Catadores ameaçam: sem proposta concreta voltam a invadir lixeira

Continua tensa a situação entre autoridades e catadores que trabalhavam na antiga lixeira da Terra Dura, hoje aterro sanitário do bairro Santa Maria. Representantes da categoria estão participando, durante o dia de hoje, de uma reunião com técnicos da Fundação Zerbini, com o secretário municipal de Governo, José de Oliveira Júnior, e com o presidente da Empresa Municipal de Urbanização – Emurb – Osvaldo Nascimento. O encontro iniciou às 9 da manhã, no auditório da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito – SMTT – e deve continuar no período da tarde. O objetivo da conversa, segundo Oliveira Júnior, é encontrar uma solução imediata para a situação dos catadores, que foram impedidos de entrar no aterro para trabalhar. Durante o encontro, os representantes dos catadores descreveram a situação dramática que têm vivido. “Estamos passando necessidade. Muitas famílias não têm o que comer. Na semana passada minha filha, que tem oito anos, me pediu um caderno para ir à escola e eu não tive como comprar. Ela me perguntou o que deveria fazer e a única coisa que fiz foi dar às costas e sair de casa, para não chorar na frente dela. E eu garanto a todos aqui: por meus filhos eu faço tudo. E se hoje não encontrarmos uma resposta, se não nos deixarem trabalhar, mesmo que seja durante à noite, enquanto não arrumam uma solução definitiva, nós vamos enfrentar a polícia e entrar na lixeira. Até porque só temos duas saídas: ou morrer de bala, pela polícia, ou morrer de fome, em casa. E nós vamos lutar”, afirmou o catador Márcio Gonçalves de Sá. Para o secretário de Governo, apesar da situação difícil, o encontro é extremamente proveitoso. “Este é um momento de discussão de todos os setores técnicos envolvidos com o problema. Ele vai nos permitir conversar diretamente com os catadores, ouvir diretamente deles quais são os problemas e discutir as propostas de soluções. Eles estão vendo, junto conosco, que temos nos esforçado para encaminhar soluções e que, também, temos muita clareza com relação à linha política que queremos seguir a respeito do assunto”, afirmou. Segundo o secretário, a Prefeitura entende que “a vida dessas pessoas, na dependência do lixão, não é uma forma digna de sobrevivência para um ser humano”. “Então o caminho não é permitir que as pessoas tenham acesso à lixeira, pelo contrário, a lixeira deve ser tratada de forma técnica para viabilizar condições ambientais adequadas ao tratamento do lixo, nunca para permitir que pessoas tirem dali a sua sobrevivência. Como nós sabemos que existe, porém, um problema social, de que essas pessoas de fato têm dificuldade de acesso à educação, a saúde e ao trabalho, então estamos procurando alternativas para minorar este problema. Como? Proporcionando acesso aos programas educacionais de alfabetização, aos programas sociais, como o Bolsa Família, tentando buscar alternativas de trabalho, de emprego e renda para eles. E é dessa forma que temos trabalhado no bairro Santa Maria”, garante Júnior. O presidente da Emurb, Osvaldo Nascimento, informou que existe um cadastro de 252 pessoas que trabalhavam no aterro. Com a implementação do Bolsa Família, 134 devem passar a receber uma quantia – dependendo do número de membros das famílias – entre R$ 45,00 e R$ 95,00. Uma quantia tida como ínfima por muitos catadores. “Certamente é pouco, mas não há condições nenhuma de se oferecer dinheiro a essas pessoas para que elas possam manter suas famílias. Elas precisam arrumar trabalho. Têm que buscar desenvolver alguma atividade e esse dinheiro servirá apenas para que elas, enquanto isso, não sejam lançadas abaixo de pobreza. A mudança da situação delas se dará com implementação de programas como os que, por exemplo, o município poderá desenvolver dentro de 90 ou 120 dias, quando efetuará o trabalho de reurbanização do bairro Santa Maria através da Emurb. O convênio já foi assinado entre a PMA e a Petrobas e ele só não será implantado agora por força das eleições. Mas os recursos já estão garantidos e deverão ser implementados assim que forem concluídas as ações. Daí grande parte desse pessoal com certeza será absorvido nos trabalhos dessa reurbanização”, avalia. Sobre a ameaça feita pelos catadores de voltar a recorrer à violência, caso não se tire uma solução definitiva do problema até o final da tarde de hoje, o presidente da Emurb foi direto. “É um trabalho que nós sabemos que é penoso, longo, e que vai exigir muitos esforços da administração. Mas nós também esperamos que não haja recurso à violência, que não haja o recurso a depredação do patrimônio – público ou privado – porque essas ações serão reprimidas da forma como a lei determina”, avisa. Após a rodada de discussões entre catadores, representantes da Prefeitura de Aracaju e técnicos da Fundação Zerbini – de São Paulo – deve ser formatada uma proposta, com soluções que deverão ser analisadas pelas administrações municipal e federal. “Nós precisamos de um projeto de inclusão social urgente e esse dia servirá para que consigamos chegar a um acordo”, explicou Anderson Cabral, técnico da Fundação. É esperar para ver. Situação de ex-catadores é tema de reunião

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