História de um seqüestro

Noite de sábado, 20h30. O “Jornal Nacional” está em pleno andamento, anunciando uma entrevista com Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT. O engenheiro José Roque Menezes Filho, funcionário da Caixa Econômica Federal, chega a Super Vídeo Locadora, na rua Guilhermino Rezende, a 50 metros da Praça da Imprensa. Queria devolver os filmes que levara na noite anterior. A atendente lhe diz que nem precisava, porque a devolução estava marcada para a segunda-feira. Ele, então, resolve voltar para casa com os dois DVDs, porque a filha ainda não os assistira.

Ao sair da locadora, mal a porta se fechara, dois indivíduos o abordam. Um lhe dá um safanão no ouvido e o empurra para dentro do carro. A atendente da locadora grita e pede socorro. A vizinha de frente vem à janela. Na casa vizinha, um motoqueiro vem ver o que acontece. Pelo outro lado, um cliente da locadora vê o que se passa e corre atrás de dois seguranças. Não deu tempo para nada, porque o carro zarpa, inclusive sem muita velocidade.


No volante, ainda aturdido, Roque é obrigado a parar na Praça da Imprensa onde, no veículo, entram mais duas pessoas, inclusive uma moça. Os marginais ordenam que ele vá para o banco de trás, mantenha a cabeça baixa e os olhos fechados. Pelo modo de dirigir de um dos indivíduos que assumiu o volante do carro, Roque tem certeza de que ele não tem muita experiência no volante. E fica rezando para o carro – um Gol, cor prata – bater em outro. O que realmente acontece: foi um simples abalroamento, e o motorista do outro carro desce, vê que não foi muita coisa e vai embora. O motorista do Gol ainda pede desculpas. No banco traseiro, Roque se mantém abaixado, com as mãos nos olhos.

Mais adiante, o carro pára, dois dos marginais mandam que ele não olhe para eles e feche os olhos. Colocam-no então no porta-malas do carro. Roque pede que a tampa do porta-malas não seja toda fechada para que possa respirar. Os marginais assim o procederam e, de vez em quando, até baixavam os vidros para entrar um ar. No rádio do carro, os marginais repetiram à exaustão um único CD, dando preferência a duas músicas inteiramente bregas. Roque não sabe para onde foi levado, mas de vez em quando o Gol parava, os marginais desciam, tomavam uma bebida, possivelmente cerveja ou guaraná, e lhe ofereciam água de coco.
 

O seqüestro terminou no final da manhã de ontem. Ainda no porta-malas e sem saber onde estava, Roque só sentia que o carro parava e, um a um, os marginais iam descendo. Só ficou um, que passou a dirigir o veículo displicentemente, passando em velocidade por buracos na pista e por pedregulhos, que causaram furos no tanque de gasolina. Num milharal, o último marginal disse que ia embora, mas que ele não se levantasse agora. Roque pediu que deixasse o seu óculos de grau. Quando sentiu que não tinha mais ninguém, Roque conseguiu sair da mala do carro. A chave estava na ignição. O resto da gasolina deu para ele chegar no Posto Fiscal. Ele estava em Arapiraca, no Estado de Alagoas. A Polícia de lá comunicou a sua família. O carro ficou no Posto Fiscal para ser trazido hoje, segunda-feira, para Aracaju. A Polícia de lá providenciou-lhe transporte para a capital.

Já em casa, Roque recebeu a visita de policiais a quem fez o seu relato. Disse que não foi maltratado nem lhe roubaram nada – deixaram apenas estragos no carro. Mas, a cada vez que Roque pedia calma aos marginais, eles mandavam ele se calar e até ameaçavam de morte. Depois, os marginais se acalmaram. E disseram que queria o carro apenas para uma lera, uma noite diferente. Na locadora, a atendente entrou em contato com a polícia, e a tropa de choque que foi lá buscar os dados de Roque – marca e cor do carro, chapas, etc – avisaram aos demais policiais que faziam ronda pela cidade. O motoqueiro, que estava vizinho à loja da locadora, desconfiou dos dois sujeitos que vinham em sua direção e entrou com a moto dentro da casa da namorada. Tinha chamado sua atenção que os dois caras estavam conversando com um casal, no início da Praça da Imprensa. Foi esse casal que, depois, entrou no carro como passageiros.

Os dois marginais que atacam Roque estavam armados e comentaram com ele que a moça da locadora os viu e que ela ficou gritando. 
Embora seja um local com muitos restaurantes e casas de negócios, a Praça da Imprensa e arredores não tem policiamento eficiente. De quando em quando, de dias em dias, passa um carro da polícia. Todos os dias, porém, invariavelmente, ocorre cenas de assaltos.

 

Por Ivan Valença

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