Com 90 anos Seixas Dórea é forte influência na política de SE

Seixas Dória

Completando 90 anos hoje, 23, Seixas Dória ainda é uma forte influência política em Sergipe. Um exemplo recente foi o apoio público à eleição de Marcelo Déda (PT) para governador, quebrando um ciclo de 16 anos de sucessão no poder entre João Alves e Albano Franco. Mais do que um personagem político sergipano, o ex-governador é o marco de uma época conturbada nacionalmente, a ditadura militar.

É dessa época que pode vir a explicação para o atual posicionamento político de Seixas Dória. Ele foi eleito em 1962, também quebrando um ciclo de sucessões de um grupo no poder. A linha conservadora da UDN se mantinha fixa no governo do Estado desde a redemocratização de 1946. Mas a candidatura de Seixas abriu o leque de opções para além de Leandro Maciel e Luís Garcia.

Muitos afirmam que o atual momento é a continuação da política reformista do ex-governador. Contudo o jornalista e historiador Luiz Antonio Barreto fala que não vê claramente sucessores políticos de Seixas Dória. “Não vejo seguidores de seu ideário político. Quem acompanha Seixas Dória? Que deputado estadual, ou vereador, ou deputado federal tem um vínculo político com ele? Eu não identifico com muita nitidez”, afirma ele em seu depoimento.

Seixas Dória (à direita) na posse de sua afilhada Tânia Soares (ao centro)

O próprio Seixas Dória vê a atual situação com preocupação, mas tem esperanças. “Eu acho que há uma crise política e geral no Brasil. Mas de qualquer forma muita gente boa reagiu a isso. Hoje a política tem que ser feita em busca da verdade, da justiça, do direito, da honra e da liberdade. Esse é meu programa, pelo menos”.

Reafirmando seu atual posicionamento, o ex-governador vai mais além, e aposta no nome de Déda nacionalmente. “Eu acho que Déda é o próximo presidente da República. Não preciso dizer mais, não é? Ele é um homem inteligente, equilibrado, sensato e sereno. Como convém a um homem que ocupa um cargo público numa hora explosiva como essa”, ressalta.

Trajetória

Em sua época Seixas também lançou o nome de Sergipe nacionalmente ao apoiar a candidatura de Jânio Quadros em 1960. “Foi com ele que, a partir da campanha de Jânio Quadros, e da participação da campanha de mudanças da reforma de base do governo João Goulart, Sergipe entrou no noticiário nacional e cumpriu um papel que coroou sua carreira de parlamentar”, declara Luiz Antonio Barreto.

O historiador levanta uma hipótese interessante sobre a destituição do cargo de governador de Seixas Dória, em 1964, quando da implantação do regime militar. “Acho que a sua punição em 1964 foi menos por sua posição ideológica, e mais pelo que ele incomodou durante anos, fustigando os maus brasileiros que vendiam tudo do país, e que estavam mancomunados com os interesses internacionais.

Seixas Dória (à direita) no primeiro dia da Câmara de Vereadores em 2007

Foi após a leitura do célebre “Manifesto aos Sergipanos”, escrito por Seixas, que ocorreu sua prisão e seu envio para Fernando de Noronha, juntamente com o governador pernambucano Miguel Arraes. Na carta, que entrou para a história de Sergipe, o então governador afirma seu posicionamento político com relação às reformas de base, e se assume favorável às instâncias democráticas.

A carta foi redigida com a ajuda do secretário de Imprensa, João Oliva, e Luís Rabelo Leite, no 1º de abril. “Foi uma noite de afirmação e definição de ideais, uma noite marcante que ficou na história do Estado”, diz João Oliva.

É justamente pela reafirmação das suas idéias e pela resistência em reconhecer o regime autoritário que Seixas é tido até hoje como um político de extrema coragem. “Seixas preferiu manter suas idéias intactas e seu coração ao lado das reformas de base. Preso, exilado, só se sabia dele pelo que os jornais da época podiam noticiar” relata Ivan Valença, jornalista que na época era da Gazeta de Sergipe e hoje é editor do Portal Infonet.

Na volta para Sergipe, Seixas Dória não pôde estar no meio político durante dez anos, tempo em que seus direitos políticos foram cassados. Voltou com o governo de José Sarney, amigo dos tempos da UDN, quando assumiu o cargo de Assessor Especial da Presidência da República. Dória participou ativamente da nomeação do segundo escalão do governo. Foi nessa época que realizou um sonho antigo que consagrou sua carreira: a construção do Porto de Sergipe.

Mesmo não sendo eleito para deputado estadual em 1981 e para senador em 1986, Seixas Dória continua sendo reconhecido como um grande político local. “Ele é a maior referência política do Estado de Sergipe, a figura de projeção nacional preservada ao longo do tempo, marcada pela história, desde 1946, uma unanimidade que honra o Estado e o Povo”, escreveu Luiz Antônio Barreto em seu livro ‘Personalidades Sergipanas’.

Leia Depoimentos sobre Seixas Dória

Veja o Histórico do ex-governador

Por Ben-Hur Correia e Carla Sousa