Donos de prédio na Coroa do Meio são indiciados

Resgate durou 36 horas (Foto: Arquivo Portal Infonet)

Os proprietários [Luzinaldo Tadeus do Nascimento – Aldo – e Edna Barreto Ferreira], do prédio que desabou em 19 de julho de 2014 no bairro Coroa do Meio, foram indiciados juntamente com o engenheiro responsável pela obra, Antônio Carlos Barbosa de Almeida. O delegado de Turismo, Valter Simas concluiu o inquérito na última sexta-feira, 31. Eles responderão na Justiça pelos crimes de homicídio culposo qualificado [em virtude da morte do bebê de oito meses] e lesão corporal culposa [por conta dos ferimentos aos pais] e podem pegar até quatro anos de prisão.

Na manhã desta segunda-feira, 2, o delegado Valter Simas, informou durante coletiva de imprensa, que o inquérito foi encaminhado à Corregedoria de Polícia que entregará ao Poder Judiciário.

“Nós resolvemos indiciar três pessoas: o engenheiro da obra, o proprietário e sua esposa que administravam a obra e o condomínio. Como uma pessoa faleceu e outras duas ficaram lesionadas, todos os três foram indiciados por homicídio culposo e lesão corporal culposa. O laudo da criminalística feito em parceria com o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), aponta erros grosseiros no projeto. O pilar P 8 se rompeu por não aguantar o peso e em função disso todo o empreendimento veio a colapso”, explica o delegado.

Delegado Valter Simas fala sobre o laudo pericial

Valter Simas deixou claro que no projeto original, independente de ter tido acréscimo de mais um andar do que o previsto, o andar original já aponta que o pilar não resistiria o peso.

“Outro fato que contribuiu para o desabamento foi o concreto. Não era feito o controle tecnológico do concreto para auferir a resistência e a qualidade. O concreto era feito na própria obra. Como o pilar desmoronou, todo o empreendimento entrou em colapso e veio ao chão”, ressalta acrescentando que o inquérito foi concluído após uma análise minuciosas e a ouvida de várias pessoas, a exemplo dos proprietários do empreendimento, do engenheiro, de funcionários e vizinhos.

“O procedimento vai ser remetido ao Poder Judiciário e o Ministério Público vai decidir se vai promover ação penal contra os três pelos crimes. Para a polícia, há indícios sim do crime de homicídio e de lesão corporal e com isso, os três deveriam responder”, entende.

Acompanhamento

Quanto às informações à época dando conta de que o engenheiro Antônio Carlos tinha se desentendido com o dono, o Sr. Luzinaldo e deixado a obra sem dar baixa no Crea, o delegado foi enfático:

“O engenheiro é um só. Houve erros da elaboração, que foi o erro do pilar que não aguentaria o peso da obra e na execução do projeto a exemplo do concreto que era feito de forma a não resistir o peso. Ele alega ter sido contratado apenas para elaborar o projeto, mas todos os funcionários confirmam que apesar de não ir todos os dias à obra, aparecia duas ou três vezes e que o próprio Luzinaldo ligava para o engenheiro, fato confirmado por Luzinaldo. O fato de ter sido erguido mais um pavimento foi algumas das causas para o desabamento.  Essa versão do engenheiro não é corroborada pelas provas trazidas aos autos, então nós temos convicção do seu indiciamento”, explica.

O delegado Valter Simas acrescentou ter apurado não ter sido a primeira obra que os donos faziam em parceria com o mesmo engenheiro.

“Eles fazem empreendimentos para vender e para a locação. O Aldo afirma que todos os traços que traçava, consultava o engenheiro antes, o engenheiro acompanhava a obras, apesar de não ir diariamente, mas ia durante três ou quatro vezes à obra e se comunicavam por telefone. Isso não isenta a responsabilidade do o Aldo, pois ele sabia que não foi feito projeto para o quarto pavimento, sabia que não foi feito o controle tecnológico do concreto. Quando o engenheiro não estava, ele tocava a obra como se engenheiro fosse e ele não tem formação em engenharia civil. Ele dava ordem direta aos funcionários”, diz.

E sobre a participação da esposa de Aldo, o delegado destacou que todos os registros no Crea são em nome de Edna Barreto Ferreira. “A senhora Edna embora comparecesse pouco na obra, todos os registros junto ao Crea, do terreno e do empreendimento são em nome desta. A senhora Edna sabia que o engenheiro não ia todos os dias e que seu marido tocava a obra. Ela sabia de todas as irregularidades inclusive que foi feito mais um pavimento do que o previsto, sem outro projeto e novos cálculos. Todas essas questões contribuíram para que aquela criança morresse”, finaliza.

Relembre

Na madrugada do dia 19 de julho de 2014, o pedreiro Josevaldo da Silva, 24 dormia no prédio em construção com a esposa Vanice de Jesus, 31 e os filhos A.G.J. de oito anos e o pequeno Ítalo Miguel de Jesus, 11 meses, quando o prédio de quatro andares desabou. Eles passaram 34 horas nos escombros, após resgatados por equipes do Corpo de Bombeiros e socorridos por equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o menino morreu a caminho do hospital. Os pais e a irmã foram atendidos no Hospital de Urgência de Sergipe (Samu).

Por Aldaci de Souza

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