governador João Alves. A reação foi imediata. Na publicidade do governo as denúncias receberam como resposta um chavão oco e surrado, que nada responde: questões políticas em ano eleitoral. Na imprensa, além da divulgação formal, a ação dos dois petistas teve acolhida em coluna assinada por conceituado jornalista, mas para colocá-los na vala dos praticantes da “politicalha” que buscam garantir “um palanque em ano eleitoral”, além de tentarem “desestabilizar a direção do banco” e de irresponsáveis. O jornalista desce a detalhes que demonstram muita intimidade com as estratégias de sua administração do banco. Interessante é que os anos passaram, desde os dois governos de João Alves (1982/1986 e 1990/1994), mas as denúncias continuam as mesmas. Mais interessante ainda são as reações: elas também são as mesmas, mudando apenas de origem. Veja o texto a seguir. “O Banese está no noticiário… porque perdeu sua condição de estabelecimento imunizado contra o vírus de utilização política e eleitoreira…”. E mais: “…o Sr. João Alves… cedeu as pressões dos seus novos amigos, alguns dos quais insaciáveis em seus negócios e… passou a ser um grande pagador de compras que não fez. Até as viagens de trabalho e particulares do governador… eram pagas, em suas despesas mais bisonhas, pelo Banco. Muitas das caras propagandas governamentais foram faturadas contra o Banese”. Alguém vai dizer que isso foi escrito por algum radical / aproveitador / politiqueiro / irresponsável, na busca frenética de desestabilizar dirigentes e governantes e ao mesmo tempo armar um palanque. Nada disso. O texto foi extraído do editorial da Gazeta de Sergipe, de 19/06/1986, último ano do primeiro governo João Alves. É o retrato de hoje, guardadas o respeito a regras mais rígidas? Já no segundo governo de João Alves, o Banese esteve quase todo o período sob o comando de Camilo Calazans, um rei Midas às avessas, para castigo dos baneseanos. Foi quase toda uma gestão de prejuízos, sob constantes alertas de sindicalistas e militantes, entre os quais Antonio Góis, então funcionário do Banese. Sabe o que diziam os dirigentes do Banco e seus seguidores? Que tudo não passava de armação, de politicagem de ressentidos. E vieram as Letras do Tesouro Estadual que quase levou o banco à lona. Depois um enxugamento de quase 50% do quadro de funcionários, uma intervenção branca, muito sacrifício dos que mantiveram o emprego com renúncia a direitos, arrocho salarial e péssimas condições de trabalho. Somente a partir de 1997 os ares ficaram menos pesados. Portanto os alertas e denúncias que surgem agora devem ser considerados e receberem a atenção devida. Acredito muito mais naqueles que, infelizmente, acertaram, num passado recente, no diagnóstico sobre a crise que o Banese enfrentaria, como resultado dos desmandos administrativos, do que nos movidos pela máquina publicitária que a tudo pretende convencer, inclusive que dois mais dois não são quatro. Espero que não seja preciso outro grande susto, com um custo social insuportável. * Gilson Costa é bancário aposentado, ex-presidente do Sindicato dos Bancários de Sergipe.