ENTREVISTA MUSICALIDADE – Quem é Neu Fontes? NF – Sou um cara apaixonado pela música e pela arte da nossa terra, um teimoso, um orgulhoso, um chato, um cabeça-dura, crítico à beça, principalmente comigo próprio. Falo sempre o que penso e brigo pela minha verdade. Erro muito, mas nunca me canso de tentar. Aprendi com a minha bisavó Noemi Brandão, que nos deixou com 96 anos, que a nossa família veio ao mundo para fazer raiva e não para ter raiva. MUSICALIDADE – O que o motivou para que você criasse o CAPITANIA DO SOM? E o que o público sergipano pode esperar do Estúdio para este ano? NF – Quando escolhi trabalhar com música e arte, constatei rapidamente que somente cantando eu não iria conseguir sustentar nem a mim nem a minha família que amo tanto. Assim, resolvi aprender várias coisas dentro da área cultural: fui produzir espetáculos, ser técnico de som e luz, trabalhar com teatro infantil, aprender a ser administrador cultural, etc. Em 1984, entrei em estúdio para gravar o LP intitulado “Cajueiro dos Papagaios” e me apaixonei pelo trabalho de produção e direção. Daí, sempre alimentei o sonho de criar um estúdio meu, onde pudesse gravar as minhas músicas, bem como desenvolver uma produção local mais intensa e com qualidade, abrindo espaço para os bons músicos, arranjadores, técnicos e intérpretes sergipanos. Para 2005, depois de cinco anos de vida do estúdio, irei concretizar parte da minha idéia com o lançamento do primeiro CD do selo “Capitania do Som” e colocar no mercado um CD instrumental inteiramente gravado com músicos e compositores sergipanos. MUSICALIDADE – O que o motivou para que você criasse o Programa “NOSSA MÚSICA”, levado ao ar todos os sábados às 17 horas pela Liberdade FM? Como tem sido recebido e quais as suas expectativas com relação a ele? NF – A motivação é conseguir colocar a música sergipana em evidência. A receptividade do programa está bem legal, recebemos diversos e-mail e telefonemas, a direção da Liberdade FM está bastante satisfeita e a gente conseguiu provar que um programa como o “Nossa Música” é viável. A cada semana, o programa consegue mais audiência e já mudou a própria programação da Liberdade FM que, se antes já tocava regularmente os nossos artistas, agora os tem executado bem mais vezes. MUSICALIDADE – Com relação à sua carreira musical, você se arrepende de alguma coisa que fez? Ou de algo que deixou de fazer? E quais os planos para o futuro? NF – Não me arrependo de nada do que fiz e faço. Acho que fiz tudo que podia com relação à minha carreira musical e posso dizer que consegui muita coisa boa dentro da música: amigos, conhecimento, reconhecimento, informação e algum dinheiro. Quanto aos planos, já há algum tempo venho gravando um CD, sem pretensões mercadológicas, com as músicas de minha autoria de que mais gosto, algumas delas com parceiros, e espero poder lançá-lo em breve. MUSICALIDADE – Qual a sua análise com relação à estratégia de trabalho abraçada pela Secretaria de Cultura do Estado? E pela Funcaju? Porque a cultura é sempre relegada a um segundo plano por aqui? Há solução para isso? NF – Fica difícil analisar o que não existe, já que há muito tempo que não se cria uma estratégia ou um projeto voltado para a nossa cultura. A Secretaria de Cultura do Estado está sendo desmontada. Mesmo assim, orgulham-se por trazer vários espetáculos internacionais contratados a peso de ouro (na verdade, a peso de dólar) e ainda dizem que estão fazendo um bem enorme à cultura de Sergipe, como se pudessem enganar a todos quando mal enganam a si próprios. Mas isso não é de se estranhar, haja vista que o próprio secretário, em suas declarações públicas, não se cansa de achincalhar a arte e os artistas sergipanos. No que diz respeito à Funcaju… Bom, esse órgão me faz rir! Sou um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores em Sergipe e sempre batalhei para que, quando a gente chegasse ao poder, conseguisse colocar em prática todas as idéias do Partido. A esperança era grande, mas quando conseguimos, depois de muitas lutas, colocar no Palácio Inácio Barbosa um prefeito do PT, nada aconteceu. E digo isso hoje muito triste: foi a maior decepção da minha vida, porque constato que nunca a nossa cultura e os nossos artistas foram tão esquecidos e ignorados pelo Poder Público Municipal. E para quem acha que posso estar exagerando, vamos aos fatos: A Funcaju já teve quatro Presidentes no período dos últimos quatro anos. Nenhum deles teve qualquer ligação com absolutamente nada que se passava naquela Fundação, a qual, registre-se, não é só afeta à cultura, mas também ao turismo, ao esporte e ao lazer. A Lei de Incentivo à Cultura, que foi idéia do então vice-prefeito Edvaldo Nogueira quando ocupava uma cadeira na Câmara de Vereadores, funcionou nas gestões dos ex-prefeitos Jackson Barreto, Almeida Lima e Gama. Só não funciona na atual que tem à frente um seu parceiro político. O Forrocaju transformou-se na maior festa política do prefeito Déda e tem enviado para fora do nosso Estado quase 60% das verbas estabelecidas para a festa e já chegou ao desplante de contratar mais de 30 atrações nacionais, muitas delas equivocadas e feitas ao bel prazer da escolha de alguém deles que se julga entendido, posto que, de verdade, na sua quase totalidade não se encaixam nas nossas tradições juninas. Quanto à Escola de Artes, ela continua lá totalmente abandonada. Funciona ainda porque conta com alguns poucos abnegados que lutam, já cansados e de bote, contra correnteza da maré. O plano de transformá-la em uma escola profissionalizante volta à estaca zero todas as vezes em que há troca de presidente da Funcaju. Agora teremos mais um mandato, já que o prefeito foi reeleito e começamos muito mal já que foi nomeada para a presidência da Funcaju uma assistente social. E o pior é que sabemos que tudo isso ocorre em troca de barganhas políticas. É estarrecedor a classe artística sergipana constatar que à frente da Secretaria Municipal de Saúde tem-se um médico, à frente da Secretaria de Educação uma professora, à frente da Secretaria de Ação Social uma assistente social e à frente da Fundação Municipal de Cultura, ao invés de alguém que entenda de verdade do riscado, uma outra assistente social… MUSICALIDADE – Com a vivência que você possui, o que acha que falta ao artista sergipano para que ele possa ser reconhecido nacionalmente? NF – Falta que nós nos organizemos para que possamos aprender a cobrar desses Órgãos que existem para promover, valorizar, apoiar e incentivar a cultura e seus artistas os nossos reais direitos e as obrigações deles para conosco, lembrando-lhes que isso deve ser feito de forma decente, responsável e transparente, sem a concessão de inúteis paternalismos nem a presença de falsos padrastos. Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br. Hoje, teremos uma entrevista com Neu Fontes. Cantor, compositor e produtor musical, ele é um dos maiores nomes da música popular sergipana. Iniciou sua carreira na década de setenta e participou dos primeiros festivais de música organizados pela TV Sergipe. De lá para cá, gravou discos, como o “Cajueiro dos Papagaios” que dividiu com Lula Ribeiro e Paulo Lobo, compôs inúmeras canções e, como empreendedor cultural, organizou vários eventos, como os Festivais “Novo Canto”, “Famp” e “Sescanção”. Ex-diretor dos teatros Atheneu e Tobias Barreto, Neu atualmente é proprietário do Estúdio de Gravação “Capitania do Som”, um dos mais conceituados do nosso Estado, e está à frente do primeiro programa de rádio voltado eminentemente para a música sergipana: é o “Nossa Música” que é levado ao ar todos os sábados, das 17 às 18 horas, pela Liberdade FM, o qual vem surpreendendo pelos excelentes índices de audiência que tem alcançado. Vamos, então, às suas opiniões, sempre tão veementes e apropriadas!
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