Clara Angélica Porto Caskey é uma sergipana que mora nos Estados Unidos, mais precisamente em New York. Jornalista, ex-diretora da Emsetur, ela casou com americano e morou muito tempo por lá. Voltou a Aracaju com seus dois filhos, Sasha e Vanessa. Há um ano e meio retornou à sua moradia nos States. Ela nos faz um relato extraordinário sobre os atos terroristas que abalaram o mundo. Eis o que ela escreveu para o jornalista Ivan Valença: CARTA (PUBLICAÇÃO INTEGRAL) “Ai saudade, saudade do meu Sergipinho, tão pequenininho” “Tudo parece um pesadelo por aqui. Meu filho Sasha, que trabalha perto do WTC, desceu do escritório e estava em frente ao prédio quando o segundo avião atacou a segunda torre. Ficou chocadíssimo, voltou ao escritório, pegou o capacete e foi de moto para casa. Minha nora, que é médica, de plantão. Consegui localizar Vanessa pelo celular, que já havia caminhado uma hora, tentando chegar em casa. Pedi a um taxista que mora aqui perto, que a fosse encontrar. Estamos todos bem, aliás Sasha é o único de nós que viu na hora, lá, então a visão dele é mais chocante, enquanto a nossa, mais surreal. Parece que os USA vão ter que entender agora que high tech só não funciona. O que os terroristas árabes têm é high concept – cortadores de papel de metal como armas, assim furaram tranqüilos as seguranças dos aeroportos e usaram os próprios aviões cheios de combustível como bombas, que golpe de mestre, hein? Não precisaram de high tech, mas muito cérebro. E o Pentágono, não detectou um avião que estava já há 40m fora de rota? Estavam dormindo ou o quê? Poucas pessoas no mundo podem pilotar um 747, custa 50 mil dólares fazer o curso, acho que esta é uma pista importante para o FBI. E os palestinos, celebrando a destruição? O que se passa na cabeça dos fundamentalistas fanáticos? Não pensei que viveria para ver tão de perto algo assim. Da minha rua, avista(va)-se as Twin Towers, moro logo do outro lado do rio. Ontem (dia11), fiquei parada em choque, olhando a fumaça negra, parecia Hiroshima em chamas. Hoje (dia12), nada, um grande vazio — é como se NY tivesse ficado banguela, sem os dois dentes da frente. Hoje (dia 12) em Bruxelas, uma reunião das forças e inteligência dos países europeus, tenho um amigo que foi convocado, da Força Aérea Francesa — o mundo está atônito. Trabalhei no WTC quando a Embratur e o Banco do Nordeste organizaram aquele Festival Nordestino em NY, pela Emsetur, não consigo imaginar que tudo aquilo, aquele portento luxuoso, já não existe. Então saí, comprei flores e voltei para casa. Lembra aquele artigo que você escreveu sobre mim, uma das coisas mais lindas que já escreveram? Você dizia que após a repressão, tolhida, eu resolvi me apaixonar e fui embora. Foi como as flores de ontem (dia 11). Estão lindas, num jarro que foi de mamãe. Olho sempre, quando meus olhos fogem da TV. Não saí ainda hoje (dia12), estão pedindo que as pessoas fiquem em casa, mas mais tarde, não vou resistir. Vanessa foi trabalhar — ela trabalha na Prefeitura, como Especialista em Crianças, em um dos chamados group homes, que cuida e encaminha jovens. Tentei mantê-la em casa, mas sentiu necessidade de estar presente, orientando as crianças, que já são tão carentes. É impressionante observar os novaiorquinos em ação — como amam esta cidade e como têm trabalhado. Os corpos ainda estão sob os destroços e ainda há vivos em bolsões subterrâneos que se formaram, tomara que a equipe de salvamento chegue a tempo. Dos 400 bombeiros da equipe, 265 já estão mortos e 200 policiais não estão localizados. A cidade inteira se mobilizou com muita força, é uma garra e um amor contagiantes. Uma amiga minha trabalha(va) no WTC e chegou atrasada (graças a Deus), 7m após o segundo avião atacou. “Ai saudade, saudade do meu Sergipinho, tão pequenininho”, como canta João Melo. Beijão. Clara Angélica”
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