Os dados divulgados pelo último relatório do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS -, relativo ao ano de 2002, dão conta de um número estarrecedor: menos de 1% da população urbana do Brasil possui um atendimento ideal de água. Isto é, apenas 787 mil brasileiros, de 21 cidades, foram atendidos integralmente, sem interrupção de fornecimento e com água dentro dos padrões de qualidade quanto à presença de coliformes fecais e quantidade de cloro residual. Infelizmente, Aracaju está de fora dessa lista, bem como os outros municípios do Estado. Por outro lado, a cidade consta na relação das 561 localidades que apresentaram amostras com “índice zero de desconformidade com as regras de qualidade”. Desse subgrupo, somente 297 também apresentaram todas as amostras com os padrões de cloro residual. Os dados fazem parte da pesquisa realizada pelo Ministério das Cidades, desde 1995, e que traça um retrato sobre a prestação de serviços de água e esgoto no país. Pelos dados do SNIS, a Companhia de Saneamento de Sergipe – Deso -, em relação as que atuam nos outros Estados do Nordeste, não está em má situação. Hoje, segundo o governo do Estado, 95% das pessoas que vivem em Sergipe têm acesso a água tratada. Mas nem por isso a Deso deixa de apresentar problemas. Só em Aracaju são 372 mil ligações, que beneficiam 170 mil famílias. Diante desses números fica difícil questionar o tipo de serviço prestado pela distribuidora. Mas é só abrir a torneira e não encontrar o precioso líquido para qualquer cidadão se perguntar: de que serve a abundância dos rios brasileiros – o país concentra 16% da água potável do planeta – se não é possível desfrutar desse recurso de forma ininterrupta? Exemplo disso foi a falta de água que assolou a Grande Aracaju na última terça-feira, dia 27 de julho. Metade da capital e o chamado complexo Taiçoca, os conjuntos habitacionais instalados no município de Nossa Senhora do Socorro amargaram a falta d´água durante 12 horas por conta de um vazamento na adutora do São Francisco, mais precisamente no trecho que corta o município de Rosário do Catete, o fornecimento teve que ser interrompido. Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Purificação e Distribuição de Água em Serviço de Esgoto do Estado de Sergipe – Sindisan – Antônio Carlos Góes, os problemas da Companhia têm fundo político. “A Deso ultimamente vem sendo alvo de várias críticas quanto à interrupção do fornecimento de água como também quanto à qualidade da água que tem sido ofertada a população. Isso decorre, e não é de agora que nós do Sindisan temos alertado, principalmente porque a empresa tem sido ao longo dos anos utilizada de forma eleitoreira. Por conta disso ela tem dado prioridade a algumas áreas, deixando outras, também importantes, de lado”, afirma. Segundo o sindicalista, para atender o crescimento da população, tanto de Aracaju como das outras cidades, tem sido dada prioridade a ampliação das redes de distribuição, sem a devida preocupação com o aumento da capacidade das estações de tratamento de água. “Isto tem sido um problema. Com o aumento da demanda acaba sendo estrangulada no próprio tratamento, a quantidade de água ofertada diminui. Daí, no período de escassez fica o dilema: a estação trabalhando no limite, e quando tem uma deficiência na qualidade da água captada, o processo de tratamento é mais demorado, com isso, para que possa ofertar a água com a mesma qualidade, tem que se reduzir a quantidade. E para manter a mesma quantidade em um período como este, tem que reduzir a qualidade. E talvez estas sejam as conseqüências que atingem boa parte da população do nosso Estado. Em função, principalmente, da falta de prioridade que foi dada nos últimos anos, pelos governos, no que diz respeito a ampliação da capacidade de tratamento de água”, opina. Problemas que afetam o fornecimento Saneamento: caro e raro 10 anos para universalizar serviços