Moradores de dois povados de Capela sofrem com falta de água

Adeilde pediu desligamento da rede de água e utiliza só o poço (Fotos: Portal Infonet)

O título de ‘Princesa dos Tabuleiros’ vem sendo tomado como sinônimo de desgosto por parte de população de Capela, cidade localizada a 67 Km da capital sergipana, por causa das constantes interrupções no abastecimento de água nos povoados e regiões mais afastadas do centro. Em pelo menos duas comunidades os moradores entrevistados dizem que o problema se arrastada há pelo menos seis meses. Na semana passada, quando uma equipe do Portal Infonet esteve na cidade, algumas famílias relataram que estavam com as torneiras vazias havia quatro dias.

A situação só consegue ser contornada porque em algumas casas as famílias dispõem de poços artesanais e acabam compartilhando do recurso com os vizinhos que não têm a fonte alternativa. A água captada em baldes serve para todas as atividades cotidianas: tomar banho, lavar roupas e pratos e para o consumo humano. Um exemplo é o que ocorre com Adeilde dos Santos, moradora do Povoado Vila Pedras que divide a água com mais duas vizinhas.

Essas três casas do Povoado Vila Pedras dividem água do mesmo poço

Ela explica que pediu o desligamento da rede de abastecimento porque estava pagando por algo de que não dispunha conforme a necessidade. “Vai fazer um ano que estamos nessa situação. Antes pelo menos chegava á meia-noite e ou eu ficava acordada ou deixava as torneiras abertas. Mas de uns cinco meses até aqui não chega de jeito algum. Se não fosse o poço não sei como estaria vivendo”, relata a dona de casa.

Apesar da escassez de água, Adeilde disse que a conta sempre chegou com pontualidade. “Não ia ficar pagando por algo que não vejo, então pedi pra cortar e agora só uso da fonte”, acrescentou a moradora. Uma das vizinhas dela, a zeladora Edenice Batista dos Santos, pretende seguir o mesmo caminho, mas por enquanto opta por não pagar por aquilo que não consome. As contas acumulam valores que variam de R$ 12 a R$ 15. “Nem ‘dá gosto’ pagar”, disse. “Moro aqui há 14 anos e sempre enfrentamos esse problema. Antes, porém, faltava com menor frequência. Depois foi piorando, comecei a ficar acordada de madrugada pra encher os reservatórios. Agora há dias que nem chega”, lamenta.

Moradores dizem que apesar da falta de água, a conta chega pontualmente

Em outro ponto do mesmo povoado os moradores dizem que pela manhã a água só dura nas torneiras por uma hora – geralmente das 7h às 8h – voltando depois das 20h. “Mas há dias em que nem à noite chega”, ressaltou a dona de casa Adelaide dos Santos, que tem um bebê com um mês de vida. “Faz dois anos que moro aqui e sempre tivemos esse problema. Apesar disso a conta sempre chega”, reclamou ela, alegando que a conta de água não chega por menos de R$ 20.

Povoado Cuminho

No Povoado Cuminho, comunidade vizinha à Vila Pedras, onde vive há oito anos também dona de casa Josilene Menezes Santos, confirma que a água chega às torneiras em escassez, mas contrapõe os demais dizendo que o problema é recente. “Aqui chega por volta das 8h30 e às 9h30 não tem mais nada. Às vezes volta logo, mas às vezes não. Quando o entregador traz a conta sempre ouve minha reclamação, mas a resposta nunca vem”, disse. Por mês o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Capela lhe envia uma cobrança de R$ 20.

José dos Santos Júnior, que mora na comunidade desde que nasceu, disse que até o atendimento nos postos de saúde

No Povoado Cuminho moradores dizem que até o atendimento médico é prejudicado

dos dois povoados fica prejudicado, principalmente os dentistas, pois sem água não é possível fazer qualquer tipo de consulta. “Já reclamei várias vezes no SAAE e ninguém faz nada. O médico veio hoje e voltou por que não tinha água. Nas partes mais altas não chega nem uma gota, mas os talões sempre chegam”, declarou.

Falta de energia

O prefeito de Capela, Manoel Messias dos Santos Sukita, confirmou que há problemas no abastecimento, mas negou que a falta de água seja constante. “Isso ocorre desde o início da minha gestão”, afirmou. Ele disse que o fornecimento de água é regular, mas cerca de 80% da população não tem caixa d’água justamente por confiar no sistema que ele classificou como “o melhor serviço, com a água mais barata e de melhor qualidade”.

Por outro lado, Sukita explicou que a captação do recurso natural estava estrangulada e que por isso a água não tem força suficiente para chegar a todo o município. As dificuldades mais recentes, no entanto, são atribuídas por ele às constantes quedas de energia. Isto porque a rede atual de captação, e toda a rede elétrica que a mantém funcionando, fica dentro da reserva de Mata Atlântica localizada no território da cidade. Com as chuvas mais recentes algumas árvores acabam caindo sobre os fios, o que interrompe os trabalhos de bombeamento. Um problema que já está sendo resolvido pela Energisa, conforme garantiu o prefeito.

Reservatório em que Josilene guarda água no Povoado Cuminho, onde vive há 8 anos

Novo aquífero

Segundo Sukita, a rede de abastecimento será reforçada ainda este ano. Ele explicou que a cidade está sendo abastecida atualmente com 200 mil litros por mês e o consumo está girando entre 190 e 195 mil litros, sobrando uma reserva técnica de apenas 5 a 10 mil litros. “Fizemos um estudo para verificar um novo local para captação e descobrimos um aquífero no mês passado. Já fizemos um poço de prospecção e em até 60 dias a adutora fica pronta, quando o problema deve ser resolvido”, explicou.

O novo poço fica localizado a 3 km da sede do Povoado Vila Pedras e deve ter uma vazão de 35 mil litros por mês, o que, de acordo com o prefeito, deve melhorar a situação pelos próximos 50 anos. “É um aquífero muito bom, um dos maiores de Sergipe”, garantiu.

Por Diógenes de Souza

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