Dona de casa denuncia abuso de autoridade policial

Hoje pela manhã, uma moradora do conjunto Fernando Collor fez uma denúncia de abuso de autoridade policial. Respondendo pelo pré-nome Marlene, 34 anos, a denunciante explicou que, no fim da semana passada, havia saído para ir à mercearia e quando retornou à sua residência, constatou que a mesma tinha sido invadida por vários policiais. Marlene relata que eles estavam a procura de um de seus irmãos, que responde pelo pré-nome de Pedro, e que suspeita-se estar ligado ao assalto à agência do Banco do Brasil de Lagarto.

A dona de casa conta que assim que chegou em casa foi algemada por policiais e conduzida até a viatura da polícia. Segundo ela, os agentes eram policiais Civis e usaram de violência para fazê-la contar onde o irmão estava escondido. “Foi horrível. Me algemaram sem explicação, me botaram no carro e começaram a perguntar: – ‘Onde está o seu irmão? Me diga onde você escondeu? Foi na casa de algum vizinho?’ E eu disse que não tinha escondido ninguém, que não sabia onde meu irmão estava”, narra Marlene.

De acordo com o relato da denunciante, os policiais usaram de força bruta e de palavras de baixo calão para intimidá-la. “Me diziam palavras horríveis, apertavam meu pescoço e puxavam o meu cabelo. Todos os três policiais que estavam na viatura me xingavam. Eles diziam: – ‘Se você não disser onde ele está eu vou lhe estuprar. Diga onde ele está?’. Um deles dava tapa na minha cara, tapava minha garganta. Eu estou com uma mancha de sangue no olho e dor no maxilar. Me disseram palavras obscenas e me levaram para a delegacia”, contou a dona de casa.

Questionada se havia contado na delegacia o que havia ocorrido, Marlene respondeu que não. “Eu não disse nada porque tive medo. Eles tinham me dito que eu estava participando de quadrilha e eu estava dentro da minha casa cuidando de minhas filhas. Eu fiquei lá até a advogada chegar. Fiquei detida, algemada como se fosse uma marginal, como se tivesse praticado crime”, diz Marlene. Contudo, ela informa que já fez o exame do corpo-delito e que deu queixa na Corregedoria da Polícia Civil. O marido da denunciante, de pré-nome Wolney contou que foi avisado do fato pelos vizinhos e que a advogada foi conseguida através da ajuda de seu chefe.

“Quando cheguei no Cope, minha esposa estava algemada. O homem que me atendeu parecia uma besta-fera. Ele era bruto, grosso. Tive que ter jeito para falar e só aí ele se acalmou e mandou tirar as algemas”, declarou Wolney, que informou que havia recebido o cunhado Pedro em sua casa na semana anterior e o mesmo teria relatado que estava com medo. Segundo o marido, Pedro teria dito que no dia do assalto teria aceitado fazer um frete até a cidade de Lagarto, mas imediatamente teria retornado a Aracaju. “Quando ele viu a reportagem à noite, reconheceu que um dos presos era o homem que ele tinha levado até Lagarto. Ele disse que estava assustado por causa da polícia e dos bandidos, pois tinha visto o rosto dele”, relatou Wolney.

POLÍCIA – O responsável da Polícia Militar pela operação durante a qual a dona de casa foi presa, o coronel Iunês, esclareceu que não tinha conhecimento da prisão de Marlene. “Não posso dizer nada a respeito porque ela nem na minha viatura estava. Quem estava comigo era o irmão dela, um que trabalha em um motel, que nos acompanhou para indicar onde o Pedro estava. Eu não posso precisar o que aconteceu”, explicou o policial Militar.

O coronel informou que havia um policial destacado para estar à frente da operação por parte da Polícia Civil. Perguntado sobre quem eram os policiais que detiveram a dona de casa, Iunês disse não ter como informar. “Não me recordo porque eram varias guarnições. Eu não posso me responsabilizar pelo que os outros policiais fazem. Se você quer saber o que realmente aconteceu tem que perguntar ao policial que o fez”, disse o coronel.

O superintendente da Polícia Civil, Paulo Ferreira, também comentou o assunto. Segundo ele, não há dúvida de que o caso tem que ser levado à Corregedoria para ser apurado. Ele explicou que só existem duas medidas legais para a prisão de uma pessoa: ou através de um mandato de prisão ou mediante flagrante. E afirmou que esse tipo de comportamento não faz parte de sua postura.

“Eu acho que a Polícia tem que ter a competência de apurar os fatos dentro dos parâmetros legais e estes não envolvem violência e constrangimento, ainda mais, a um inocente, que parece ser o caso dessa moça”, declarou o superintendente, que disse que antes de se afirmar alguma coisa é preciso que o caso seja apurado.

Ferreira respondeu ainda à família da denunciante, que solicitava proteção. “Essa questão de garantia é muito complicada. Todas vez que se tem uma situação como essa, nós ficamos em posição embaraçosa. O que posso garantir é que qualquer tentativa de intimidação será punida. Denunciar esse tipo de coisa é direito de qualquer cidadão, temos é que apoiar e valorizar esse tipo de postura, partindo do pressuposto de que ela está com a razão”, disse o superintendente.

O comandante da Polícia Civil finalizou garantindo que o caso vai ser apurado. “Eu conheço o João Eloy, que comanda o Cope e sei que ele prima pela técnica e não tem um histórico de tortura. Sei que ele, bem como eu e a secretária de Estado da Segurança Pública, Georlize Teles, apoiará uma apuração rigorosa”, finalizou Ferreira, em entrevista ao programa “Fala Sergipe”, da rádio Atalaia AM.

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