Notícias do 11/9

TERROR NOS EUA – Exclusivo! Carta/crônica da jornalista Clara Angélica Porto. “Se for olho por olho, o mundo vai ficar cego, lia-se a todo minuto” … “A imprensa saberá muito pouco, com uma ação que ficará mais restrita a relatos e menos a informações, afinal terroristas também vêm TV e lêm jornal” …


DOMINGO, DIA 16, NA PRAÇA DA UNIÃO

Amanheceu e era domingo. Um sol lindo lá fora, um ar ameno de fim de verão, de outono que chega. No coração, era inverno. Fomos à Union Square, onde tem um restaurante chamado Coffee Shop, recomendado por Nelson Motta no livro sobre Nova York. Lá você pode até comer Sônia Braga, em forma de apetitoso sanduiche, cheio de excessos. Tem música brasileira e feijoada, os garçons e garçonetes são atores e modelos, todos lindos e viçosos. Mas Union Square estava diferente.

Na saída do metrô, o primeiro impacto– a praça, cheia de gente, tinha um quê de tristeza. Milhares de flores com cheiro de cemitério e incensos sob o sol eram o cenário para as pessoas que se espalhavam, meio boquiabertas, meio perdidas. Vários grupos religiosos em ação. Um aglomerado de zen budistas fazia um dharma. Outro, de cristãos, ouviam um pastor afogueado em um terno escuro, suando palavras de consolo. Budistas, sentados e pacíficos, entoavam um cântico divino. Yoguis cantavam mantras com um microfone e uma pequena multidão, sentada em volta, ecoava. Algumas mulheres ensinavam técnicas de relaxamento e alívio de trauma, distribuindo folhetos com instruções– as pessoas, atentas, davam tapinhas entre os dedos, na fronte, no peito e na parte superior das costas, aprendendo o caminho prometido do alívio. Dois jovens asiáticos, sentados em um banco da praça, exibiam cartazes onde se lia: Abraços Grátis / Massagens Grátis. Pessoas se procurando, conversando, querendo oferecer conforto e consolo, buscando, em dando, aliviar a própria angústia. Músicos espalhados cantavam e tocavam. O sol batendo na testa da cantora loura mostrava restos de purpurina incolor, misturada ao suor e algumas lágrimas. Preso no cercado reservado a cachorros, um aviso: Se você não tem capacidade de limpar a sujeira do seu cachorro, você não pode ter um cachorro– uma amostra do espírito de Nova York.

Aqui, só se fala em reconstruir, seguir em frente, retomar a normalidade da vida, do trabalho, do centro financeiro. O Prefeito Giulianni acompanhou uma noiva, de fraque. Ele é impecável, em atitude e ação– era domingo e “the show must go on.” No local do desastre, centenas de trabalhadores continuavam cavando e buscando o grande nada dos destroços, com a esperança de encontrar vida, cada vez menor.

Ali, na Union Square no domingo passado, o sentimento predomiante era anti-guerra. Se for olho por olho, o mundo vai ficar cego, lia-se a todo minuto. Aquelas pessoas sabem que esta guerra é desleal e tenebrosa. As montanhas e cavernas do Afeganistão tornam impossível encontrar alguém e eles, só eles, sabem trilhar os caminhos naquele pedaço do mundo, tão cheio de dor e miséria. Lá, onde as mulheres morrem à mingua, sob a cegueira assassina do governo taliban.

Enquanto isto, o Presidente norte-americano reúne tropas, chama reservas e prepara o ataque. A quem vai se atacar? Diante do temor de novos atentados, a segurança, negligenciada há tanto tempo, é redobrada e profissionalizada. Cada vez mais, daqui para a frente, vamos saber menos. Planos e estratégias já estão altamente departamentalizados, para que um número mínimo de pessoas tenha conhecimento dos procedimentos. A imprensa saberá muito pouco, com uma ação que ficará mais restrita a relatos e menos a informações, afinal terroristas também vêm TV e lêm jornal.

Os países aliados, todos, querem alguma coisa em troca. Os não tão aliados assim, muito mais. O Paquistão já deu seu preço e a Índia também, um complicador, pois querem a mesma fatia do bolo. Osama Bin Ladden, em algum espaço entre as montanhas do Afeganistão, deve estar celebrando a vitória do ataque, enquanto oficialmente, nega autoria. O que virá a seguir? Bactérias assassinas? Esta é uma guerra de inteligência. Uma guerra internacional de caça aos terroristas, não é geografia.

O mundo está cheio de loucos. O mundo está cheio de muito loucos, como diz meu amigo Paulo Nou. E o pior é que, agora, eles têm a chave de nossa casa.

Clara Angelica Porto
Jornalista residente em NY

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