Implantação de usina nuclear é um equívoco – Wanderlê Correia

A perspectiva de retomada do programa nuclear brasileiro, além de se tratar de uma alternativa equivocada do ponto de vista estratégico para o projeto energético de um país com as características naturais do Brasil; no caso de Sergipe, especificamente, existe ainda o agravante aspecto da inconstitucionalidade. A constituição estadual, no seu artigo 232, parágrafo 8º, proíbe expressamente a construção de usinas nucleares e depósitos de lixo atômico no território sergipano.

Nesse sentido, entendemos ser inconcebível que o Brasil insista em seguir na contra-mão da história, haja vista que, nos países mais desenvolvidos do mundo o que tem ocorrido nos últimos anos é exatamente o contrário, ou seja, os governos estão desativando as usinas existentes e cancelando os projetos de construção de novas instalações. Na Alemanha, por exemplo, país que inclusive orientou tecnicamente o projeto nuclear brasileiro desde a implantação de Angra I, há um consenso entre governo e oposição que norteou uma decisão política clara: as 17 usinas nucleares ainda existentes serão desativadas até o ano de 2021. Lá, a prioridade é o investimento em energia eólica, de forma que o país já produz cerca de 20.000 megawatts de energia eólica (o equivalente a duas usinas como a de Itaipu).

Deve-se destacar, ainda, os riscos relativos ao lixo atômico decorrente das usinas nucleares, cujo tratamento ainda é um grande problema a ser resolvido. Até hoje, nenhum país que faz uso da energia nuclear encontrou uma saída definitiva para essa questão. Existem resíduos considerados de baixo e médio teor radioativo, cujo armazenamento deve levar pelo menos 100 anos, ao passo que os de alto teor levam milhares de anos. Além disso, existe um alto custo com a segurança dos depósitos, sem falar no perigo constante de acidentes, como o que ocorreu há algumas semanas na maior e mais potente usina nuclear em funcionamento do mundo (Kashiwazaki-Kariwa), no Japão, cujos reais danos ainda não foram efetivamente divulgados pela grande mídia inernacional.

No tocante ao aspecto da viabilidade econômica, vejamos o exemplo de Angra III, que custará pelo menos 9 bilhões de reais para gerar uma energia equivalente a 1.350 megawatts, ao passo que apenas uma das usinas hidrelétricas do rio Madeira, por um custo semelhante, deverá produzir algo em torno de 3.300 megawatts, ou seja, mais do que o dobro de energia produzida pelo mesmo custo. Para se ter uma idéia, só de biomassa do bagaço de cana, hoje, o Brasil tem disponível 7.000 megawatts, o equivalente a 5 usinas de Angra III. O PROINFRA (Programa Nacional de Energia de Fontes Alternativas) tem 20.000 megawatts em projetos prontos, à espera de recursos para o seu financiamento, ou seja, algo em torno de 15 Angras III.

Em suma, entendemos que antes de qualquer análise de caráter mais político ou econômico, é fundamental que façamos uma reflexão sobre o fato de que só foi possível a vida no planeta Terra depois que os elementos fortemente radioativos, no início abundantes, foram sendo eliminados, ao longo de bilhões de anos. De forma que configura-se como um verdadeiro contra-senso vermos, na atualidade, o homo sapiens querer exatamente reintroduzir toneladas desses elementos maléficos
(plutônio, césio 137, iodo 129, etc., entre outros). É um verdadeiro equívoco, pois não se trata nem de avaliar se a energia nuclear é mais ou menos poluente que as outras; ela é simplesmente incompatível com a vida.

Autor: Wanderlê Dias Correia (professor da rede pública e deputado estadual)

Debate : Prós e contras de uma Usina Nuclear no Estado

 

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais