“Musicalidade”, por Rubens Lisboa

E N T R E V I S T A

 

Nosso entrevistado desta vez é o guitarrista Marcus Vinicius, tido por muitos como o melhor guitarrista do nosso Estado. Filho único, Marcus é um ser metódico, afável e muito inteligente, conforme se pode constatar a seguir, através das respostas dadas. Além de músico inato, tem demonstrado ultimamente também sua aptidão para compor, sendo o responsável pela autoria do tema instrumental do Programa “Nossa Música” (todos os sábados, às 17 horas, pela Liberdade FM). Consciente do poder que a música exerce nas pessoas, Marquinhos (como é chamado carinhosamente no meio artístico) já integrou o grupo Água Viva e as bandas Hemisférios e Sulanca, e tocou com nomes de ponta da música sergipana, como Mingo Santana, Patrícia Polayne, Paulo Lobo e Minho San-Liver. Vamos à entrevista!

 

 

MUSICALIDADE – Quem é Marcus Vinicius?

Marcus Vinicius – Uma pessoa com múltiplos interesses, faculdades autodidatas, habilidades motoras desenvolvidas e que ama a Música.

 

MUSICALIDADE – O que o motivou a escolher a guitarra como instrumento de sua arte? Como faz para estar constantemente se aprimorando?

MV – O primeiro desejo de aprender um instrumento surgiu ao ver um show do grupo “A Cor do Som”, quando eu tinha 12 anos. Comecei a brincar com o violão aos 14, e aos 16 ganhei uma guitarra, já motivado pelo Heavy Metal. Mas desde o primário que eu tenho um bom ouvido, tanto que percebia os erros do professor Glebson tocando o Hino da Independência, nas aulas de Música – que era obrigatória no currículo escolar dos anos 70 – na Escola Nobre. Se a lembrança musical (consigo ouvir na mente) tem mais de 20 anos, a explicação teórica surgiu bem mais recente: no tema entre os versos, ele trocava três semicolcheias por uma colcheia pontuada. Quanto ao aprimoramento, além dos lugares-comuns (fazer exercícios de técnica, cuidar do equipamento, passar algum tempo “girando botões” à procura do timbre ideal), procuro ficar atento a detalhes técnicos na minha execução, além de ouvir com atenção os outros músicos e, principalmente, tento “pensar Música” num grau mais filosófico.

 

MUSICALIDADE – Com relação a sua carreira, arrepende-se de algo que fez? Ou de alguma coisa que deixou de fazer?

MV – Talvez me arrependa de não ter tentado (sobre)viver(?) somente da Música. Evidentemente, não em Aracaju. Mas hoje vivo em paz com isso, consciente de que não permaneci aqui à toa.

 

MUSICALIDADE – Qual a sua opinião sobre o momento musical atual pelo qual passa o nosso País? E o nosso Estado?

MV – O momento atual em todo o mundo é crítico devido à relativa facilidade de se consumir arte sem sair de casa e gastando muito pouco – e sem que o artista veja um centavo desse dinheiro – graças à Internet e aos programas P2P. As pessoas que têm poder aquisitivo para sustentar esse mercado são as mesmas que o renegam, e os artistas estão tendo que botar o pé na estrada para ganhar algum dinheiro. Aqui no Brasil, do ponto de vista artístico-musical imperam ainda o expediente do “jabá”, a ganância dos empresários, a opacidade do ECAD e a inércia da OMB. Ou seja, a “Constituição-Cidadã” de 88 se esqueceu da Música e pouco se faz para que isso mude. Mas tenho esperança de ver mudanças significativas a médio-prazo.

 

MUSICALIDADE – O que acha que falta aos artistas sergipanos (intérpretes, músicos e compositores) para que eles possam vir a serem reconhecidos nacionalmente?

MV – Enxergo em nossos artistas qualidades iguais ou superiores a muitos outros que estão “na mídia” e/ou são respeitados pelo que fazem. E até vou dar nome aos garrotes: Reação, Sulanca, Snooze, Alapada e Pantera são apenas alguns. Acho que lhes falta uma orientação externa séria e profissional, além de um maior senso de autocrítica por parte de cada um, para trabalharem conscientemente no que lhes é deficiente e/ou fraco, até que essa fraqueza fique tão diluída que não atrapalhe ou não faça diferença. Logicamente, estar geograficamente mais perto do eixo RJ-SP ajuda. Mas não é tudo, já que alguns dos nossos estão pelejando fora do Estado há anos…

 

MUSICALIDADE – Quais os seus planos para o futuro no que diz respeito à música?

MV – Continuar aprendendo e estudando, já que a Música sempre guarda gratas surpresas. Tocar com bons músicos que sejam boas pessoas também (isto é, uma e outra coisa, o que se torna um binômio cada vez mais raro). E, quando tiver músicas suficientes, gravar o meu CD-solo.

 

N O V I D A D E S

 

·                     O Ministério da Cultura está convocando a sociedade civil e os setores da cadeia produtiva da cultura para, em conjunto, elaborarem políticas públicas para a área. A proposta é que setores organizados das diversas áreas do fazer cultural e artístico se organizem em câmaras setoriais para efetivarem a discussão de políticas que perpassem os governos e sejam uma constante na vida da Nação. Em Sergipe, os cantores e compositores Nino Karva e Adelson Alves participaram da Reunião Nacional de Fóruns de Música realizada em Brasília no período de 11 a 13 deste mês. Na oportunidade, foram definidos os conceitos da câmara setorial de música, seu formato inicial e a sua composição. Agentes da cadeira produtiva da música sergipana (músicos, produtores, educadores, críticos, etc.) estão se reunindo todas as terças-feiras, a partir das 19:30 horas, na sede do Sindicato dos Bancários, localizada à Avenida Gonçalo Prado Rollemberg, 794, a fim de discutirem também as problemáticas estaduais e os problemas de mercado para a música produzida em nosso Estado. Os interessados não devem deixar de comparecer pois a presença de todos é muito importante!

·                     Maurício Oliveira está lançando (de maneira independente) o seu primeiro CD que leva o título de “Registro”. Bom compositor e cantor razoável, o artista tem algumas de suas criações inspiradas por grandes nomes da MPB. Assim, por exemplo, a balançada “Nega” possui ecos de Jorge Benjor, da mesma forma que “Amanhecer” traz matizes de Djavan. Nesta faixa, aliás, Maurício conta com a participação especial de Flávio Venturini. Já Alceu Valença se faz presente em “Clareia”, um sambinha delicioso, de longe a melhor canção do disco.

·                     Embora o lançamento só esteja programado para o ano que vem, a mineira Ana Carolina decidiu que entra em estúdio ainda em 2005 para gravar o seu próximo CD, o quarto de sua vitoriosa carreira. A única canção confirmada, por enquanto, é a inédita “Eu Gosto de Homens e Mulheres” que a cantora já está cantando nos seus shows e obtendo grande receptividade por parte de seu público.

·                     Lúcia Menezes é cantora conhecida no seu Estado, o Ceará, já há algum tempo. Depois de anos de batalha, está lançando pela gravadora Quarup o seu primeiro CD. O trabalho leva a assinatura do conceituado José Milton na produção e os arranjos ficam a cargo do pianista Cristóvão Bastos e do violonista João Lyra, dois nomes muito conceituados da nossa MPB. A figura física de Lúcia é quase um clone de Elba Ramalho. A voz, todavia, é bastante diferente. Embora igualmente cinqüentona, seu timbre – curiosamente – é quase infantil. Entre escolhas acertadas (“Estrada do Sertão” e “A Violeira”, por exemplo) e alguns equívocos (“O Que Vier Eu Traço” e “Foi Deus”), o disco concentra os seus melhores momentos nas faixas “Serafim e Seus Filhos” (de Rui Maurity), “Choro do Fim do Mundo” (de Flávio Henrique e Zeca Baleiro) e “Cheirinho de Mulher” (de Sivuca e Glorinha Gadelha).

 

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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