‘Eu não mereço ser estuprada’ invade as redes sociais

Sheila Souza mostra indignação (Foto: Arquivo Pessoal cedida ao Portal Infonet)

Resultado da pesquisa não agrada (Foto: Ipea)

A recente pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) tratou a questão da Tolerância Social à Violência Contra as Mulheres dando conta que a mulher é culpada pela violência sexual quando ela não sabe se comportar. A pesquisa aponta que 58,5% dos entrevistados tem a ideia de que “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros” (58,5%).

A noção de que a mulher merece e deve ser estuprada para aprender a se comportar e de que os homens tem livre acesso aos corpos das mulheres se elas não impuserem barreiras, como se comportar e se vestir “adequadamente” gerou a campanha nas redes sociais ‘Eu não mereço ser estuprada’.

Redes sociais

Milhares de mulheres postaram nas redes sociais fotos com placas onde mostram total indignação as opiniões demostradas na pesquisa. Em Sergipe, a reação não foi diferente. “A motivação veio do entendimento que somos mulheres independentes, mães, namoradas, esposas, profissionais e com um papel social também. Temos um compromisso com uma sociedade que precisa derrubar alguns conceitos deturpados e preconceituosos. Vestimos aquilo que nos agrada e não admitimos julgamentos por isso”, relata Kildane Guedes, que postou uma foto junto a amigas para protestar.

Vítimas de violência

Em 2012, as irmãs Sheila Souza e Carla Christine Fonseca sofreram uma violência brutal quando deixaram uma casa de shows na capital sergipana. A violência sofrida por dois homens motivaram as irmãs a manifestar a indignação nas redes sociais.

“Eu e minha irmã fomos agredidas fisicamente em outra situação por não aceitarmos uma cantada. Um absurdo. Também por isso, não poderíamos ficar alheias a mais essa manifestação pelo respeito que toda mulher merece”, lembra Sheila Souza.

“Soube dessa campanha por meio do Facebook. Resolvi participar e apoiar as mulheres/homens que passaram por estupro ou algo que poderia ter levado às vias de fato. Principalmente porque as vítimas se culpam pelo acontecido. O corpo é nosso. Temos direito até de "alugar" por alguns momentos, se assim decidirmos, mas a decisão é nossa. Nenhum outro ser humano pode se apossar sem consentimento, imagine violentamente”, diz Carla Christine.

Indignação

Kildane Guedes e amigas apoiam campanha nas redes sociais (Foto: Arquivo Pessoal cedida ao Portal Infonet)

Carla Christine foi vítima de violência física em 2012 (Foto: Arquivo Pessoal cedida ao Portal Infonet)

A psicóloga Cristiana Almeida Costa

Sheila Souza vai além e diz que ficou indignada com o resultado machista da pesquisa. “Sou uma pessoa que não consigo ficar inerte a essas questões. Não consigo não me manifestar. Além de ser participativa, instiguei minha irmã e minha mãe a fazerem a foto também. Um absurdo nos dias de hoje ainda acharem que a roupa (ou a falta dela) é um pedido de estupro, um pedido gratuito de violência”, reforça.

Análise

A psicóloga Cristiana Almeida Costa acrescenta que antes de tudo é necessário entender que a vestimenta ou o comportamento de uma mulher não são fatores determinantes para um estupro.

“O estupro é um ato criminoso ocasionado por indivíduo com personalidade distorcida e com forte tendência para cometer tal crime. Façamos uma reflexão: se fosse a roupa que uma mulher usa ou os seus comportamentos que predeterminassem o estupro, crianças, homens e mulheres de burca provavelmente não seriam vítimas desse crime, não é verdade? É necessário rever os valores e conceitos que estão inseridos de forma tão contundentes na sociedade”, ressalta.

A psicóloga entende ainda que outro fator que não se pode deixar de analisar “é a evolução tecnológica, cultural e social em que vivemos de forma tão ávida e exposta, que causam transformações na vida de todos os sujeitos e que essas mudanças muitas vezes geram dificuldades para nossa identificação, criando inúmeras barreiras em nossas relações sociais”, observa Cristiana Almeida, ao passo que enfatiza que o artigo 5º da Constituição Brasileira, rege que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza e com direito à vida, à liberdade, à igualdade, etc.

Quanto a campanha nas redes sociais Cristiana Almeida Costa frisa que é importante defendermos aquilo que acreditamos.

“Isso faz parte da nossa evolução como sujeitos e como cidadãos. Em segundo, é um momento interessante para colocar a sociedade para refletir sobre o que a ronda intimamente. Ressaltando que cada um é responsável por suas decisões, sendo homem ou mulher. Não estamos aqui para julgarmos uns aos outros, mas para respeitarmos os direitos e limites de cada um”, conclui.

Por Kátia Susanna

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