Morro do Avião: infância abandonada

Crianças que moram e brincam em meio ao perigo de doenças Fotos: Portal Infonet
Crianças que dividem espaço com lixo e insetos em barracos que correm o risco de desabar. Esse é o quadro de menores que moram no Morro do Avião, localizado no bairro Santa Maria, zona sul da capital. Muitas famílias moram no local há pelo menos 10 anos e reclamam que os filhos não têm alternativa na vida. Mães denunciam que por falta de registro de nascimento os filhos não têm acesso a escolas e creches.

Mãe de quatro filhos menores de idade e mais dois gêmeos de apenas dois meses, a dona de casa Maria Geane Conceição Messias lamenta a falta de oportunidades para os filhos. A mãe que foi obrigada a entregar dois filhos ao tio que mora no Estado de Alagoas, diz que não sabe como será o futuro de Maria Vitoria e João Vitor.

“Meu marido cata garrafas e com o pouco que ganha compra alguma coisa para a gente comer, nossa situação não é boa, mas a gente vai levando a vida como Deus permite”, diz Maria Geane. 

Maria Geane lamenta pelo futuro dos gêmeos
A dona de casa que mora no Morro do Avião há 10 anos conta que não amamenta os filhos porque não tem leite no peito. “Agora fico assim sem saber o que dá para eles porque leite está caro”, lamenta a mãe que não conseguiu registrar os filhos.

“Não registrei ainda porque eles nasceram em Alagoas e parece que não podem registrar aqui, mas os gêmeos vou registrar ainda essa semana”, diz Geane.

Aos 18 anos a dona de casa Ingrid Stefane Lima também sonha em proporcionar um futuro melhor para o filho de apenas três anos. “Meu marido trabalha como pedreiro e eu fico em casa cuidando do meu filho, mas quero colocar ele em uma escolinha particular para ele poder estudar e ter um futuro melhor”, deseja Ingrid.

A falta de estrutura faz com que muitas mães tenham que morar longe de seus filhos. A catadora Maria de Fátima Ferreira de Lima mãe de quatro filhos enfrenta esse dilema e diz que apesar de

Giuvania deseja um futuro melhor para os filhos
saber que os filhos estão bem, gostaria de poder morar com toda a família.

“Meus filhos já são maiores eles tem 11,13 e 16 anos e não podem morar aqui porque não tem nada bom para eles, então eles moram com a minha mãe. Mas comigo tem um menino de nove anos que ainda não estuda porque não consegui encontrar vaga na escola próxima”, relata.

Com apenas 22 anos a dona de casa Giuvania Bezerra diz que os filhos de sete e nove anos não estudam porque falta a transferência escolar das crianças. De acordo com Giuvania a família é natural de Propriá e não teve condições de retornar para pegar a documentação dos filhos.

A jovem mãe diz que os moradores do Morro do Avião estão esquecidos. “Nossos filhos estão esquecidos aqui, ninguém procura a gente para orientar ou oferecer um futuro melhor para os nossos filhos. Essas crianças ficam aqui o dia todo sem direito a uma escola, elas brincam nessa rua cheia de lama e sujeira arriscando até pegar uma doença grave”, ressalta Giuvania.

Rodrigo aproveita para brincar, mas já sabe que precisa estudar muito
Sonhos de infância

Apesar das dificuldades as crianças que moram no Morro do Avião sonham em deixar o local. Entre os pedidos de um lar seguro e limpo ou simplesmente um parque para brincar com os amigos, as crianças também querem um futuro melhor.

Aos 13 anos, Rodrigo da Conceição Santos, diz que gosta de estudar. O jovem já escolheu a profissão. “Quero ser policial, acho uma profissão bonita, vou estudar para ser policial e poder ajudar a minha família”, diz.

Brincar também está nos planos de Rodrigo que não dispensa o estilingue [Um pedaço de madeira em forma de “V” com um cabo comprido e as pontas são amarradas com elástico]. “Quando chego da escola vou direto brincar um pouco pego meu estilingue e subo no morro para caçar”, conta.

Aos nove anos, Geovana Bezerra está fora da sala de aula, mas não esquece a profissão que já escolheu. “Vou estudar muito e ser professora”, afirma a menina que brinca na lama e sujeira, alheia ao perigo de doenças.

A coordenadora do Cras afirma que fará um levantamento com todas as famílias
Assistência

A coordenadora do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), do Santa Maria, Renata Fagundes, lembrou que o bairro é beneficiado por diversos orçamentos da prefeitura. De acordo com coordenadora do Cras apesar dos trabalhos realizados pela Secretaria Municipal da Assistência Social (Semasc), a demanda da população é muito grande.

Com pouco mais de um mês desempenhando a função no centro, Renata diz que não teve tempo para fazer o levantamento das famílias que moram no Morro do Avião. “Toda a equipe do Cras é nova. Estamos começando a nos inteirar de toda a situação do bairro, mas vamos fazer um levantamento de todas as famílias para saber a real situação”, afirma.

Renata ressalta que por conta das chuvas toda a equipe do Centro de Referência de Assistência Social passaram a ter como prioridade o acompanhamento das famílias que estão alojadas na Escola Vitória do Santa Maria e Laonte Gama, ambas localizadas no bairro Santa Maria.

“Toda a nossa equipe de psicólogos, assistentes sociais, técnicos e educadores, estão atendendo as famílias que estão alojadas nas escolas, mas vamos fazer um planejamento para trabalhar com

A promotora disse que tomará uma providência
visitas domiciliares”, esclarece.

Ministério Público

Procurada pela equipe do Portal Infonet, a promotora do Ministério Público Estadual, Miriam Teresa Machado, disse que não têm conhecimento sobre crianças que não possuem certidão de nascimento no Morro do Avião, mas que após o questionamento afirmou que iria tomar uma providência.

“No Ministério Público temos uma campanha forte sobre a necessidade do registro de nascimento, não tinha conhecimento da situação”, explicou à promotora de Justiça da Infância e Adolescência.

Por Kátia Susanna

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