Moradores do Morro do Avião não querem deixar barracos

Mesmo com risco, famílias permanecem no local (Foto: Portal Infonet)
Mesmo com a determinação da Defesa Civil para que famílias em áreas de risco deixem seus barracos imediatamente, alguns moradores do Morro do Avião recusam-se a deixar o local. Com a chegada de chuvas, novos desabamentos são iminentes. O Portal Infonet esteve no local novamente na tarde da última quinta-feira, 15, quando algumas pessoas mostraram as condições precárias em que se encontram.

O catador Damião Bezerra dos Santos mora no morro há mais de dez anos. Ele diz que não pode sair de onde mora e ir para os abrigos disponibilizados pelo Estado porque depende unicamente de dois cavalos para trabalhar. “Trabalho com reciclagem, vivo disso. Não tem como sair daqui e deixar os animais se dependo deles”, explica. Mesmo insistindo em ficar no local, ele diz que ter medo d enovas chuvas. “Minha casa está caindo. Toda vez que chove tenho que emendar alguma coisa, se não cai tudo por cima da gente”, diz.

Damião diz que depende de cavalos para trabalhar e por isso não sai (Foto: Portal Infonet)

Damião reclama, ainda, da demora em receber uma casa. Ele diz que em todo esse tempo que vive no Morro do Avião, já participou de diversos cadastros em projetos sociais, mas nunca foi contemplado com um imóvel. “A gente sempre vai atrás da Prefeitura e dizem que não tem previsão. Tenho todos os documentos comprovando cadastro, mas só nos enchem de promessa”, afirma.

Maria de Fátima Ferreira, também catadora, apresenta o mesmo motivo para não sair do barraco de menos de 15m² onde vive com a família. “Também dependo dos bichos para trabalhar, ir para o abrigo, assim, não dá”, confirma. Ela diz ainda que está dormindo em colchões molhados, no chão encharcado pela chuva. “Nossa situação é horrível. Há anos esperamos por um lugar melhor para viver, mas até agora nada. Meu barraco está prestes a cair”, lastima.

Maria Geane com o casal de gêmeos recém-nascidos tem medo das chuvas (Foto: Portal Infonet)
Já Irailda Matias Santos só ganhou colchões e lençóis por doação da igreja que freqüenta. “Em 2008 fizemos o cadastro para o bairro Novo. Soubemos que muita gente já ganhou as casas, mas nós daqui ainda não. É muito sofrimento”, diz.

Sem ajuda

Já os moradores cujos barracos estão localizados na parte mais alta do Morro do Avião reclamam que até agora não receberam a visita da Defesa Civil. Maria da Cícera diz que os técnicos estiveram apenas na parte baixa do morro. “Eles não subiram aqui, mesmo a gente indo lá embaixo chamar. Um deles disse que não viria para não sujar a bota”, conta. Ela mostra o barraco escorado com um pedaço de madeira, medida paliativa para evitar o pior. “Mas não sei se vai dar certo. Isso vai acabar caindo, porque atrás passa um riacho que se forma quando chove”.

Homens cosntruíam mais um barraco no local (Foto: Portal Infonet)
Em outro barraco mora a filha dela, Maria Geane Conceição, que havia chegado da maternidade na mesma tarde, com um casal de gêmeos, e também teme a chegada de mais chuva. “A situação é essa. A gente só pode apelar para Deus, porque a ajuda demora a chegar”, diz.

Flagrante

Durante a visita da equipe do Portal Infonet ao local, flagramos alguns homens construindo mais um barraco. “Tem muita gente que chega assim, do nada, porque quer ganhar casa de graça. E às vezes acaba conseguindo, mas a gente continua aqui sofrendo”, desabafa um morador que não quis se identificar. “Aqui tem barraco que vive fechado, só para demarcar local e ver se consegue alguma coisa”, acrescenta.

Defesa Civil

No bairro Industrial, situação é mais crítica, de acordo com o Major Mateus(Foto: Portal Infonet)
O secretário executivo da Defesa Civil do Estado, Major Mateus, confirmou que o órgão enfrenta dificuldades para retirar as famílias das áreas de risco por conta da recusa de muitos moradores em abandonar os barracos. Caso permaneça a resistência, ele disse que a Defesa Civil vai elaborar termos de responsabilidade para que essas famílias assinem que estão cientes do risco que sofrem. “Muitos não querem ir para os abrigos porque têm medo de ficar sem ter para onde ir depois. E há uma reclamação geral, ainda, quanto ao fato de algumas famílias ficarem em hotéis, com maior conforto”, explica.

Além do Morro do Avião, o Major informa que moradores de uma encosta localizada na rua Curitiba, no bairro Industrial, encontram-se em uma situação cujo nível de risco é bem maior e também não querem deixar o local.
No local, muro foi derrubado por deslizamento na enconsta (Foto: Portal Infonet)

“Essa área está por um fio. Temos que retirar essas famílias de lá e demolir as casas. Mas não dá para fazer isso se não há onde abrigá-las. Temos que tratar disso antes mesmo da chegada do inverno, porque ali a tragédia é anunciada”, ressalta.

No Morro do Avião, acrescenta o secretário da Defesa Civil, a questão é, como ele define, histórica. “O problema ali é antigo. Vem de antes dessas chuvas. Tem gente que só invade a área para ganhar casa, mas há muitas pessoas que estão ali porque é a única alternativa”, pontua. Ele também negou que qualquer técnico tenha se negado a subir o morro. “Visitamos todas as casas, porque os próprios moradores nos levavam aos barracos. Quando a gente examina o local e dá o nosso parecer, eles não aceitam. Barraco é vulnerável a vida inteira”, diz.

Por Diógenes de Souza e Raquel Almeida

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