João Alves diz que transposição é “insensata”

O governador João Alves Filho é o terceiro a se utilizar da tribuna da OAB para expor seu ponto de vista sobre o projeto de integração da bacia do Rio São Francisco. Contrário à iniciativa do Governo Federal, João deve explicar seu ponto de vista e apresentar os argumentos que justificam sua posição.

 

“Entendo que esta é uma causa relevante para o Nordeste e para o Brasil. Eu não vou acrescentar o que eu discordo do que o ministro Ciro Gomes apresentou, mas não precisando falar sobre o diagnóstico, vou me ater exatamente à questão. Queria dizer que o tema hoje é universal e portanto,m vou fazer pequenas colocações sobre o acontece no mundo”.

 

João iniciou falando o seguinte: ”Nos últimos dez anos, a população mundial deu uma salto muito grande, para 6 bilhões de habitantes. Mais de três vezes, a população aumentou e o consumo da água cresceu exponencialmente sete vezes mais. Isso levou a um conflito entre a demanda e a existência de recursos hídricos disponíveis.

 

E previu que neste século, teremos mais guerras pela água que pelo petróleo. “Mas o mais grave, é que surge agora, a questão do efeito estufa. O efeito estufa já começa a ter um efeito dramático sobre os rios e prevê que o efeito promoverá ações que vão provocar a morte de rios”.

 

Audiência atenta
ORIENTE MÉDIO – O governador tentou explicar a gravidade da situação falando sobre o Oriente Médio: “Hoje, nós temos a crise da Palestina. Já estive em Israel três vezes estudando o problema do semi-árido que é a paixão da minha vida. O grande problema que a imprensa não fala é que os palestinos ocupam hoje uma área que tem 40% da água da região. É preciso que se tenha consciência de que os rios morrem”.

 

João justificou seus conhecimentos a respeito dos problemas do semi-árido explicando que sua paixão pelo tema já o levou a grandes desertos do mundo, como o da China, Oriente Médio, México etc. Alves citou como exemplos o rio Colorado, México, e o rio Amarelo, na China: “No ano passado, ele passou nove meses sem chegar ao mar. E não é só lá não. Quem não conhece o rio Nilo? Hoje está secando. E o rio Ganges da Índia? Eu estive lá, meus senhores”.

 

Sobre o São Francisco, ele falou sobre a degradação na foz do rio e sobre a navegabilidade baixa: “Eu fiquei encalhado com uma lanchinha vagabunda. Esta é a situação do Rio São Francisco”, explicou. Alves disse que estuda e se preocupa bastante com o Nordeste setentrional e disse não fazer distinção entre as subdivisões da região.

 

Para tentar solucionar o problema, Alves disse que escreveu um livro sobre o assunto, mostrando alternativas para se fazer a transposição das águas sem haver o conflito que há hoje. “O Nordeste foi colocado de lado nos debates de desenvolvimento dos últimos presidentes. Unidos, nós nordestinos somos frágeis. Divididos, somos inviáveis”.

 

Entre as sugestões do governador estão a revitalização do rio, que segundo ele não foi contemplada com projetos; e o aumento da vazão. João refutou os dados apresentados por Ciro Gomes, dizendo que na foz do rio, não chegam os 3 mil m3/s ditos, mas, no máximo, até 800 m3/s. A construção de pólos de psicultura, revitalização da mata ciliar, entre outros, seriam alternativas viáveis para melhorar a vida do rio.

 

“Só usando os afluentes do rio, aumentaríamos 550 m3/s. Pode não ser muito, mas para nós que estamos na foz, teremos mais chegando. A propaganda oficial está apresentando uma visão distorcida. A transposição não vai acabar com a seca, isto não é verdade, é uma farsa. Nós temos um grande canal que é o rio e temos uma população passando fome e sede ao longo do rio”. Para Alves, o governo estaria enganando as regiões do Sul do país, que não conhecem o problema do São Francisco.

 

Segundo o governador, “não é só questão de levar água. Ela só não vai resolver. A questão é levar e saber o que fazer com ela. Primeiro, revitalização a curto e médio prazo; equacionamento hídrico e convivência com a seca, a curto e médio prazo”. Para João Alves, não houve uma conversa com alguns governadores envolvidos no problema, como o de Minas Gerais, onde fica a nascente, o da Bahia e o de Sergipe, no caso, ele mesmo.

 

Depois disso, João pontuou alguns problemas no projeto de transposição, tais quais a falta de outros projetos para a região; a falta de garantia de reforço na vazão e a falta de aprovação pelo Congresso. “como se faz um projeto desses sem se discutir com os governadores, meu Deus do Céu?”.

 

ELEIÇÃO – Durante a explanação, João Alves disse que coincidentemente, o projeto está sendo levado adiante “bem na época das eleições brasileiras”. Nisso, Ciro Gomes interrompeu a explanação de Alves para negar a acusação. Exaltado, Alves continuou.

 

“Existe um sofisma. Não é verdade que vai ser retirado apenas 1% da vazão. Se afirma que o projeto levará água apenas parta consumo humano. Meus amigos, vamos levar em conta dados técnicos: 26 m3/s, daria para abastecer 22 milhões de pessoas utilizando dados do Banco Mundial. No Nordeste Setentrional existem 12 milhões e lá, eles estão tomando água… Outra coisa, como é que a propaganda do governo diz que vai gerar empregos? Bom, emprego só se a água for utilizada para outras atividades. Eu não sou contra isso, mas o governo Federal tem que explicar à população”.

 

“O projeto trará benefícios para outros Estados, mas nós, Sergipe e Alagoas, seremos prejudicados por um projeto que poderá nos levar a  uma catástrofe”, previu Alves. Para ele, o projeto será uma grande tragédia. “Nós estamos sendo egoístas? Nós aprendemos a dar um copo d’água a um inimigo, como negaríamos a um irmão? Queremos apenas um projeto bem estruturado. “Eu acredito na boa fé do presidente Lula, mas eu quero dizer ao ministro Ciro Gomes e ao presidente da República, eles estão mal-assessorados”.

 

O governador terminou a explanação afirmando que a proposta é tecnicamente falha, ecologicamente desastrosa e politicamente insensata, pois causa um desgaste desnecessário entre os componentes da federação. “Está sendo criada uma crise federativa no Brasil. A última situação desta natureza ocorreu em 1912, quando o pacto federativo foi quebrado por conta das contendas entre Santa Catarina e Paraná. Mas acredito no bom senso do ministro Ciro Gomes e na boa fé do presidente Lula, para resolver esta situação a contento”, afirmou. 

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