Crianças aprendem profissão dos pais

Sâmia e Thiago sabem tudo sobre as famosas queijadinhas de São Cristóvão (Fotos: Portal Infonet)
Sâmia Katrynne Marques da Silva Goes, 12, e César Matheus Santos Goes, 9, são crianças comuns. Possuem uma família, estudam, adoram brincar, têm saúde e uma decisão: seguir a profissão da avó. Quando não estão na escola ou brincando, os irmãos adoram fazer uma coisa que aprenderam desde cedo: ajudar a avó, d. Marieta Santos Gomes, na venda de queijadinhas, balas e biscoitos caseiros, tradicionais no município de São Cristóvão.

Falando com a segurança de um adulto, Sâmia abre um sorriso largo e destaca: “Ajudando a nossa avó, a gente não está nas ruas. Ela nos dá presentes e ensina a dar valor ao dinheiro, a economizar. Sem contar que a gente adora atender às pessoas. Nós não vamos vender nada na rua, ficamos aqui com vovó vendo o trabalho dela e aprendendo do mesmo jeito que ela aprendeu com a mãe, fazendo os

Fabricação de iguaria passa de geração a geração
doces no fogão de lenha”, ressalta.

Indagada pela reportagem do Portal Infonet sobre qual das guloseimas era a melhor, a pequena Sâmia mostrou que tem mesmo o dom para os negócios: “todos são da melhor qualidade. São feitas pela minha avó com muito carinho. Já é uma tradição na nossa família. Ela aprendeu com a minha bisavó, que aprendeu com a tetravó e foi passando o gosto para todos”, relata.

Há muitos anos, as queijadinhas vendidas aqui pelos ricos eram feitas com queijo, mas os escravos não tinham dinheiro para comprar o queijo e tentaram fazer com coco. Deu certo”, informa, mostrando ainda que sabe tudo quando o assunto é a

Edel Ferreira: “Lado lúdico não deve ser neglicenciado”

história da iguaria apreciada por sergipanos e turistas que visitam São Cristóvão.

“Eu também gosto de ficar aqui na vendinha da minha avó. Sempre que chego da escola, corro pra cá. Sabia que já estou aprendendo com Sâmia a passar o troco? É que às vezes os clientes dão um dinheiro grande” afirma o também sorridente César Matheus garantindo não descuidar dos estudos.

Pequenos adultos

Como Sâmia Katrynne e César Matheus, vários pequenos adultos estão espalhados pelo Estado de Sergipe. Eles acompanham os pais no trabalho e muitos acabam escolhendo

Brincadeiras são fundamentais
a mesma profissão. Não podem ser considerados como trabalhadores infantis, o que é proibido pela legislação brasileira.

“Eu adoro ver o meu pai no trabalho dele consertando carros. Se ele deixasse todos os dias eu vinha para o emprego dele. Eu já aprendi que a gente deve ter cuidado com todos os carros que chegam aqui. O serviço deve ser bem feito senão o dono não traz de novo. Eu já sei fazer muita coisa e quero ter a minha oficina. Adoro ajudar meu pai, mas nem sempre ele deixa porque tenho que fazer o dever”, conta João Luis Santana, 10.

Semanada  pode ser usada para comprar brinquedos e lanches
Responsabilidade

Psicólogos entendem em sua maioria, que crianças e adolescentes devem ter responsabilidade desde cedo. A arrumação do quarto, do material escolar, farda, tênis e dos brinquedos, a determinação em cumprir os horários de estudo devem ser feitas pelos pequenos. Quanto ao dinheiro, psicólogos e educadores são unânimes em afirmar que os valores devem ser conquistados por meio de semanadas ou mesmo mesadas, contanto que se ensine a utilizá-los.

“É de fundamental importância que não se negligencie o lado lúdico em prol do aspecto laboral. Claro que é bom lutar pelo dinheiro que se ganha, mas a preocupação é de que mesmo sem ser considerada uma exploração do trabalho infantil, que crianças e adolescentes possam brincar, subir em árvores, enfim ser criança”, ressalta a psicóloga Edelvaisse Ferreira, a Edel.

“Muitas vezes crianças e adolescentes podem até estar se divertindo, aprendendo o trabalho dos adultos, mas há casos em que foram treinados para isso, é um costume na família. É a mesma coisa de crianças que tomam conta de irmãos menores. Há quem admire essa atitude, mas elas não estão preparadas para essa responsabilidade”, acredita.

Lidando com dinheiro

A psicóloga enfatizou ser positivo as crianças e adolescentes saberem lidar com dinheiro. “Mas eles podem aprender a passar troco ganhando uma semanada [espécie de mesada semanal] dos familiares para que o dinheiro possa ser utilizado na compra de lanche, de um brinquedo desejado”, esclarece.

A preocupação dos especialistas em Educação Infanto-Juvenil é de que, enquanto os pequenos estão acompanhando os pais ou outros familiares no trabalho, seja em uma lanchonete, loja, na feira, no escritório, estão deixando de lado o tempo destinado às tarefas escolares e às brincadeiras essenciais ao desenvolvimento emocional.

É bom lembrar que os pequenos personagens dessa reportagem não são obrigados a trabalhar. Eles não cumprem jornada de trabalho e assim não podem ser relacionados a questão da Exploração do Trabalho Infantil. Sâmia, César e João Luis são crianças felizes, que não faltam às aulas, brincam e se divertem como todas as crianças de suas idades. Mas, gostam de aprender a profissão dos familiares e garantem que fazem por amor, não por obrigação.

Por Aldaci de Souza

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