Às 6h ele já está celebrando a primeira missa do dia da Igreja São Judas Tadeu, no bairro América, em Aracaju. Às tardes, por conta de seqüelas de um acidente vascular cerebral (AVC), Frei Miguel já não sai mais caminhando às ruas da cidade, a visitar doentes, solitários e dar bênçãos, mas ainda ouve as confissões de quem vai até ele. A longa barba é uma das marcas de Frei Miguel
Durante muitos anos ele fez essa peregrinação diária, por isso, é difícil encontrar na capital sergipana quem não tenha visto a figura um pouco encurvada do frade de barbas longas e hábito franciscano. Nascido em 30 de outubro de 1908, em Cingoli, na Itália, com o nome de Serafim Césare, ao ordenar-se escolheu o nome de Frei Miguelângelo de Cíngole, mas acabou sendo rebatizado pelos brasileiros como Frei Miguel.
Chegou ao país em 1935, por “um ato de caridade”, como ele mesmo explica. A Bahia há muitos anos não recebia novos frades capuchinhos e os que estavam lá, já se demonstravam cansados. “Vim para acudir esses “velhos”, porque tinha pena deles”, conta. A princípio, o frei pensava em “dar um passeio no Brasil”, mas foi bem acolhido e está no país há mais de 70 anos.
O confessor
Muitos são os fiéis que procuram as bênçãos das mãos suaves do Frei Miguel. E ele aceita pedidos vindos de todas as pessoas, de qualquer classe social. “Não quero saber nem o nome, estou sempre às ordens”, afirma com um sorriso. Também incontáveis são os batismos, extrema unção, casamentos e confissões que ele já realizou na cidade. Aos cem anos, ele ainda celebra missas e ouve confissões
“A vida ensina o pai nosso”, sorri com humildade. Quando perguntado por que tantos o procuram como confessor, Frei Miguel responde com uma palavra: “Acolhida!”. Explica ainda que quando alguém chega para se confessar, ele recebe como se fosse um amigo. “É um sacramento muito delicado, por isso é preciso saber cativar. Não pode fazer cara feia”, acredita.
O frei diz que é a boa acolhida que também faz com que o Centro de Assistência Social da paróquia, comandado por ele durante muitos anos, receba tanta gente. “O pessoal foi chegando e nós fomos acolhendo com carinho e amor”, explica com simplicidade.
O engenheiro
Quem conhece a figura um tanto frágil de Frei Miguel, apoiado em sua bengala, talvez não consiga imaginá-la como engenheiro civil, comandando a construção de uma das maiores igrejas de Aracaju. Mas foi ele mesmo quem esteve à frente da edificação da Igreja de São Judas, junto com o mestre de obras e o frei Faustino, que buscava as verbas para a construção. Frei Miguel ajudou a construir a Igreja de São Judas Tadeu
“Não houve aborrecimento, nós éramos como uma família”, diz com sua voz calma. Aliás, esse parece ser um dos segredos da longevidade de Frei Miguel. “Não gosto de bate-boca”, vaticina. E vai contando como tantas e tantas vezes foi chamado a intermediar conflitos nas mais diversas paróquias pelas quais passou.
Embora tenham sido muitas, ainda enumera quase todas, demonstrando a boa memória: Encruzilhada, Vitória da Conquista, Jaguacara, Rio Real, Conde e Feira de Santana, todas na Bahia. Em Sergipe, além de Aracaju, já passou por Santa Rosa de Lima, Divina Pastora, Rosário do Catete, Maruim e Santo Amaro. “Fiquei com o povo da roça”, brinca.
Próximo de completar cem anos de vida, Frei Miguel mostra boa saúde, bom humor, boa memória e uma incrível serenidade. “O importante é saúde no coração. É saber servir e não dizer “não””, ensina delicadamente.
Logo mais às 19h30 acontece Missa Festiva com todos os frades em comemoração ao Centenário de Frei Miguel. A celebração acontece na Paróquia São Judas Tadeu, no bairro América.
Por Gabriela Amorim
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