Moradores passam mal após nova destruição na Cabrita

Eldo, e um pouco mais atrás, Genivaldo, lamentam perdas (Fotos: Monique Garcez/ Portal Infonet)

Angústia e desespero marcam a nova ação de retirada das famílias no povoado Cabrita, em São Cristóvão. Eles acordaram na manhã desta quinta-feira, 20, com a presença da Polícia Militar e de um trator. Após a destruição de várias residências em um terreno do povoado, as famílias se alojaram em um barracão improvisado. A intenção hoje da ação era derrubar as árvores e plantações e fazer com que os moradores saíssem da área. Em um ato de desespero populares tentaram parar o trator e furaram o pneu da máquina.

Um dos policiais, que estava sem identificação na farda e disse a equipe da Infonet não poderia informar o nome, alega que só o comando da operação poderia falar. O policial apenas disse que após a reintegração realizada na semana passada as famílias não deveriam estar no local. O comando de operações da PM não estava na área derrubada nesta quinta-feira.

Durante a ação da polícia, uma moradora não suportou presenciar a destruição das árvores, que segundo os ocupantes eram fonte de alimentação para as famílias, e desmaiou. A mulher que não teve o nome divulgado, foi socorrida por um dos moradores do local.

Desespero

"Estão tirando à força e derrubando tudo o que foi plantado aqui", conta emocionado Eldo dos Santos, que vivia com a esposa e mais três filhos crianças. Enquanto consolava o amigo, Genivaldo Ramos lamenta a perda dos animais que criava. "Os porcos estão soltos e mataram uma ruma. Esbagaçaram tudo aqui e se mandaram. São todos miseráveis e um bando de infelizes. Muitos vão para o inferno e eu não tenho pena", desabafa.

Moradora ficou desesperada após derrubada de pé de jaca e…

A senhora Ginalva Isaias conta que criou netos e bisnetos no povoado e que depois de mais de 20 anos que mora no local, aparecem possíveis donos pleiteando o terreno. “Um diz que é dono, outro também, mas cadê os documentos? Os donos somos nós. E se não existir justiça na terra, existe a de Deus”, argumenta.

Dormindo em tapumes

No barracão, Ginalva apresenta o que restou. Ela aponta para um pequeno pedaço de tapume que está no chão e diz: “está vendo isso aqui? É onde as crianças dormem”. Em grandes panelas ela mostra as comidas que foram doadas e conta que está há duas noites sem dormir para preparar alimentos para os pequenos. No fim ela comenta que se sente muito triste por ver que tudo o que foi plantado há muito tempo, agora está destruído. “23 anos não são 23 dias”, resume.

A filha dela, Vanderleia Isaias disse que ela e as demais famílias não vão desistir da área. Ela lamenta a destruição das árvores frutíferas, que eram fonte de alimento. Já para Mizael, tudo não passa de uma ação de massacre. “A justiça disse que estava aqui para nos proteger, mas veio aqui foi para destruir 217 famílias. Nós estamos sendo massacrados”, afirma.

… acabou desmaiando

Terreno

O deputado João Daniel (PT) foi até o povoado para acompanhar a ação de retirada das famílias. Ele informa que até o momento não foi apresentada nenhuma documentação que ateste o porquê desta ação de hoje.

“Essa área tem histórico que é do governo. A Deso entrou com ação na justiça desde a última sexta-feira alegando que o terreno era dele. Existe ação do estado comprovando a posse. Essa ação está sendo cumprida a partir do julgamento de apenas uma das ações. Pelo que sei, o comando da Polícia Militar deu cobertura para que essa ação acontecesse”, relata o deputado.

Deso

O Portal Infonet entrou em contato com a Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso), para esclarecer as informações prestadas por João Daniel, mas ainda não recebeu retorno. Continuamos a disposição através do telefone (79) 2106-8000 e do e-mail jornalismo@infonet.com.br.

Polícia

Ginalva mostra comida fruto de doação

Moradores tentando parar trator

Pneu foi furado

Árvore sendo derrubada pelo trator

Mizael reclama de situação

Sobre a presença da polícia na ação de hoje, o tenente-coronel Paulo César Paiva, chefe do setor de comunicação da PM, informa que houve uma solicitação por parte do dono do terreno, por conta da resistência dos ocupantes. Ele explicou também que acontece a consolidação da ação de reintegração, pois alguns moradores tinham alegado que não poderiam sair na sexta sem retirar o restante dos pertences do local.

O tenente-coronel ainda informa que, por conta da resistência dos moradores, saiu uma nova determinação judicial para que seja realizada uma nova ação de reintegração de posse, que ainda não tem data para acontecer.

O tenente-coronel Paulo César Paiva informou que o Comando Geral da PM recebeu ofício do do juiz Antonio Cerqueira determinando o reforço policial no local para cumprimento da ordem judicial. "Esta é a explicação para a presença da Polícia Militar hoje pela manhã acompanhando o autor da ação no terreno", destacou o tenente-coronel. Ele informou que não fez esta observação anteriormente porque desconhecia o ofício encaminhado pelo juiz ao Comando Geral da PM.

*A matéria foi alterada às 14h21 para incluir novas informações do tenente-coronel Paulo César Paiva

Por Monique Garcez

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