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Água invade barracos e esperança das famílias (Fotos: Bruno Antunes/Portal Infonet) |
Quando o céu escurece e os pingos de água começam a tocar a terra, eles olham para cima não para ver o tamanho da tempestade que se aproxima, mas para pedir que seu local de descanso, o que se resume a um pequeno quadrado formado por paredes de papelão cobertas por uma manta de plástico preto resista a tamanha quantidade de água. Invasores é como eles são chamados, mas também são conhecidos como sem esperança ou como sem teto. Centenas de famílias estão em ocupações irregulares em Aracaju hoje.
No bairro Santa Maria, o local que abriga a maior quantidade de pessoas nessa situação, são cinco locais conhecidos, porém a cada intervenção do poder público, outras pessoas aparecem reivindicando uma ajuda, um alento para ter o direito constitucional da moradia. A Prefeitura de Aracaju tenta cadastrar todas que aparecem, mas o problema social é maior do que a intervenção do governo municipal. É necessário uma gestão maior sobre o assunto moradia, e esse problema não é exclusivo apenas na capital e nem em Sergipe.
Atualmente existem cinco invasões no bairro Santa Maria: Arrozal, Quirino, a invasão do Marivan, da água Fina e Prainha. Centenas de famílias vivem nesses locais, em condições tão insalubres e miseráveis que não é possível imaginar o dia a dia de uma pessoa sem teto. Dignidade e respeito são palavras desconhecidas para essas pessoas.
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Meninos brincam em rio que se formou no meio da rua na invasão do Quirino |
Os relatos são sempre parecidos, histórias de poucas oportunidades e sem local para ir. No Arrozal como é conhecida a localidade de uma das invasões mais recentes, Carla Suzane, de apenas 20 anos mora com a filha de dois anos sem marido ou alguém que possa lhe ajudar. Com a chuva seu barraco ficou molhado, mas não ter outro local para ir é o que ainda a segura ali.
“Está tudo molhado desde ontem, ajeitei, mas a todo o momento a água sobe, basta chover um minuto. A todo o momento nós ficamos limpando o barraco, mas não há jeito”, relata.
O catador de materiais recicláveis Rosivaldo dos Santos, mora com a esposa gestante e duas filhas há cerca de oito meses, para ele o local pode ser uma garantia de moradia que ele assume que nunca teria condições de conquistar com o trabalho. “Tem mais de oito meses que moramos aqui e a situação é essa, ainda não fomos cadastrados, já fui na prefeitura, eles pegaram meu nome, meus dados e disseram para aguardar no barraco. A assistente social veio aqui e escolheu algumas famílias para retirar aqui, mas a maioria ficou por aqui”, reclama.
Aos 51 anos, Rivanilde Francisca de Macedo, já não tem a companhia dos filhos que são casados, e por isso mora sozinha e lamenta a sorte que teve na vida. “A situação aqui está difícil porque os barracos estão em pé e todos molhados, não tem condição de continuar aqui e ao mesmo tempo não tenho para onde ir”, conta.
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Moradores da invasão do Arrozal querem apenas dignidade |
Na invasão do Quirino, próximo à Avenida do Gasoduto, após um cadastro refeito na terça-feira, 12 de abril, a Prefeitura de Aracaju constatou e retirou na manhã desta segunda-feira, 2, as 40 famílias restantes no local (Antes já haviam sido retiradas outras 40) para irem morar com o auxílio moradia no valor de até R$ 300. O prazo desse aluguel pode durar até um ano. Muitas dessas famílias, agora estão morando em lugares como o conjunto Padre Pedro em casas alugadas.
“Nem agente de saúde vinha aqui e para nós irmos no posto de saúde, quando informamos que vivemos na ocupação do Quirino, eles nos colocam em último lugar na fila. Nada passa aqui, somos esquecidos. Quando a polícia vem aqui é para bater e falar que todo mundo é vagabundo”, reclama Maria Lúcia da Conceição que morou com três filhos e o marido durante três anos na invasão do Quirino.
Para o líder comunitário dos moradores do Quirino, José Paulo Barros, após cinco anos de luta, a recompensa começa a chegar. “Foram cinco anos de luta no Quirino e a gente está hoje recompensado porque estamos retirando todas as famílias de lá para receber o auxílio moradia. Já haviam saído 40 famílias e agora vão sair mais 47, restando ainda nove famílias para serem retiradas do local”, informa.
Esperança
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Carla Suzane de 20 anos, tem uma filha de dois |
Pelo menos um final feliz é conhecido no bairro, o dos moradores da maior invasão e mais problemática, o Morro do Avião. Após anos de ocupação no ponto mais alto do bairro, no dia 29 de julho de 2010 a prefeitura fez a derrubada de todos os barracos ali construídos para que as 404 famílias fossem talvez pela primeira vez ter uma moradia descente e recuperar sua dignidade e respeito no novo bairro 17 de março.
Histórico de problemas
De acordo com o secretário de Assistência Social e Cidadania, Bosco Rolemberg a origem das ocupações no bairro Santa Maira é antiga, porém após o anúncio da construção de novas moradias através o Programa de Aceleração do Crescimento, o número de famílias que fazem ocupações irregulares aumentou consideravelmente.
“A origem disso foram várias ocupações irregulares em cima do canal Santa Maria que já era um canal bastante deteriorado com bastante dificuldade. Antigamente a população do Mosqueiro transportava coco em Taveirós e chegavam via o canal do Santa Maria aqui no Poxim e no canal de Aracaju. Então, ao longo do tempo essas ocupações foram se concentrando em cima do canal”, relata.
Segundo Bosco, o processo de urbanização e atração que Aracaju tem leva a notícia e imagem que o caminho para ter a moradia é fazer a invasão e montar um barraco para conseguir uma casa.
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José Paulo Barros diz que a luta vale a pena, mesmo após cinco anos |
“Para resolver isso, o nosso projeto é uma concepção principalmente nesse período de chuvas de retirar essas famílias das áreas mais prejudicadas onde há inundação. No dia 17 de abril, retiramos 40 pessoas do Arrozal porque a situação estava bem crítica, 17 foram removidas para um abrigo e 23 para casas de familiares. Em seguida concedemos o auxílio moradia por seis meses, prorrogável por mais seis meses e a depender da situação da família no valor de até R$ 300”, conta.
A Prefeitura alega ainda que após a retirada das famílias e a destinação das mesmas para casas alugadas novas famílias acabam acampando no mesmo local. No dia 28 de abril, a Prefeitura de Aracaju retirou da Água Final, invasão posterior ao Arrozal, outras quarenta famílias e demoliu os barracos. Essa foi uma ação emergencial, todas essas famílias estão cadastradas programas habitacionais do município.
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
“Através do PAC nós já entregamos 956 residências, retiramos todos os barracos do morro do avião que era aquela condição subumana. O nosso projeto e visão, é de fazer isso também nessas áreas invadidas, vamos deixar a área do Canal do Santa Maria completamente livres dessas habitações precárias e desumanas”, afirma Bosco Rolemberg.
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O secretário de Assistência Social, Bosco Rolemberg |
A prefeitura reconhece que é impossível garantir habitação para todos até por conta do grande déficit habitacional que existe. No bairro 17 de março, foram construídas 2500 unidades residenciais e no Coqueiral mais 600 unidades. “Esse é o universo de disponibilidade dos projetos aprovados pelo PAC. A demanda é muito maior, e o déficit é grande. Vamos resolver o Coqueiral e essas invasões do canal do Santa Maria. Nós estamos em estado de alerta, a Emurb, emsurb, Defesa Civil, o Samu, a perspectiva é que continuemos a fazer esse esforço nesse período mais crítico de chuvas”, finaliza o secretário de Assistência Social.
Por Bruno Antunes
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