Brasil dependentes desde a “descoberta”

Em 22 de abril de 1500, Pedro Álvares Cabral e sua comitiva colocavam os pés na terra que se pensou ser ilha, e que hoje é conhecida como Porto Seguro, na Bahia. Assim descobriu o Brasil. Não um descobrimento, mas apenas uma chegada. Uma chegada porque aqui já se encontravam cerca de dois milhões de ameríndios – indígenas nativos que povoavam as terras brasileiras. A situação em que se encontravam as terras e o povo que aqui vivia ‘ninguém’ sabia. 

O estabelecimento de bases de colonização nesse território inicia o sistema de dependência sofrido desde então pelo povo brasileiro. Primeiramente, uma dependência política e econômica no Brasil Colônia. Depois um ar de liberdade sob a conquista da emancipação política – a independência. E hoje a dependência também cultivada no regime militar, a dependência econômica, que em momento nenhum deixou de permear o panorama do país.

                                    

Mesmo ‘deixada de lado’ pelos portugueses, as terras ‘descobertas’ estavam desde então dominadas pelo Reino de Portugal. A relação de dependência colônia-metrópole não permitia movimentos de libertação política. “Os portugueses foram extremamente competentes em controlar administrativamente o Brasil e punir com severidade todo e qualquer movimento de emancipação”, diz José Vieira, professor de História do Brasil, usando como exemplo a morte de Tiradentes.

 

Professor José Vieira
A independência aconteceu com um ar de mistério e armações político-econômicas pela realeza portuguesa. Aconselhado, D. Pedro I tornou o Brasil independente politicamente. “Na prática nós só conquistamos a emancipação política, mas nós continuávamos dependentes economicamente”, sintetiza o professor, justificando com dívidas herdadas de Portugal. “Mudam-se os nomes, mas a estrutura sócio-econômica permanecia a mesma”, explica Vieira, citando o sistema baseado na escravatura.

 

De acordo com José Vieira, um fator que também caracteriza a dependência brasileira é o cultural. Para ele, a monarquia brasileira visava aos costumes de vida da Europa e por isso não procurou se desenvolver independentemente em outros aspectos. “A nossa elite se espelhava na Europa. Ela não projetava uma identidade local, ela estava independente politicamente. Tinha dinheiro, mas continuava dependente culturalmente da Europa”, explica Vieira, que acredita que essa dependência cultural permanece nos dias atuais.

 

Mas então, o que se comemorar no dia 22 de abril? Uma descoberta que negligenciou a presença indígena, que não fez das terras ‘descobertas’ um território para ser nação, terras em que se ‘tropeçou’ na busca pelas rotas de ouro, rotas para o comércio das Índias. Ou ainda uma chegada que desde os princípios tornou o povo que aqui vivia dependente? Uma dependência herdada até hoje pelos sistemas que sempre visualizaram a menor parte do povo desta nação.

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d”agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!” (Carta Pero Vaz de Caminha).

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