Médica acusada de mandar matar advogado denuncia abusos e agressões

Após prisão por suspeita de encomendar a morte do marido, o advogado Lael Rodrigues, a médica Daniele Barreto apresentou uma carta relatando abusos verbais, físicos e sexuais praticados pelo advogado. O teor da carta escrita à mão foi divulgado nesta quinta-feira, 21, com exclusividade, pelo jornal O Globo, em uma reportagem de Ulisses Campbell.

Em trechos das cartas, a médica relatou que sofreu agressões verbais, com xingamentos constantes, e diversas formas de violência física, além de abusos sexuais. Daniele destacou agressões como tapas e murros no corpo e rosto, além de puxões de cabelo, arrancando tufos.

Nos relatos, Daniele afirma também que o marido costumava gravar vídeos com câmeras escondidas, incluindo estupros praticados contra ela. “Peguei na galeria de fotos do celular cenas de estupro com sexo oral na minha boca. Fotos e vídeos de ejaculação no meu rosto e seios”, relatou a médica.

Além dos abusos, a cirurgiã alegou o envolvimento do marido em crimes como compra ilegal de armas de fogo, homicídios, tentativa de tráfico de drogas e planos para aplicação de golpes, além de transações utilizando os dados da mãe de Daniele sem o seu conhecimento.

“Às vezes, apareciam inúmeros carros que segundo ele foram ‘comprados’, não sei a procedência e sempre envolvido com estelionatários”, explicou Daniele ao relatar alguns dos envolvimentos criminosos de Lael.

Ainda conforme as cartas, a médica chegou a enviar provas de agressões físicas, como uma foto do rosto espancado em 2018, para dois conhecidos, além de vídeos de estupros e agressões para uma amiga advogada. 

Ao fim dos relatos, Daniele explicou que o casal tinha costume de ir ao açaí no qual Lael esteve no dia da sua morte, relatando que já foram diversas vezes ao local e que o advogado sempre trazia para ela.  Nas investigações, a polícia afirmou que ele foi morto após sair para comprar um açaí, pedido feito pela própria esposa, e que ela teria informado a localização dele aos executores.

Além disso, Daniele questionou a acusação de ter encomendado a morte do marido, afirmando que estava planejando uma viagem com Lael, o filho e amigos do casal. “Como eu planejaria matá-lo? Eu comprei em agosto ou setembro uma viagem para Dubai: eu, ele, Gabriel, Tenisson e Mateus (amigos)”, afirmou.

Acusações

Nos relatos, Daniele também respondeu às acusações feitas por Rosane Rodrigues, irmã de Lael, durante coletiva de imprensa que detalhou as investigações. 

Na ocasião, Rosane afirmou que a cirurgiã havia mandado uma empresa limpar um sofá e cadeiras para tirar o cheiro do advogado. Na carta, a médica explicou que o sofá estava com manchas de tinta verde, deixadas após seu marido pintar o rabo do cachorro, e que as cadeiras estavam sujas de alimentos.

No decorrer das falas, a irmã de Lael também questionou o fato da viúva ter alugado uma casa de praia. Nos relatos, Daniele explicou que não aguentava ficar relembrando os momentos com o marido e que uma amiga havia oferecido que ela passasse finais de semana na casa de praia da tia.

“Uma tia disponibilizou a casa para passar o fim de semana. Era na praia, mas em momento nenhum, eu saí, meu filho tomava banho de piscina e jogava bola, enquanto eu sofria meu luto dentro da casa”, relatou.

O caso

Segundo a SSP, o advogado criminalista José Lael de Souza Rodrigues Junior foi morto em uma ação planejada pela esposa, Daniele Barreto, e por uma amiga dela. A motivação seria desconfianças sobre uma relação da esposa com pessoas próximas a ela, além de supostas questões relacionadas a valores financeiros em torno de um possível divórcio. A vítima foi morta após sair para comprar um açaí, pedido feito pela própria esposa, no dia 18 de outubro.

A defesa de Daniele tentou reverter a situação, no intuito de obter o benefício da prisão domiciliar, alegando que a médica mãe de uma criança de 10 anos e possui diversos pacientes, em estágio de pós-operatório, que dependem de suas orientações e cuidados. No entanto, a Justiça decidiu por manter a prisão da cirurgiã.

 

Por Carol Mundim e Verlane Estácio