Cimento em pauta

Divulgamos mais uma vez o email de um leitor/colaborador, o engenheiro e professor Marco Epade, que vem assiduamente escrevendo para o Portal InfoNet sobre um assunto que vem tomando proporções no Estado, o preço do cimento. Confira o email:

 

“Meu caro Ivan Valença, agora, após essa nova informação divulgada pela INFONET, perceberemos com mais clareza, como funcionam os mercados commoditizados e uma economia de livre mercado.

Os preços inferiores de Brasília, ou mesmo em São Paulo, são, na verdade, guerras localizadas! Outro fato preponderante é que a formação de preços em mercados concorrenciais não seguem mais aquela velha regra de Custos + Margem de lucro= Preço a ser praticado.


Preços, atualmente, e há muito tempo, são formados pelo mercado. É o mercado quem os dita e pronto! Isso é a economia e a livre iniciativa é o livre mercado!
Na verdade, como se estabelecem os preços em mercados de commodities ou em qualquer mercado nos tempos atuais? Como as commodities têm a demanda quase que inelástica, embora muito sensíveis a preços, com pequenas diferenças entre os produtores/comerciantes (veja o caso da gasolina), o produtor de determinada marca, avalia se deseja ou não participar de um determinado mercado (avalia as perspectivas do mercado para médio e longo prazo e a possibilidade, se for o caso, da implantação de uma unidade mais próxima àquele mercado), se positivo, a conta é, mais ou menos, a seguinte:
 

  • Preço do concorrente(o mais forte no mercado) – Desconto (Valor que o cliente aceita pagar a mais pelo produto do concorrente, que possui a melhor aceitação no mercado e que opera com famoso Price Premium) = Preço a ser praticado pelo produtor entrante, ou pela nova marca no mercado.

Ora, se os produtos (principalmente as commodities) para se deslocarem e participarem de outros mercados tivessem, apenas, que acrescer os fretes aos preços praticados em seus estados de origem, jamais, em qualquer estado NÃO PRODUTOR, consumiríamos CERVEJA, GÁS DE COZINHA, GASOLINA, CIMENTO, SAL, etc… pois, como os fretes pesariam absurdamente nos preços dos produtos, a Indústria fora do Estado, ao adicioná-lo, inviabilizaria o preço de ponta e estados não produtores, com preços impeditivos, deixariam de consumir tais produtos.
 
Imagine o caso em que uma mercadoria produzida e comercializada em Sergipe a um preço (mercado) de R$-15,00, quando fosse adicionado frete para o Distrito Federal que comercializa o mesmo produto a R$-10,00, somando-se ao frete de R$-3,00 para cada unidade do produto, ele chegaria a Brasília a R$-18,00, daí perguntamos: – Alguém compraria esse novo e desconhecido produto em Brasília por R$-18,00?? se o preço do produto mais aceito e conhecido na capital é R$-10,00?
 
Em minhas aulas, para ilustrar essa teoria, peço aos alunos para fazerem o seguinte exercício: Para que eles imaginem/deduzam quanto deveria ser o preço de um simples chocolate BATON da Garoto, produzido em Vila Velha-ES, se adicionássemos o frete até Manaus? Qual seria seu preço no Amazonas? Alguém em Manaus atenderia aquela máxima da propaganda da GAROTO: ” …Compre Baton…Compre Baton…“? Não mesmo! O consumidor manaura, como de costume, compraria finos chocolates importados, de excelente qualidade e rejeitaria os preços dos produtos capixabas, mais caros!
 
Agora, caro leitores, imaginem, como ficariam os amigos CAPIXABAS, ao descobrirem que o preço em MANAUS de um simples BATON-GAROTO é, ainda, mais barato que o mesmo produto comercializado na porta da fábrica no Espírito Santo? se começarem a fazer essas contas, vão começar a reclamar que se em MANAUS, depois de uma longa viagem de avião, o simples BATONZINHO é comercializado por R$-1,00, em Vila-Velha, ele deveria ser entregue, gratuitamente, ao consumidor Capixaba e, ainda, seriam exigidos uns R$-0,10 de bonificação (troco) por cada chocolate recebido!
 
Somos uma país moderno, capitalista, globalizado, liberal e eventualmente nos depararemos com situações absurdas de preços que, sem uma análise mais sistêmica e técnica, dificilmente entenderíamos.

 

Lembro-me da guinada da Parmalat no Brasil que chegou ao solo brasileiro, por volta de 1972, ao associar-se a MOCOCA, inaugurando sua primeira fábrica em 1977 em MG e Iniciou um feroz processo de expansão da marca no Brasil, com a compra de empresas, ativos e incorporando marcas de produtos, estendendo suas operações a Estados como Bahia, Rio de Janeiro, Goiás, Rio Grande do Sul, Rondônia e Ceará.  Tais operações implicavam na prática de preços absurdamente baixos, mesmo no Norte ou Nordeste, com custos de fretes altíssimos, eles chegavam aos mercados e vendiam seus “LONGA-VIDAS” mineiros, sem a menor possibilidade de reação da concorrência local, até que, os produtores e os laticínios regionais, não suportando a concorrência predatória, colocavam-se a venda e eram incorporadas à GIGANTE PARMALAT, ou se não fossem  ativos interessantes ao GIGANTE, fechavam as portas.

Pouco tempo depois, os preços dos novos produtos, com nova roupagem e, algumas vezes, com uma bela campanha de marketing agregada, onde contavam com a divulgação do PALMEIRAS, SÃO PAULO e o JUVENTUDE (RS), bem como com garotos propaganda de peso (sem qualquer  trocadilho…), como, na época o jovem (…e magrinho) RONALDO do INTERNAZIONALE DE MILÃO, que divulgava a marca ao redor do planeta.
 

E como encontra-se hoje a PARMALAT? e o mercado de laticínios brasileiro? e os produtores locais estão voltando? e os preços dos leites LONGA-VIDA como estão?
 
Que tenhamos VIDAS LONGAS para entendermos como funcionam os mercados, para que possamos, de alguma forma, dar força aos produtores locais ( sejam eles do bairro, municipais, estaduais, regionais ou nacionais), para não voltarmos a sofrer a Síndrome da PARMALAT ou da INTERNACIONALIZAÇÃO TOTAL DOS MERCADOS, onde os empregos e as riquezas serão, em sua maioria, exportados ou transferidos para territórios vizinhos!

Um abraço aos leitores”

Marco Epade (Engenheiro e  Professor).

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