“Musicalidade”, por Rubens Lisboa

L A N Ç A M E N T O

 

Banda: SKANK

CD: “RADIOLA”

Gravadora: SONY MUSIC

 

Comprovando a velha máxima de que “toda banda de rock nacional não vê a hora de virar MPB”, a banda mineira Skank está lançando o ótimo disco “Radiola”.
 

Na verdade, não se trata de um CD de inéditas. Espertos, como não tinham repertório para lançar um trabalho totalmente novo, e cobrados pela gravadora, para porem um produto no mercado nesta época que antecede o período de Natal, os garotos (que sempre venderam muito bem) optaram por compilar quatro faixas de cada um de seus dois CDs mais recentes, “Maquinarama” (de 2000) e “Cosmotron” (de 2003), e, unindo-as a mais quatro canções nunca antes gravadas por eles, chegaram ao trabalho ora em análise.


Os dois álbuns acima destacados são aqueles que marcaram a virada na carreira da banda. Idolatrada pela turma mais jovem desde que surgiu trazendo a reboque a feitura de um reggae característico, o Skank conseguiu, ao longo de uma carreira bem pavimentada, construir diversos sucessos, tornando-se inequivocamente a banda que mais se destaca atualmente em terras brasileiras.


O vocalista Samuel Rosa é bastante carismático, canta legal e já mostrou que é um compositor muito inspirado. A opção em mergulhar no vasto oceano da MPB foi certeira e veio em boa hora. Desde que explodiu nacionalmente com o hit “Resposta”, canção posteriormente regravada pelo conterrâneo Milton Nascimento, a banda sentiu que podia ousar. O caminho é perigoso: muita gente termina se danando no meio dele, ou seja, não conquista novos fãs e ainda termina perdendo os já conquistados.

Não foi o que ocorreu com o Skank. Cada vez mais valorizados (os cachês de seus shows são altíssimos), a banda vem mostrando um talento inato para criar canções que caem nas graças do público. Uma prova disto é “Vou Deixar”, uma das músicas mais executadas este ano.

 

No recém-lançado “Radiola”, além de um novo registro para “Vamos Fugir” (de Gilberto Gil), que já toca exaustivamente nas rádios, pode-se conhecer as boas inéditas “Um Mais Um” e “Onde Estão?”, além de uma leitura singular para uma composição de Bob Dylan, a dançante “I Want You”. E para quem ainda duvida que o lado emepebístico dos rapazes veio mesmo para ficar, basta ouvir a bela “Formato Mínimo”. É fato: o Skank mudou, sim! E para melhor…

 

N O V I D A D E S

 

·                     Enquanto a paraense Fafá de Belém confirma a assinatura de contrato com a BMG, da qual havia saído brigada em 1993, para lançar um álbum centrado na obra de Chico Buarque, o mineiro João Bosco desistiu de assinar com a Trama. Preferiu primeiro concluir as gravações de seu novo disco (no qual haverá parcerias com o filho Francisco Bosco e com Aldir Blanc) para só então negociar definitivamente com alguma gravadora.

·                     Outra que está prestes a lançar um CD baseado na obra de Chico Buarque é a cantora portuguesa Eugenia Melo e Castro. Nele, vai contar com a participação especialíssima da gaúcha Adriana Calcanhotto nas músicas “Bem-Querer” e “Futuros Amantes”.

·                     E há mais mistérios na indústria fonográfica brasileira do que imagina a nossa vã inteligência. Enquanto tanta gente sem vocação alguma se torna celebridade da noite para o dia, outros de inegável talento são esquecidos. É o caso de Léo Jaime que fez merecido sucesso nos anos 80 e que passou muitos anos sem lançar nada até chegar no novo trabalho intitulado “Rock Estrela” (título de um de seus maiores hits), já nas lojas. O cara é super gente fina, tem um espírito criativo ímpar, faz músicas divertidas e gostosas, além de cantar bem legal.  Impulsionado pela inclusão da faixa “Marcianita”, gravada especialmente para a insossa novela global “Começar de Novo”, Léo resolveu arriscar-se novamente e lançou esse CD onde reaproveita vários de seus fonogramas antigos. Embora haja coisas politicamente incorretas (caso do trocadilho vexaminoso de “Aids”), há canções impagáveis como “Sônia”, “Preciso Dizer Que Te Amo” (de Cazuza, Dé e Bebel Gilberto) e “Conquistador Barato”. Tomara que o cara tenha voltado para ficar!

·                     Ressabiados desde 1998, Gal Costa e Lenine fizeram recentemente as pazes e a cantora já confirma a gravação de uma música do compositor em seu próximo CD que deverá contar com inéditas de Djavan e Caetano Veloso, além de duas parcerias entre Chico Buarque e Zé Miguel Wisnik. O motivo do entrevero entre os dois foi porque a baiana incluiu a canção “Lá e Cá”, de autoria do pernambucano, no seu fraco disco “Aquele Frevo Axé” e exigiu exclusividade. Como o compositor se recusou a vetar a gravação da música feita, na mesma época, por Jane Duboc, Gal retirou a canção de seu CD e fez biquinho. Mas agora parece que tudo está bem…

 

·                     Apostando como sempre na qualidade, a Biscoito Fino põe no mercado mais um CD do cantor Zé Renato. Desta feita, um trabalho gravado em Lisboa intitulado “Navegantes”, com a participação efetiva do grupo lusitano Trinadus, no qual fica nítido o desejo de traçar uma ponte entre o Brasil e Portugal. Os arranjos são simples, calcados em guitarra portuguesa, viola e violino, mas de uma beleza inexorável. Há recriações irrepreensíveis tanto de canções nacionais (como a faixa-título”, “Carolina” e “Malandrinha”), como de pérolas de além-mar (a exemplo de “Foi Deus” e “Nem às Paredes Confesso”). E Zé Renato já não abusa dos tons altos, o que vem comprovar que o tempo realmente confere sabedoria às pessoas. Imperdível!

 

Á L B U M  A T E M P O R A L

Lançado originalmente em 1982, em plena época áurea do vinil, este trabalho de Djavan veio a consagrá-lo definitivamente como um nome de ponta da nossa música. O rapaz tímido descoberto pelo produtor sergipano João Mello e que começou a sua carreira em terras cariocas participando do Festival “Abertura” já era compositor conhecido, com sucessos como “Flor de Lis”, “Meu Bem Querer” e “Seduzir”, mas foi o álbum “Luz”, gravado e mixado em Los Angeles, o responsável por tornar inconteste o talento do alagoano. Com um pé no jazz, o outro no samba e uma capacidade ímpar de construir belas canções românticas, Djavan começou a ser disputado por nove entre dez medalhões da nossa MPB. O disco em tela foi remasterizado para o formato CD e – ainda bem! – encontra-se em catálogo para quem desejar obtê-lo. Dele constam pérolas como a inspiradíssima “Samurai”, a sutil “Nobreza” (feita para o amigo Paulinho da Viola), a gostosa “Capim” e a contagiante “Sina” (também registrada pelo baiano Caetano Veloso). Mas não dá para deixar de citar o mega hit “Pétala”, a bela e densa “Banho de Rio” e a deliciosa “Açaí”. Irresistível! O que chega a deixar uma pergunta no ar: será que um trabalho assim pode vir a acontecer de novo…? 

 

 

Rubens Lisboa é compositor e cantor

 

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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