“Musicalidade”, por Rubens Lisboa

LANÇAMENTO

 

Cantora: MART’NÁLIA

CD: “AO VIVO”

Gravadora: NATASHA / UNIVERSAL

 

Embora seja muito cedo para lançar um disco ao vivo (já que, antes deste, somente havia posto no mercado mais outros dois), está nas lojas o novo CD de Mart’nália, o terceiro de sua carreira, oriundo do registro de um show capitaneado pela diretora Márcia Alvarez.

 

Inobstante não seja uma grande cantora, a carioca é dona de um carisma único e de uma ginga e simplicidade que somente os bons possuem, mesmo que, por outro lado, fique clara a sua timidez nas horas em que tem que se dirigir ao público.

 

Sambista como o pai, Martinho da Vila, Mart’nália possui uma voz sensualmente rouca, a qual, por vezes, termina lhe fazendo lembrar o timbre de Elza Soares, o que – convenhamos – é uma dádiva!

 

No disco, ela conta com a participação de vários colegas, alguns deles transformados em novos parceiros seus. É o caso da onipresente Zélia Duncan que canta em duas faixas. A primeira, uma parceria das duas, é a suave e descritiva “Benditas”; a outra é “Calma”, uma bela melodia da safra do grande baixista Arthur Maia. Com Moska, Mart’nália divide os vocais da alegre “Entretanto”, resultando num feliz encontro que já foi, inclusive, testado no último CD do cantor, o quase experimental “Tudo Novo de Novo”, na canção “Acordando”. Já com Djavan, Mart’nália ressuscita o clássico “Molambo”, numa versão mais ‘cool’ que o costumeiro, e apresenta, com incontida emoção, a razoável “Celeuma” que o alagoano compôs especialmente para ela.

 

Há ainda boas parcerias da cantora com Mombaça (“Beco”) e com Viviane Mosé (“Contradição”), mas os melhores momentos do trabalho ficam a cargo do talento de Caetano Veloso que a presenteou com o genuíno “Pé do Meu Samba” e com “Chega”, outra parceria com Mombaça, música maneira e inspirada que fecha o disco.

 

Como se trata de um CD gravado ao vivo, algumas falhas se tornam detectíveis. Tais afloram nas faixas que registram ‘pout-pourris’, nas quais a qualidade da execução dos arranjos cai, e na faixa da qual participa Martinho da Vila, devido aos excessos vocais por ele cometidos, talvez no ímpeto de aparecer mais do que a filha.

 

No geral, todavia, o trabalho serve para credenciar a cantora como uma daquelas em quem mais se aposta no atual mercado fonográfico brasileiro. Mart’nália é, sem sombra de dúvida, um nome em ascensão e não seria leviano nem exagerado arriscar dizer que, muito em breve, poderá vir a se transformar em um ícone pop, assim como, por exemplo, foi feito com Marisa Monte e Maria Rita, claro que cada uma dentro de sua seara: Mart’nália é sambista inata e daí não deverá se afastar. Mas conhecer o seu trabalho é uma obrigação urgente para quem não quiser perder o trem da história!  E o  seu novo CD já é um bom começo…

 

NOVIDADES

 

·                     Além dos novos CDs dos cantores Nino Karva e Kleber Melo, ambos prometidos para este ano, a música sergipana deverá contar também com mais dois outros lançamentos de peso, os quais já se encontram, inclusive, em fase de gravação: trata-se de Mingo Santana e de Emmanuel Dantas. Enquanto Mingo parte para o seu terceiro disco, Emmanuel planeja com esmero o seu trabalho de estréia, um álbum inteiramente voltado para o samba.

·                     Leila Pinheiro pediu, insistiu e no final conseguiu o que queria: Chico Buarque pôs letra numa melodia inédita de Ivan Lins, o que resultou na primeira parceria dos dois. A canção que se intitula “Renata Maria” estará no CD que Leila atualmente termina de gravar e que em breve estará nas lojas, marcando a estréia da cantora na gravadora Trama.

·                     Falando em Chico Buarque, ainda não se sabe se ele aceitará lançar o seu próximo CD de inéditas pela nova gravadora Sony-BMG (oriunda da recente fusão das duas multinacionais), mas o inspirado artista já começou a compor as primeiras canções do trabalho que é aguardado com ansiedade. Quem viver, verá!

·                     A pequena gravadora Rob Digital põe nas lojas o mais novo CD do compositor e cantor Nei Lopes, para quem não sabe um sambista de primeira linha, autor de diversos sucessos gravados por Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes (o outrora conhecido ABC do samba). O disco, diga-se de passagem excepcional, que se intitula “Partido ao Cubo”, foi produzido pelo bamba Ruy Quaresma e conta, no coro de várias faixas, com o auxílio luxuoso de Lucinha Lins e Fátima Guedes. Definido pelo próprio Nei como “uma celebração da diversidade e da jovialidade do samba”, o trabalho tem como músicas de destaque a alegre “Samba de Eleguá”, a deliciosa “Roupa de Chita”, a inteligente “Samba Como Era” e a hilária “Dona Inocência”. Embora sexagenário, Nei se mostra um cantor em plena forma vocal, dono de timbre gostoso de se ouvir e que se faz de todo apropriado ao gênero musical que abraçou. É para não deixar de conhecer!

·                     De lá da Bahia vêm os lançamentos de Rafael Pondé e de Eva Cavalcante, com os seus respectivos CDs intitulados “Átomos, Palavras, Canções” e “Reflexo Condicionado”. O aspecto de estréia fica evidente no trabalho de ambos (mais no dele), mas o que importa é que a pluralidade dos talentos baianos não sabe o que é descanso, daí porque o Estado está sempre em evidência no cenário nacional. O Governo da Bahia sabe da necessidade de investir na cultura, e mais especificamente em música, e contribui freqüentemente com apoios e patrocínios (diferentemente do nosso Sergipe em que a maioria dos políticos só se preocupa mesmo com vaidade pessoal e sede de poder), o que se constata explicitamente no caso do CD de Eva. Seu som é mais pop e dançante que o de Rafael que opta por temas mais ecológicos e pacifistas. No CD dele se destacam: “O Hippie”, “Revolta dos Malês” e “Sorriso de Flor”. Já no dela os destaques ficam com “Vou Te Esperar”, “O Navio” e “Pro Amor Não Tem Remédio”. 

·                     Também da Bahia surge o CD “Abre Caminho” da bela morena Mariene de Castro. Firmando o seu trabalho nos sambas de roda, côcos e acalantos do compositor Roque Ferreira, compositor oriundo do recôncavo baiano, a cantora mostrou ter talento inato nesse seu trabalho de estréia. Embora haja alguns excessos no tocante à produção, há faixas realmente interessantes, como “Garaximbola”, “Nonô” e “Prece de Pescador”, as melhores do disco. Dentre as regravações, encontram-se “Ilha de Maré”, “Planeta Água” e “Raiz”, já registradas anteriormente por Alcione, Guilherme Arantes e Gal Costa, respectivamente, em 1977, 1981 e 1992. A curiosidade maior do CD, todavia, reside na canção “Estrelas”, composta por Caetano Veloso quando ele tinha apenas quinze anos, comprovando-se através dela (que certamente é uma de suas primeiras criações) que o talento do cara vem de longe.

 

CD RECOMENDADO

 

Numa espécie de balanço de sua bem sucedida carreira, a sambista Beth Carvalho está lançando o CD “Ao Vivo – Convida”, que sai também em formato de DVD, ambos lançados pela gravadora Indie Records. Trata-se de um excelente painel do samba mais genuíno e contém participações especiais de gente que entende do riscado, como Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombrinha e Arlindo Cruz, além da Velha Guarda da Portela e da Bateria da Mangueira. Difícil selecionar as melhores faixas, mas “1800 Colinas”, “Saco de Feijão”, “A Chuva Cai” e “Ainda É Tempo Pra Ser Feliz” já se fazem antológicas. Isso sem falar em pérolas criadas por Cartola (“As Rosas Não Falam”), Nelson Cavaquinho (“Folhas Secas”, parceria com Guilherme de Brito) e Paulo César Pinheiro (“Som Sagrado”, parceria com Wilson das Neves). Um trabalho sensacional e pulsante da primeira à última faixa!

 

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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