Chagas fazia às vezes de presidente da sessão, enquanto o deputado Gilmar Carvalho chegou em mangas de camisa e justificou. “É uma reunião informal, não é uma reunião de alguma comissão, logo, a vestimenta não estava fora de ordem”. Mal o empresário Luciano Barreto começou a falar, três militares seguranças da casa entraram na sala das comissões. Um cochichou com o deputado Belivaldo Chagas e um outro fez a mesma coisa com o empresário. Pediu-lhe, ou ordenou-lhe, para parar a explanação porque a reunião não fora autorizada. Barreto disse, então, que não faria a reunião em casa ou em seu escritório porque não havia motivos para isso. Ademais, estava ali na qualidade de convidado por deputados e pela própria Assembléia. Os deputados presentes falaram registrando o constrangimento e o absurdo da situação. Mesmo assim, o deputado Passos não voltou atrás. A reunião foi encerrada, com os deputados levando o empresário até a porta da Assembléia. Por Ivan Valença
O que poderia ter sido uma simples palestra terminou num baita alvoroço. A reunião informal na Sala das Comissões da Assembléia Legislativa, durante a qual o empresário Luciano Barreto, falaria sobre a carta-convite para a construção da sede do Sergipe Parque Tecnológico no Centro Administrativo, praticamente não se realizou. Logo ao se iniciar, o empresário foi obrigado a interromper sua fala porque um segurança da Assembléia cochichou ao seu ouvido de que ele não poderia continuar. Luciano Barreto: empresário atendeu a convite mas não teve oportunidade de falar
“Isto é um pedido ou uma determinação?”, perguntou empresário. “É uma ordem que recebi e estou passando para o senhor”, replicou o policial. Para evitar um problema maior, Luciano Barreto preferiu interromper a sua palestra, enquanto o deputado Belivaldo Chagas, líder da Oposição, dirigia-se ao 7º andar do prédio do Legislativo para negociar com o presidente Antônio Passos.
Para se entender o “imbróglio” é bom que se saiba que há dias atrás a deputada Ana Lúcia apresentou requerimento, convidando o empresário Luciano Barreto – diretor-presidente da Construtora Celi – para falar sobre a carta-convite do Sergipe Parque Tecnológico. A obra consistia em uma terraplanagem e construção em 450 mil m² de terreno no Centro Administrativo, próximo à Universidade Federal de Sergipe.
O “Diário Oficial” que divulgou a Carta-Convite é datado de 14 de janeiro, mas só circulou no dia 21 daquele mês, justo no dia que se abriram as propostas. Ganhou a empresa pernambucana Queiroz Galvão, com uma proposta de R$ 55 milhões. Luciano Barreto, em uma polêmica entrevista ao jornal “Cinform”, declarou que poderia fazer a obra por R$ 20 milhões a menos. Isto, naturalmente, ouriçou a oposição. Antes de se apresentar o requerimento convidando-o para uma palestra no plenário da Assembléia, o governador João Alves Filho cancelou a carta-convite.
NOVO CONVITE – A bancada da situação deu por encerrado o assunto. O requerimento de Ana Lúcia foi rejeitado em plenário, mas Belivaldo Chagas, o líder da oposição, apresentou um outro, que foi aprovado, convidando o empresário para uma reunião informal, a se realizar na Sala das Comissões da Assembléia Legislativa. Tal reunião deveria ter sido realizada na terça-feira, mas foi adiada para hoje, quinta, a pedido do próprio empresário. Ao final da sessão ordinária pela manhã, o deputado Belivaldo Chagas convidou seus pares para a reunião, que começaria às 11 horas. Chagas: atuou como bombeiro para tentar salvar a situação
Passos: mandou empresário fazer reunião em casa
CENSURA – Meia hora depois, após falar com o presidente da casa, Antônio Passos, Chagas voltou dizendo que o empresário poderia fazer sua explanação de, no máximo, 15 minutos. Os demais deputados não gostaram e decidiram que a reunião continuaria como o planejado. O diretor geral da Assembléia foi comunicar ao presidente Antônio Passos a decisão tomada.
Menos de 10 minutos depois, o presidente Passos, visivelmente contrariado, foi a Sala das Comissões onde chegou precedido de seguranças e de diretores da Casa. Ali, foi curto e grosso: “O senhor Luciano Barreto pode fazer esta reunião em sua casa e em sua empresa. Aqui não, porque este ato não foi aprovado pelo legislativo”.
“Este é um dia negro para o Legislativo. A casa do povo sofreu um inusitado processo de censura que deve ser rejeitado por todos aqueles que são democratas”, disseram em uníssono os deputados que participaram da reunião informal – que terminou não se realizando. E isto ainda vai render.
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