O almoço do presidente da República teve que esperar. O motivo foi a entrevista que o governador do Estado João Alves Filho, quebrando o protocolo, resolveu conceder a imprensa. O administrador estadual relatou aos jornalistas que durante a conversa reservada que o presidente teve com ele e com o prefeito Marcelo Déda, Lula elogiou as ações do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Aproveitando o ensejo, o governador falou ao presidente sobre a possibilidade de o Banese administrar parte do dinheiro do Programa no Estado. O motivo é que, segundo ele, o mesmo tem mais condições de chegar até os agricultores do que os dois bancos que atualmente gerem a verba do Pronaf: Banco do Nordeste (BNB) e Banco do Brasil (BB).
“Mostrei a ele que no Estado de Sergipe está acontecendo uma distorção. Os órgãos do Governo Federal, no caso os Bancos do Nordeste e do Brasil, têm atuações limitadas no Estado devido ao número reduzido de agências. Enquanto isso, nós temos um instrumento que outros estados não têm. Somos um dos poucos Estados que ainda possuiu um banco estadual que é um modelo”, argumentou João Alves, que fez questão de dizer ainda ao presidente: “E quem atesta isso é o Banco Central de Vossa Excelência”.
O governador explicou a Lula que, todos os anos, o BNB e o BB, apesar dos recursos que recebem do Programa, não conseguem aprovar, nem de longe, o orçamento do Pronaf para o Estado. Contudo, ele fez questão de ressaltar que isso tem ocorrido não por incompetência e sim por uma questão de capilaridade. “O Banese tem mais de 90 agências em todo Estado. Estamos lutando presidente, desde que assumimos o governo, para que o Banese aplique uma parte dessas sobras do Pronaf”, narrou o governador que, quando questionado sobre de quanto seriam essas sobras, deu uma resposta direta e curta: “São milhões”.
João Alves reforçou que pediu ao presidente da República que o Banese passe também a repassar aos agricultores, pelo menos o mínimo dessas sobras das quais o BB e o BNB não dão conta. “Se isso fosse realizado teria-se muito mais condições de se estender aos agricultores que não passam nem na porta desses bancos (do Nordeste e do Brasil). Além disso, o governador ressaltou que o Banese tem um sistema de crédito volante, o que facilitaria ainda mais o contato com o agricultor.
Para atestar que o banco estadual está acima de divergências políticas o João Alves disse, em tom de descontraído, que pode tomar como testemunha um certo deputado federal de bigode e voz rouca, numa referência a Jackson Barreto. Além de ter convidado o próprio prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, para também fazê-lo, enquanto lembrava que o Município de Aracaju é o segundo maior depositante do Banese depois do Governo do Estado. O governador concluiu o assunto dizendo que o presidente da República prometeu intervir nessa situação para garantir que o Banese também possa aplicar as verbas do Pronaf. “E eu acredito na palavra do presidente”, finalizou demonstrando entusiasmo.
AEROPORTO – O governador falou também sobre a revitalização do Aeroporto Internacional de Aracaju. Ele afirmou que existe um clima muito amistoso e deu o crédito ao prefeito Marcelo Déda por lembrar de tocar na revitalização do Aeroporto. Segundo ele, Lula pretendia assinar hoje, aqui em Aracaju, a ordem de serviço pra começar a revitalização, mas ele (João) recebeu uma informação segundo a qual o projeto do Aeroporto não estaria pronto. O governador se disse surpreso com a notícia. Contudo, o representante da Infraero esclareceu que a mesma resolveu ampliar o projeto, incluindo além da instalação dos fingers um sistema de refrigeração.
Segundo Alves o presidente afirmou que “faz questão que seja aprovado um projeto maior porque Aracaju, nos 150 anos, merece um aeroporto moderno”. Perguntado sobre se em algum momento ele teria falado sobre transposição com o presidente, o governador esclareceu que não, pois não achou que seria apropriado durante uma visita e que tocar no assunto poderia criar constrangimento. “Mas o presidente está cansado de saber qual a minha posição. Não sou contra a transposição, sou contra a idéia desse projeto errado”, declarou mais uma vez exemplificando que é como se quisessem construir um prédio de 20 andares começando pelo 20º.
A entrevista terminou quando o prefeito Marcelo Déda saiu do Espaço Sobre as Ondas para chamar o governador para almoçar, pois segundo ele, o presidente estaria aguardando João Alves para fazer o pedido. Déda disse apenas que o presidente garantiu e já autorizou a execução do projeto de revitalização do Aeroporto Internacional de Aracaju, inclusive com a colocação de ar-condicionado.