Comportamento seguro no Trânsito: utopia ou realidade?

Um dos maiores dilemas da vida na sociedade atual é o tema trânsito. Para compreendê-lo, não basta discutir apenas o Código de Trânsito Brasileiro ou mesmo os problemas do cotidiano como congestionamentos e acidentes. Trânsito é muito mais que isso: é preciso analisar como funciona, como as pessoas participam dele – pedestres, motoristas, passageiros -, quais são seus interesses e necessidades. Verdadeira luta pelo espaço, é uma questão social e política. A Psicologia, enquanto ciência, poderá contribuir para a redução de acidentes, atuando no comportamento de motoristas e demais sujeitos que compõem o elemento trânsito. Entretanto, isto só será possível analisando a inter-subjetividade existente, pois é impossível avaliar o estado físico e mental do condutor, sem levar em consideração as sensações e os sentimentos que despertam quando este se encontra em um veículo, em comunicação com outras pessoas, enfim, em contato com o mundo ao redor. Parece prioritário o desenvolvimento de estudos voltados ao conhecimento dos fenômenos envolvidos na situação de trânsito, especialmente àqueles que procuram caracterizar as determinações e os condicionantes da conduta humana no trânsito.

A Psicologia do trânsito procura a compreensão do comportamento dos indivíduos que estudam o fenômeno, objetivando por meio de métodos científicos e didáticos, a formação de comportamentos seguros. Assim, num “simples” estacionamento irregular, o psicólogo poderá analisar o que levou o indivíduo a cometer tal infração, o legislador apontará qual a conduta correta, o estatístico realizará o levantamento de reincidência desse tipo de infração no local, o engenheiro estudará a possibilidade de criação ou ampliação de vagas regulamentadas para atender à necessidade; ao educador caberá a função de tornar os cidadãos mais conscientes e ao publicitário de criar campanhas educativas com o intuito de esclarecer os danos que esse tipo de atitude incorreta poderá ocasionar. Percebe-se, desta forma, que só o trabalho multi-profissional poderá realizar intervenções para a promoção da segurança no trânsito.

Atualmente, quando se ouve falar em psicólogo do trânsito, a primeira idéia que vem à cabeça é a do perito-examinador, responsável pela avaliação psicológica dos candidatos à 1ª habilitação (e agora também à renovação em alguns casos). Entretanto, existe um campo muito vasto de atuação desse profissional em relação ao trânsito, podendo atuar como pesquisador, realizando levantamento de pontos de alto risco nas cidades ou rodovias, com o intuito de mobilizar os órgãos e instâncias oficiais para a solução dos problemas, realizar palestras e cursos ou até mesmo assessorar órgãos ou instituições diretamente ligados ao trânsito, desenvolvendo projetos que visem a prevenção de acidentes, atacando as causas e não apenas tratando suas conseqüências; nas universidades, formando núcleos interdisciplinares sobre o tema, com o objetivo de realizar pesquisas avançadas e assim promover o intercâmbio com os demais núcleos de outras instituições de nível superior.

Poderá atuar nas comunidades de bairro, avaliando com a população quais as dificuldades enfrentadas, como ocorrem os acidentes, qual a qualidade do serviço de transporte coletivo, entre outros, realizando intervenções com alcoólicos e viciados em drogas ilícitas, visto que os efeitos de euforia e aumento de traços de agressividade tem reflexos sobre o comportamento do condutor ao volante; promovendo na área da psicologia hospitalar, terapia de apoio aos acidentados de trânsito e seus familiares assim como trabalhar com a fobia de pessoas que, mesmo sem terem se envolvido em acidentes, não conseguem dirigir um veículo.

A Psicologia tem se preocupado em estudar a Violência no Trânsito, entretanto, é impossível tentar analisar esse problema sem citar a questão da cidadania em nosso país. O exercício da reivindicação por melhores condições de vida passa pela compreensão dos interesses comuns e pela consciência social, num processo lento, que depende do desenvolvimento de uma capacidade critica e de maturidade política. Consequentemente, a conquista da cidadania depende não só do governo, mas também de pequenas modificações nas condutas dos indivíduos, respeitando mais os deveres implícitos no fato de ser um cidadão. Não adianta lutarmos para que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) seja cumprido se somos incapazes de respeitar a devida faixa de pedestres ou mesmo fazer das calçadas estacionamento privativo para veículos. De nada vale desejar a redução dos acidentes se somos a favor do excesso de velocidade nas vias públicas. É evidente que trafegar nas avenidas com a velocidade prevista no CTB não exime o condutor ou pedestre de riscos, entretanto só conseguiremos diminuir a violência no trânsito se compreendermos que o comportamento seguro implica em norma observada em comum acordo pelos usuários, maximizando, desta forma, os benefícios do trânsito e minimizando os riscos deste, para o conjunto da população.

* Colaborador: Marco Aurélio costa Santos – Psicólogo Perito em Trânsito – CRP 03/03269

 

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