Casas da região “Coelho”, em Maruim, destruída
Uma semana após a enchente que assolou a cidade de Maruim, apenas restaram aos 200 moradores desabrigados as histórias para contar das roupas, móveis, documentos e objetos que perderam naquela situação. Eles se aglomeram no prédio de uma escola municipal, onde as palavras mais escutadas nos corredores são ‘Deus’ e ‘Jesus’.
Desespero
Questionados sobre suas reações ao verem a água tomando conta de suas residências, os desabrigados fazem coro. “Foi um desespero total. A gente não sabia o que fazia, se saía de casa logo, se tentava salvar alguma coisa. Eu tenho 60 anos, nascida e criada aqui em Maruim e nunca vi uma situação daquela”, declarou Maria Auxiliadora, ex-moradora.
Emocionada, Simone Santos enumera todas as coisas materiais conquistadas a base de uma vida de luta junto ao marido desempregado e que foram perdidas em uma única noite de enchente. “Só nos restaram as roupas do corpo. O que me conforma é que eu, meu marido e meus três filhos saímos vivos daquela inundação e que podemos recuperar o prejuízo trabalhando”, falou.
Tentando alegrar
No fundo da escola, um barulho de forró pé-de-serra chamava a atenção. Quem e por quê estaria tocando uma música tão animada em um momento tão difícil quanto àquele? Seu José Casemiro explica. “Eu e meu colega da zabumba aqui tocamos pra ver se melhora o ambiente e o clima de tristeza. Não podemos passar a vida inteira chorando”, disse. José Casemiro e amigo, cantam para espantar tristeza no abrigo
Mas Casemiro não cumpre o próprio conselho quando mostra as únicas coisas que conseguiu salvar naquela noite de 8 de maio: o som, a boneca da esposa e um retrato da família. “A gente tinha uma casa arrumadinha, tinha acabado de comprar um fogão, um sofá e um camiseiro que as prestações ainda nem acabaram. Estou com esperança, mas a dor é forte”, revelou em meio às lágrimas.
Tratamento
Após terem suas residências destruídas, os maruinenses desabrigados foram encaminhados à escola Municipal Cel. Sabino Ribeiro. Divididos em 10 amplas salas, receberam colchões da Secretaria Municipal da Ação Social, a mesma que se encarregou de servir três refeições diárias a eles. “Eles nos trataram bem e procuraram logo confortar todo mundo. A primeira-dama do Estado, Eliane Aquino, foi maravilhosa, enfrentou a barra aqui junto conosco”, disse Simone. Mulheres lavam roupas doadas por conterrâneos
Além de acomodação, colchões e refeições, os moradores receberam muitas promessas do governador Marcelo Déda (PT) e do prefeito de Maruim, Jeferson Santos (PT do B), que estão em Brasília. “Déda veio aqui, falou com a gente, e disse que vai procurar ver a construção de casas em um lugar distante do Coelho, para que isso não venha se repetir”, disse José Casemiro.
Nestes dias em que suas vidas tornaram-se provisórias em uma sala de escola pública, estas 200 pessoas estão sem rumo, mas com muita esperança de reconstruir parte de uma história que a correnteza do rio Ganhamoroba levou junto com a água da chuva.
Por Glauco Vinícius e Raquel Almeida