Famílias do Aloque sentem-se abandonadas

Povoado enfrenta os mesmos problemas há pelo menos 30 anos (Fotos: Portal Infonet)

Quando se chega ao Povoado Aloque, localizado após o conjunto Santa Lúcia, a impressão é de que se está em uma pequena vila de interior em uma cidade bem distante da capital. As ruas ainda são de terra e o esgoto escorre a céu aberto. O acesso é por uma pista com mato dos dois lados. Se há a sensação de insegurança durante o dia ela se intensifica à noite, pois nesse trecho não há sequer uma lâmpada nos postes que levam a rede elétrica.

Os problemas se arrastam há pelo menos 30 anos, de acordo com um dos moradores entrevistados que se disse filho dos fundadores do Povoado. Além das dificuldades com transporte e saneamento básico, as famílias temem o avanço das drogas, em especial o crack, que segundo relatos é vendido ‘de porta em porta’. “Cobram tudo de nós, mas nós não temos nada”, lamenta a dona de casa Maria Silva Leite, 18 anos.

Acesso ao Povoado é cercado de mato e sem iluminação

O único microônibus que atende à comunidade tem limites de horário que impossibilitam aos moradores saírem de casa antes das 6h e depois das 20h. “Ou a gente tem que caminhar 15 minutos até o Santa Lúcia, por um caminho escuro, onde todos que moram por aqui já foram assaltados”, relata a jovem. Ela diz que a situação já foi bem pior, pois os ônibus só passaram a circular no local há dez anos. “Antes só chegavam até a primeira casa do povoado”, acrescenta Maria. Depois das chuvas que caíram na capital, no mês passado, a comunidade ficou sem transporte público por três dias.

Posto de Saúde

No posto de saúde localizado dentro da comunidade, a também dona de casa Claudineide dos Santos Ramos, que vive no Aloque há dois anos, diz que faltam materiais básicos para o atendimento. O atendimento médico só é realizado uma vez por semana. “Quando há alguma emergência nós temos que ir ao posto do conjunto Sol Nascente, mas eles nos atendem mal, porque ‘nós somos do Aloque’”, denuncia.

Apenas um ônibus faz o transporte de passageiros para a comunidade

Ela também reclama que as ambulâncias do Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu) não entram no povoado. A recusa, segundo Claudineide, vem a partir da Central de Atendimento. “Eles dizem que só vêm se for tiro ou facada. Outro dia precisei de uma ambulância, mas não vieram. Meu marido me levou de bicicleta até o Sol Nascente e lá no posto policial eu pedi socorro”, disse.

Descaso

O posto de saúde funciona no prédio que abrigava uma escola municipal. Lá estavam hospedadas duas famílias que perderam as casas com as chuvas. Uma das moradoras, a feirante Maria Adelaide dos Santos, teve a casa destruída no dia 24 de maio e desde então foi alojada no local. Quando o Portal Infonet esteve no local ele ainda aguardava a visita de uma equipe da Secretaria Municipal de Assistência Social de Cidadania (Semasc), mas essa nem era a maior das reclamações.

"Aqui falta tudo", diz Maria Adelaide dos Santos, que perdeu a casa com as chuvas

“Aqui falta tudo. A gente vive no meio da imundice, não temos assistência alguma. Estamos esquecidos. Entra prefeito e sai prefeito e nada muda”, exclama. Ela também reclamou da pista de acesso ao Aloque, que causa medo a todos os moradores. A filha mais velha dela, inclusive, foi estuprada no ano passado. “Ela estava voltando do trabalho e vinha a pé pela pista, ofereceram uma carona e ela, com medo de vir no escuro, aceitou, aí se aproveitaram”, lembra.

A família, que vive com apenas um salário mínimo, recebe contas de energia elétrica com valores altos. A última cobrava R$ 107,65. Como só possui uma geladeira e uma televisão, Adelaide não sabe o porquê de o valor ser tão alto. “Quando reclamei veio R$ 90, mas depois subiu de novo. É muito caro, mas se a gente não pagar fica sem”, lamenta.

Insegurança

Presidente da Associação de Moradores contesta algumas das denúncias

O presidente da Associação de Moradores do Povoado Aloque, Moisés Santos, preferiu minimizar os problemas relatados até aqui. Ele disse que a questão dos ônibus vai ser resolvida junto à Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT). O órgão informou que a demanda é pequena, mas os horários já foram ampliados: agora há ônibus das 6h20 às 22h. A possibilidade de colocar mais um veículo para circular na comunidade vai ser estudada.

Moisés negou que as ambulâncias do Samu se recusem a entrar no Aloque. Ele disse, ainda, que o posto de saúde funciona normalmente, mas reconheceu que o local sofre com a falta de segurança. A venda de crack, segundo ele, é o mais preocupante. “Precisamos urgentemente que a polícia faça mais rondas”, reclamou. Ele disse que o Povoado abriga traficantes e que a droga é “vendida de porta em porta”. Enquanto fazia essa declaração ao repórter, um homem passou ao lado de Moisés e o xingou, mas ele preferiu não comentar quem seria e decidiu encerrar a entrevista.

Outro lado

Maria Silva Leite reclama dos horários de ônibus

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que não pode divulgar investigações em andamento, mas que a polícia atua no combate ao tráfico de drogas em toda a capital e na região metropolitana. O órgão informou, ainda, que qualquer pessoa pode fazer denúncias através do telefone 181.

A Energisa disse que já havia feito testes no medidor da casa onde vivia a família da feirante Maria Adelaide, mas não foi constatada nenhuma anormalidade. A assessoria do órgão confirmou que para o perfil da região, o consumo é anormal. Uma nova verificação foi feita após o contato do Portal Infonet e constatou-se que mesmo a casa tendo sido destruída e a família estando alojada em outro local, o relógio medidor continuava funcionando.

“Se a família não está no imóvel, alguém está usando”, explicou o assessor da empresa, Augusto Aranha. Ele disse que é possível pedir o desligamento do contador ou mesmo solicitar que o relógio seja retirado para fazer novos testes.

Com relação às famílias alojadas na antiga escola municipal, a assessoria de comunicação da Semasc informou que existe a consciência do problema e que a Prefeitura irá prestar o auxílio necessário. Por causa da necessidade emergencial de outras áreas de risco, no entanto, o órgão informa que elas terão que aguardar 'mais um pouco'.

O Portal Infonet entrou em contato com a assessoria de comunicação da Companhia de Abastecimento e Saneamento de Sergipe (Deso) para tratar da questão do saneamento básico do Povoado Aloque, mas até o fechamento desta reportagem o órgão não havia se pronunciado.

Por Diógenes de Souza

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