
Lideranças jovens do Povoada da Pedra Furada, em Santa Luiza do Itanhy (SE), apresentaram nesta terça-feira (25), em São Paulo, os resultados do CRIA, tecnologia social desenvolvida na comunidade com apoio do Infinis – Instituto Futuro é Infância Saudável, Instituto Beja e Instituto Mahle. A apresentação aconteceu durante o seminário “Caminho sistêmico para uma primeira infância saudável”, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo.
Durante a roda de conversa, os jovens falaram sobre as oficinas, atividades e terapias que buscam promover o bem-estar e a formação integral da comunidade local. Eles trouxeram o exemplo da “Escola de Pais”, que promove a parentalidade positiva, fortalecendo os vínculos entre pais e filhos da região. A coordenadora do CRIA, Raiane Ribeiro, também apresentou o aplicativo do projeto que coleta dados da comunidade e registra o acompanhamento da saúde das gestantes, como consultas pré-natal, e das crianças, como caderneta de vacinação, tempo de amamentação e evolução de peso e altura.
“O CRIA mudou completamente a minha vida. Entrei achando que seria algo pequeno, mas descobri um caminho de transformação, para mim e para a comunidade. Percebi que posso ser referência para outros jovens e mostrar que não é preciso sair de Pedra Furada para ser alguém”, disse Alan dos Santos, jovem liderança e gestor da formação Jovem CRIA.
Geovana dos Santos, gestora do ASA (Agente de Saúde Adolescente) e do módulo da saúde do CRIA, compartilhou sua vivência como mãe adolescente na comunidade. “No começo, eu não acreditava que aquele espaço era para mim. Hoje acompanho outras mulheres que, como eu, nunca tiveram acesso a informações básicas sobre saúde, cuidado e puerpério. Ver essas mães se fortalecerem transforma a comunidade e transforma a gente também”.
O objetivo do CRIA é construir soluções comunitárias que integrem saúde, educação, parentalidade positiva e bem-estar, formando redes locais capazes de sustentar o desenvolvimento integral das crianças. O projeto teve início em 2022 no Povoado da Pedra Furada (SE), onde constam apenas 69 domicílios. A iniciativa vem expandindo sua atuação com oficinas, terapias e formações sobre temas como pré-natal, amamentação, alimentação saudável, vínculos familiares e saúde mental. O CRIA soma 221 participantes diretos, oito adolescentes engajados na construção da tecnologia social e 248 beneficiários indiretos.
Para a diretora-executiva do Infinis, Márcia Kalvon, fortalecer a primeira infância exige integrar diferentes atores. “Quando olhamos para municípios pequenos e territórios rurais, percebemos que a desigualdade de acesso aos serviços básicos ainda é enorme, e isso afeta diretamente o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Não basta discutir a primeira infância apenas pelo ângulo da infraestrutura; é preciso entender o sistema como um todo. Estado, comunidade, famílias e redes locais de apoio precisam atuar juntos. O que vimos no CRIA mostra que, quando a comunidade é protagonista da construção de soluções, a mudança deixa de ser superficial e passa a ser estrutural”.
“O CRIA, projeto mais complexo e relevante do The Human Project, iniciou em 2022 com ações exploratórias no povoado Pedra Furada para compreender os múltiplos desafios da primeira infância e promover atividades comunitárias sobre saúde, parentalidade e desenvolvimento infantil, resultando em maior engajamento e apropriação da Tecnologia Social. Em 2023, o projeto consolidou sua metodologia por meio de formações como o Agente de Saúde na Adolescência (ASA) e o Agente de Desenvolvimento Infantil (ADI), criação de materiais educativos e início da construção do Espaço CRIA. Em 2024, ampliou-se a atuação com a formação de novos jovens, inauguração do Espaço CRIA e implementação de modelos de suporte psicológico e de gestão, além da reaplicação do ASA e da implantação do ADI, fortalecendo o cuidado integral de crianças, adolescentes e famílias da comunidade”, disse Rodrigo de Maio, diretor presidente do The Human Project.
Debate com especialistas
O encontro também reuniu especialistas, pesquisadores e representantes do terceiro setor para debater soluções para o desenvolvimento saudável na primeira infância em territórios rurais vulneráveis. A discussão contou com Eliete Morais, consultora do Ministério da Saúde; Daniel Santos, professor da FEA-RP/USP e fundador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação e Economia Social; Amanda Sadalla, diretora executiva e cofundadora da Serenas; e Paulo Tafner, diretor-presidente do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS).
Para Paulo Tafner, o debate reforça a urgência de modelos comunitários que complementem políticas públicas tradicionais. “O grande desafio do Brasil é garantir que as crianças, especialmente as que vivem em territórios vulneráveis, recebam o cuidado e o estímulo necessários para seu desenvolvimento integral. Não existe política pública mais importante do que investir na primeira infância. Precisamos de soluções flexíveis, que respeitem contextos locais, e o CRIA é um exemplo potente desse caminho”, afirmou.
A mesa também trouxe a perspectiva da prevenção às violências de gênero com Amanda Sadalla, da Serenas. “Falar sobre violência de gênero é falar sobre desenvolvimento integral, saúde mental e futuro. Quando vemos jovens como os do CRIA conduzindo conversas sobre cuidado e saúde em seus territórios, percebemos que transformação sistêmica começa pelas pessoas”. Ela reforçou a necessidade de criar redes de apoio desde cedo: “As meninas e mulheres do Brasil carregam marcas profundas de violência, muitas vezes desde a infância. Quando uma comunidade cria espaços seguros de diálogo, como fez Pedra Furada com o CRIA, ela não está apenas prevenindo violências, está abrindo caminhos de futuro para toda uma geração”.
Sobre o Infinis
O Infinis – Instituto Futuro é Infância Saudável foi criado em 2025 com o propósito de intensificar e qualificar a atuação em defesa da saúde pública para crianças e adolescentes, além de contribuir para o fortalecimento do terceiro setor e o desenvolvimento da filantropia no Brasil. A organização integra o sistema da Fundação José Luiz Setúbal, ao lado do Sabará Hospital Infantil e do Instituto Pensi.
Os esforços do Infinis estão concentrados em quatro eixos: 1. segurança alimentar e nutricional; 2. saúde mental; 3. prevenção às violências, alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (Organização das Nações Unidas); e 4. fortalecimento da sociedade civil.
Com base em dados e evidências científicas, o Infinis busca o aprimoramento e a efetivação de políticas públicas, a transformação de comportamentos por meio de projetos e iniciativas com parceiros, e o desenvolvimento de soluções locais que promovam a saúde na infância e adolescência. Para cumprir sua missão, apoia iniciativas em prol da saúde de crianças e adolescentes e atua na mobilização de discussões e políticas públicas que fortaleçam o terceiro setor.
Fonte: Assessoria de Imprensa
