Luto: riscos e omissão no transporte irregular de trabalhadores rurais

A tragédia vitimou sete pessoas que morreram no local do acidente Fotos: Portal Infonet
Uma cena comum no interior do Estado de Sergipe, onde muitos trabalhadores arriscam a vida sendo transportados em caminhões sem nenhuma segurança. Na noite da última segunda-feira, 31, sete trabalhadores não voltaram para as suas casas após um trágico acidente que deixou o triste saldo de mais de 30 pessoas feridas. Os números não são oficiais, mas quem estava no local do acidente afirma que 37 pessoas estavam na carroceria do caminhão que transportava laranjas.

Para a dona de casa Edvânia de Jesus Almeida que perdeu a mãe, Maria Lenildes, de 49 anos, o acidente poderia ter sido evitado. “O motorista não teve a piedade de pedir para as pessoas descerem. Minha mãe fazia esse serviço em vários lugares do Estado, mas nunca tinha acontecido nada sério”, lamenta.

Para o Secretário de Sssalariados da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Sergipe (Fetase), Nunes Santos Alexandre, o transporte irregular de trabalhadores rurais, principalmente os

Maria Lenildes com a filha Edvânia
que trabalham na colheita da laranja é feita em pelo menos nove municípios sergipanos. “Ano passado durante o ‘Grito da Terra Sergipe’ nós colocamos essa problemática do transporte de trabalhadores em caminhões carregados de laranjas. A Fetase não tem poder de polícia e por isso, não pode fiscalizar, mas é necessária uma maior fiscalização por parte da CPRV. Reivindicamos junto ao governo que intensificassem a fiscalização em toda a região centro-sul”, conta.

Um problema conhecido que segundo o secretário pode ser facilmente encontrado em diversos municípios sergipanos. “Esse transporte é feito na região de Pedrinhas, Arauá, Tomar do Geru, Cristinapólis, Estância, Salgado, Riachão do Dantas e Lagarto”, afirma.

Nunes Santos salienta que há cerca de sete anos a Fetase realizou uma campanha junto a CPRV, mas a falta de continuidade da fiscalização terminou em novos acidentes. “Vários donos de

A ponte de madeira não suportou o peso e cedeu
caminhões foram notificados, mas a fiscalização não continuou e por isso, não é difícil encontrar um caminhão carregado e trabalhadores em cima das cargas”, diz.

Desamparo

O secretário de assalariados da Fetase ressalta que muitas famílias podem ficar desamparadas. O problema é que esses trabalhadores não possuem vínculo com o proprietário da terra que contrata o serviço de coleta das frutas.

“Essa é uma questão preocupante, porque muitos agricultores ficaram sem assistência. Temos cobrado o cumprimento da lei n.11718 de 2008 que prevê que os trabalhadores assalariados tenham um contrato assinado que comprova que são trabalhadores rurais, mas não é fácil ter esse contrato. Já para os agricultores familiares fica mais fácil receber uma indenização porque tem como comprovar que são trabalhadores rurais”, declara.

Responsabilidades

O governador decretou luto oficial de três dias
Para Nunes Santos a tragédia tem vários responsáveis. “Todo mundo tem um pouco de culpa, a CPRV por não fazer uma fiscalização frequente nas rodovias estaduais e o município por manter essa ponte de madeira sem nenhuma segurança”, alerta.

Fiscalização

De acordo com o comandante da CPRV, major Rollemberg, a estrada que aconteceu o acidente é de responsabilidade do município. O comandante salienta que a fiscalização nas rodovias estaduais é feita somente através de operações. A dificuldade segundo Rollemberg é por conta da falta de postos fixos da CPRV nos municípios.

“Já temos estudo para implantar postos nos municípios de Neópolis e Japoatã. O grande problema é que a fiscalização esbarra na questão social porque falta transporte eficaz e muitas vezes as pessoas são obrigadas a correr o risco de pegar um transporte irregular”, salienta o comandante, destacando que na próxima semana irá discutir a fiscalização de transportes irregulares durante

O comandante da CPRV Foto: Ascom CPRV
audiência na Procuradoria do Trabalho.

Luto

O governado Marcelo Déda decretou luto oficial de três dias e afirmou em seu Twitter que comparecerá ao sepultamento das vítimas. O assunto repercutiu na Assembléia Legislativa na manhã desta terça-feira, 1º. Segundo informaçãoes da Agência Alese o deputado Mardoqueu Bodano (PRB) disse que ouviu relato dos familiares de que o motorista se evadiu do local do acidente e ainda lamentou a perda da laranja que era carregada, não se importando com as vítimas que perderam a vida e as outras que ficaram feridas.

“Cabe aqui cobrarmos não só da Polícia Rodoviária Estadual e também do governo do Estado, para que se dê uma maior atenção para a fiscalização desse transporte dos trabalhadores da citricultura”, disse.

O líder a bancada de oposição, deputado estadual Venâncio Fonseca (PP), enfatizou o assunto. “Eram trabalhadores que estavam ganhando seu sustento e tragicamente vinham em cima de um caminhão, quando a ponte caiu”, acrescentou.

Acidente

O acidente aconteceu na noite da última segunda-feira,31, em uma estrada do povoado Fonte Nova, que liga Estância a Boquim. A ponte, cuja parte do material estava podre, cedeu com o peso do caminhão, levando o veículo a tombar. Sete pessoas morreram. O caminhão só pôde ser retirado com a ajuda de um guincho. 

Por Kátia Susanna

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