Eleições UFS 2004: Napoleão defende democratização da UFS

Mesmo sem o calendário eleitoral definido, a eleição para reitor da Universidade Federal de Sergipe, em 2004, está movimentando a discussão entre a comunidade universitária. Três candidatos disputam a corrida pela administração do Campus e da vida acadêmica na única universidade pública do Estado. São eles: professor Napoleão dos Santos Queiroz, professor Jorge Carvalho e o atual vice-reitor, professor Josué Modesto Subrinho. Neste ano, se aprovado pela Assembléia Geral Universitária, a votação será paritária, isto é, os votos de professores, alunos e servidores técnicos terão o mesmo peso. A proposta foi acatada pelos docentes, em uma assembléia realizada no final de março, mas ainda não tem data marcada para ser avaliada pelo fórum maior da universidade. Só após esta definição, serão nomeados os membros da Comissão Eleitoral – tudo indica que serão 12 pessoas, entre titulares e suplentes. Cada categoria (docentes, discentes e técnicos) deve indicar seus representantes, quatro no total. A partir daí será discutido o calendário eleitoral e a data da eleição, que provavelmente acontece no final de julho. Até agora, só os professores indicaram os nomes dos quatro membros que devem compor a comissão. Mas enquanto as datas não saem, os grupos que apóiam as três candidaturas articulam as campanhas e projetos eleitorais. O Portal InfoNet entrevistou os três candidatos e apresenta, a partir de hoje, as plataformas que cada um defende. A primeira entrevista a ser publicada é como o professor Napoleão dos Santos Queiroz. Confira: PORTAL INFONET – O senhor poderia descrever seu perfil e falar sobre sua formação. NAPOLEÃO QUEIROZ – Nasci em Maruim, sou casado, pai de dois filhos. Estudei o primário no Colégio Jackson de Figueiredo, e da 5ª série ao 3º ano do 2º Grau, no Atheneuzinho e no Colégio Estadual de Sergipe. Sou graduado em administração pública pela Escola de Administração da UFBA. Fiz mestrado em administração pública pela Fundação Getúlio Vargas e estou concluindo o doutorado pela UFBA. Tenho especialização em metodologia do ensino superior, também pela Fundação Getúlio Vargas. Gosto de jogar futebol, assistir bons filmes e ler um bom livro. Na década de setenta, fui um dos finalistas no I Concurso da Poesia Falada do Nordeste. Como candidato, identifico que essas importantes áreas lúdicas e culturais têm merecido maior destaque no Contexto da UFS, quadro que pretendo reverter apoiando o desenvolvimento de práticas desportivas e a criação de cursos de graduação em artes plásticas, teatro, música e cinema. Dentre os cargos que ocupei na UFS, destaco: chefe de departamento e presidente de colegiado do curso de Administração, diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – CCSA -, coordenador de modernização administrativa, além de ter sido membro dos conselhos de ensino da pesquisa – Conep – e do Conselho Universitário – Consu. PORTAL INFONET – Existe uma linha que caracterize campanha da chapa “Novos Tempos”? NAPOLEÃO QUEIROZ – Acredito que a característica de nossa luta é a posição contrária ao continuísmo, representado pela atual administração, inclusive pelo vice-reitor, que é o candidato da atual administração, e do outro candidato que votou duas vezes no continuísmo, além de fazer parte da atual administração. Então, nesse caso, eu sou o único candidato realmente de oposição ao que está aí. PORTAL INFONET – Quais as principais propostas da chapa que o senhor encabeça? NQ – Dentre as propostas que destacamos está a inovação da gestão universitária e a busca de fontes de financiamento voltadas para a universidade pública e gratuita. Queremos encontrar novas alternativas para a expansão da educação superior pública em Sergipe, a exemplo da defesa da criação da Universidade Estadual de Sergipe – a Uese. Justifico essa postura porque vamos apresentar, além dessa proposta, outras para expandir o ensino público considerando a necessidade de gerar uma contrapartida na expansão que ocorreu, desde a gestão de FHC, do ensino privado. A única forma é buscar equilibrar essas duas condições em Sergipe. O terceiro ponto que queremos fortalecer e ampliar é o Campus da Saúde, visando atender as demandas, dificuldades e precariedades que hoje enfrentam todos os cursos da área, instalados no nosso Hospital Universitário. Nós também destacamos outras medidas que achamos relevantes, como: buscar a redemocratização da universidade, através de uma administração participativa – que leve os departamentos e centros contribuírem efetivamente nos destinos da instituição. Hoje, a forma da universidade definir seu planejamento estratégico é feito diretamente nos órgãos relacionados à Reitoria e queremos que os departamentos e centros definam as próprias prioridades, para que possamos trabalhar com a possibilidade de um orçamento participativo. Essa é a nossa preocupação. Essa administração participativa implica na participação efetiva de professores, servidores e estudantes. Seja bem claro que nosso lema de campanha “Novos tempos” tem como objetivo acolher e valorizar toda comunidade universitária. PORTAL INFONET – Dentre os problemas que a Universidade Federal de Sergipe enfrenta, o senhor poderia apontar três que considere mais graves e as respectivas propostas para solucioná-los? NQ – O primeiro problema que aponto é o da necessidade de se redemocratizar a UFS. E isto é bastante difícil devido os estatutos e regimento geral da universidade estarem caducos e virem do período do militarismo. Então, realmente precisamos lidar urgentemente com essa situação. Temos, como prioridades, que a comunidade universitária participe na reelaboração desses estatutos dentro da nossa gestão. Outro ponto que acho importante é que a atenção que vem sendo dada pela universidade para a área de Cultura deve ser revista. Nós pretendemos redimensionar e reestruturar o Cultart, acolhendo e valorizando a criação dos cursos de graduação em Artes Plástica, Teatro, Música e Cinema. É lamentável perceber que universidade vem fazendo muito pouco pela cultura do nosso Estado. Até esse momento foram raras ações desenvolvidas no setor. Por isso pretendemos tomar um posicionamento sobre esse espaço. Quando eu tratei de redemocratizar, significa democratizar as instâncias decisórias da UFS. Outro ponto é que a política de ensino, pesquisa e extensão, e pós-graduação, estão muito mal dimensionadas. Precisamos ampliá-las. PORTAL INFONET – Atualmente, as universidades públicas têm lançado mão da contratação de professores substitutos para suprir vagas não cobertas por concurso público. Como o senhor encara essa questão? NQ – Esse problema tem que ser enfrentado não só pelo reitor. E esse enfretamento implica em uma posição completa de luta em prol da abertura das vagas dos professores que estão aí, sendo necessárias e que o reitor tem que assumir um compromisso em relação a este problema. Ele tem que ter uma postura política, inclusive em defesa do movimento docente, que vem pleiteando junto ao Governo Federal, a criação de concursos públicos. Em relação aos substitutos, eles têm desenvolvido um trabalho pertinente e importante. Porque parte substantiva desses professores realmente são pessoas que têm conhecimento, e os alunos têm observado que muitos desses professores apresentam um excelente nível de desempenho. E a maioria deles aguarda a abertura de concurso para que sejam efetivados. Mas a nossa chapa tem outras medidas que trazem a valorização do segmento docente. Não temos, atualmente, um programa concreto para a pós-graduação, inclusive com apoio dentro da própria instituição. Então é importante dentro dessa situação abrir espaço para que o professor seja valorizado. Existe um problema que nós observamos internamente, em função do quadro conjuntural, que é a necessidade de um apoio efetivo ao trabalho que o docente desenvolve. E isso nós vamos procurar resgatar. A questão da dignidade do professor e também do servidor. Nós queremos uma universidade integrada e que as pessoas possam participar dela mostrando toda a sua capacidade de trabalho. São talentos dentro da instituição aos quais a administração atual não tem dado o devido valor. Nós queremos acolher e valorizar nossos servidores, professores e estudantes. Esta é uma posição concreta de nossa chapa. PORTAL INFONET – O senhor acredita que a política de valorização também estimularia a diminuição das greves nas universidades públicas? NQ – Essa é uma questão que transcende os limites da universidade. Agora, o reitor tem que estar plenamente consciente de que foi eleito pela sua comunidade e que tem de assumir um compromisso frente à mesma. Ele deve enfrentar, questionar e propor medidas para resolver o problema. Mas, é claro que compete ao Governo Federal, e boa parte dos problemas gerados por política docente é responsabilidade dele, a solução definitiva sobre esse assunto. Um exemplo claro dessa situação e que o motivo das greves foi o descompromisso do Governo FHC com as universidades públicas. Foi uma administração que se comprometeu abertamente com a expansão do ensino privado. PORTAL INFONET – O senhor defende a união das instituições de ensino superior da rede pública. NQ – Sim. Toda a sociedade sabe que existe um consenso da importância das universidades federais e nós precisamos ampliar a união entre as mesmas. Nós propomos, por exemplo, a nível nacional, a institucionalização de uma rede federal de ensino superior que implicaria em uma concreta de mudança, e o Governo Federal tem a obrigação de entender que nós não estamos tratando no Brasil de um único modelo de universidade. Nós temos vários modelos e um deles, o vitorioso, é o de universidade pública. Este modelo toda a sociedade brasileira defende. Se há um consenso nacional da importância dessas instituições, então é hora do Governo reconhecer esta posição e não tratar no mesmo pacote concepções de universidades que são diferentes. Claro que as universidades privadas são importantes, mas a questão da universidade pública é crucial para o desenvolvimento do nosso país.Ela tem um compromisso declarado. Boa parte de nossas pesquisas do país está na universidade pública. PORTAL INFONET – Existe alguma ligação de sua chapa com algum partido político? E quem banca a campanha? NQ – Não tenho vinculação partidária. Acho que o reitor de uma Universidade Federal tem que ser multipartidário. Ele tem que acolher e valorizar todos os partidos políticos, porque na hora que a universidade pública precisar, ela deverá contar com todos, afinal a universidade é de toda a sociedade, então o reitor não pode estar comprometida com um segmento político, porque aí estaria retirando, cerceando o direito de todos, da liberdade e democracia. Um dos nossos projetos é acolher todos os partidos e valorizar todos os programas partidários que venham a contribuir para o desenvolvimento e fortalecimento da nossa universidade. Quanto ao financiamento da campanha, é uma coisa bem clara: temos tirado recursos de amigos que estão nos ajudando. Praticamente o candidato, sozinho, tem bancado as primeiras etapas da campanha, com nosso salário, porque não temos financiamento de ninguém. A comunidade dá para perceber que esta é uma campanha pobre de recursos. Contamos também com o apoio que a mídia, que está nos dando abertura. PORTAL INFONET – O Governo Federal já mandou para o Congresso Nacional o projeto “Universidade para Todos”, que propõe o financiamento de vagas ociosas das universidades particulares para abrigar alunos carentes, excedentes das universidades públicas. Como o senhor encara esta proposta? NQ – Percebemos que ainda é dúbia a relação do Governo Federal com a universidade pública. O que se há é uma proposta que foi anunciada de reforma universitária que está realmente preocupando toda a comunidade universitária e que, nós temos a convicção de, pelo fato de não estar efetivamente declarada, gera uma posição de desconfiança. Nossa chapa comunga com a posição da comunidade e estamos olhando com muita reserva a proposta, que ninguém sabe ainda qual é, de reforma universitária. Ao mesmo tempo, em relação a expansão de vagas na rede privada, acho que o Governo teria que se voltar mais para aquilo que defendemos, buscar novas alternativas para a expansão da educação superior pública. Esta é nossa bandeira. PORTAL INFONET – A proposta da chapa “Novos Tempos” contempla a criação de novos cursos? NQ – Certamente. Uma das propostas que defendemos é a criação de novos cursos, principalmente aqueles que, atualmente, só existem no Estado através da rede privada. Faremos questão de ressaltar, perante o Governo Federal, a urgência que se faz na criação de mais vagas e cursos. Com relação rede federal, vamos mostrar e batalhar para que ela funcione e possa envolver políticas de intercâmbio para professores, estudantes e servidores. Vou dar um exemplo claro: porque um aluno nosso não pode passar seis meses no Rio Grande do Sul, fazendo disciplina na universidade de lá? Porque agora, no período de Verão, alunos, professores e servidores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul não podem aproveitar o ensejo e vir para o Nordeste transferir tecnologia, difundir conhecimento, se envolver com os problemas da nossa instituição? Temos que pensar a universidade de uma forma extra-muros. Estamos considerando pensar local, mas numa perspectiva de levar todas essas ações de forma global. Com certeza, a nossa universidade ficará mais visível e terá uma projeção muito maior do que ela tem neste momento.

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