Lagarto dá último adeus a professor

População chora morte de professor (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet)

O corpo do professor Celso Milton de Oliveira Menezes foi sepultado na manhã desta sexta-feira, 13, sob forte emoção e revolta na cidade de Lagarto. A cidade praticamente parou para dar o último adeus a Celso Milton, um carismático professor nascido em Malhador e que recebeu título de cidadania lagartense devido a sua atuação cidadã naquela comunidade. “O sentimento da cidade é de tristeza. Ele era uma excelente pessoa, um professor extrovertido, alegre e irreverente”, conceitua a professora Cátia Nascimento, uma ex-aluna de Celso Milton.

O prefeito Valmir Monteiro decretou luto oficial no município, as aulas foram suspensas e os alunos, uniformizados, acompanharam o cortejo que saiu do Colégio Polivalente Abelardo Romero Dantas com destino ao cemitério local. O governador Marcelo Déda anunciou o cancelamento de inaugurações de obras que estavam previstas para esta sexta-feira, 13. O Governo entregaria à população as instalações da Delegacia Regional de Polícia Civil e o Terminal Rodoviário da Cidade.

Cortejo atrai autoridades

Ainda no Colégio, a multidão se concentrou para assistir a celebração à alma do professor, feita pelo padre José Raimundo, da paróquia de Lagarto. Autoridades, políticos de todas as facções partidárias, ex e atuais alunos, gays, heterossexuais, enfim, cidadãos de todas as faixas etárias e classes sociais encheram o Colégio e, mais tarde, o cemitério da cidade, para prestar homenagens ao professor.

“Fomos professor juntos em duas oportunidades, dirigentes da Associação Atlética. Ele era uma pessoa inteligente, criativa, querida de todos”, comenta o promotor de justiça Deijaniro Jonas. “A população está consternada porque ele foi formador de opinião de muitos estudantes e deixa um legado e esta multidão representa tudo isto”.

O trajeto foi acompanhado por uma banda formada por músicos lagartenses, que entoaram ‘amigos para sempre’. No cemitério, um carro de som substituiu a banda e reproduziu ‘Coração de Estudante’ na voz de Milton Nascimento, selando o adeus ao estimado professor.

Cátia: "professor carismático e irreverente"

Na comunidade, é uníssono o pedido por justiça e pelo fim da violência no município. “Que os culpados por este crime sejam punidos na forma da lei”, resumiu o irmão da vítima, Cláudio Miguel de Menezes, um cantor e compositor sergipano que também é advogado, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SE.

De acordo com estatística da Secretaria de Estado da Segurança Pública são 21 mortes violentas no município, somente neste ano. “Lagarto vive um momento de crimes reiterados, tornando-se uma referência como cidade violenta e o Estado deve fixar um olhar mais atento, implementando políticas públicas mais ostensivas para reprimir crimes desta natureza”, considera o presidente da OAB/SE, Carlos Augusto Monteiro Nascimento.

Sem homofobia

Martins Filho: "Lagarto não é homofóbica"

Soou estranho entre segmentos da comunidade LGBT de Lagarto a versão apresentada pela deputada estadual Ana Lúcia Menezes (PT), que, em pronunciamento na Assembleia Legislativa, na quinta-feira, 12 associou a morte do professor Celso Milton à homofobia. “A gente espera que este crime homofóbico seja desvendado, porque na história de Sergipe dificilmente um crime homofóbico é desvendado, inclusive quando se sabe o assassino”, denunciou a parlamentar, na oportunidade.

Martins Filho, uma das lideranças do Movimento LGBT do município e um dos organizadores da Parada Gay da cidade de Lagarto, combate contundentemente a tese da parlamentar e garante que o município é destacado pela convivência pacífica entre os LGBT e toda a comunidade local. “Lagarto não é homofóbica”, diz Martins Filho. “O crime foi movido por muito ódio, mas não é um crime homofóbico. Este crime será desvendado e as pessoas vão ter muitas surpresas”, comentou.

Músicos entoam 'Amigos pra sempre'

A Secretaria de Estado da Segurança Pública criou uma força tarefa para dar os primeiros encaminhamentos à investigação. Sob orientações da Coordenadoria de Polícia Civil do Interior, quatro delegados foram designados para realizar os levantamentos iniciais.

A delegada Viviane Cruz Pessoa, coordenadora de Polícia Civil do Interior, informou ao Portal Infonet que, neste momento, dois delegados de Polícia estão à frente das investigações, que sinaliza indícios de crime de latrocínio. “Houve subtração de pertences da vítima, há indícios que apontam para latrocínio, mas todas as linhas de investigações serão apuradas”, garante a delegada.

Em Lagarto, a equipe de reportagem do Portal Infonet conversou com alguns agentes que atuam na Delegacia Regional e que também estão envolvidos no processo de investigação. O sigilo sobre os procedimentos investigatórios são mantidos, mas os agentes também estranharam a associação deste crime à homofobia. Eles garantem que o município não tem esta característica, ratificando o conceito de Martins Filho.

Por Cássia Santana

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