Na manhã de quinta-feira, a cidade amanheceu cheia de boatos: “Chega que a Polícia Federal desencandeou mais uma de suas operações e está prendendo todo mundo!”. Àquela altura, dez horas da manhã, as emissoras de rádio faziam um estardalhaço inacreditável mas só citava três dos poosíveis inúmeros detidos: o filho de um ex-governador (João Alves Neto, diretor da Habitacional Construções), um deputado federal (na verdade, um ex, Ivan Paixão) e um conselheiro do Tribunal de Contas (Flávio Conceição).
A cada momento, chegava notícia de mais gente que foi presa. Foi preso fulano, foi preso sicrano, a Polícia está na porta de beltrano e por aí seguia a seqüência de boatos. Nada se confirmava. Quando falaram no nome de determinada pessoa, bateu o click no escriba: este eu conheço, tenho liberdade de saber se a noticia procede. Bati o telefone prá ele e ainda o encontrei em casa:
– Como é, dr. fulano, tudo bem? É verdade que o sr. está preso?
– Estou sim. Não sei bem porque mas estou preso.
Então, confirmava-se a primeira daquela série de prisões.
– Mas, dá para o sr. me informar o motivo da prisão?
– O motivo eu não sei propriamente.
– Desde que horas o sr. está declaradamente preso?
– Desde ontem a noite quando cheguei para o jantar.
– Ah, então, o sr. foi um dos primeiros na operação só impulsionada hoje pela manhã?
– Se fui um dos primeiros não sei. Mal cheguei para jantar, minha mulher decretou minha prisão: hoje de noite o sr. não vai sair porque o sereno vai lhe fazer mal da gripe que ainda não está curada.
– E hoje, o que aconteceu hoje?
– Não sei. Me preparava para sair, minha mulher decretou nova prisão. “Está dando no rádio que a Polícia está prendendo todo grandola da cidade.” E você sabe, eu sou alto e gordo. Se saísse assim, na rua, a PF não perdoava, mandava me prender logo. Por isso continuo preso em casa.
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Na vera, só foram três os presos. Mas, que três, hein?
Por Ivan Valença
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