Ao deixar a cena, o Grupo Dialogay de Sergipe produziu uma lacuna que até a presente data não foi preenchida pelos grupos que surgiram logo em seguida, principalmente no que tange à causa gay. As entidades como a ASTRA e a Associação de Defesa Homossexual de Sergipe – ADHONS passaram a reproduzir de forma esporádica algumas de suas atividades, sem alcançar o público e a repercussão visualizada no tempo do GDS. Nesta esteira destaca-se o Chá Cultural, que era desenvolvido todas as sextas-feiras no fim de tarde na sede do Dialogay, que passou a ser chamado de Refresco Cultural, na ASTRA, ou Chá Cultura, na ADHONS, que repaginou a idéia e a desenvolve apenas uma vez por ano, no Auditório Lourival Baptista, como um show de transformistas.
A ausência do Dialogay pode ser sentida também na fragmentação em que o movimento incorreu ao longo destes três anos, com antigos membros da entidade abrindo instituições ou procurando mudar cláusulas do estatuto para tentar defender o público anteriormente defendido pelo Dialogay, como estratégia para conseguir mais recursos, como procedeu a ASTRA, que anteriormente só defendia as travestis e transgêneros.
Esta falta de unidade nas reivindicações é um reflexo da fragmentação do Movimento, que se soma à inconsistência dos argumentos. Esta situação dá prova de como as entidades atuais têm procurado repetir as estratégias desenvolvidas pelo Dialogay, mas sem alcançar os resultados da entidade matriz.
Deve-se considerar que o nível de rejeição à ASTRA é muito alto, com críticas constantes por parte dos gays e de muitas travestis, o que comprova o esvaziamento do Refresco Cultural e a inexistência de uma reunião aberta semanalmente, como existia no Dialogay. Cabe também afirmar que as decisões são unilateralmente definidas pela Presidência, o que impede a oxigenação e o debate das idéias na entidade.
A rejeição também é visível no Grupo ADHONS, em parte porque a entidade passou a ser vista como local de Drags Queens (transformistas). Essa situação tem levado os gays a não se identificarem com o discurso e a atuação dos membros da instituição.
Os dados levantados dão provas de que a causa gay em Sergipe deixou de ser defendida, entrando num processo de ostracismo, como sempre esteve a questão das lésbicas. Atualmente as travestis e transgêneros têm recebido maior atenção, isso em função da atuação da Associação de Travestis Unidas na Luta pela Cidadania (UNIDAS).
Some-se a tudo isso a falta de um espaço aberto diariamente e que sirva como local de encontro, troca de idéias e até mesmo para receber informações sobre AIDS, violência, direitos etc.
Com a extinção do Dialogay a cidade perdeu um importante arquivo sobre a homossexualidade, pois a instituição recebia constantemente alunos de estabelecimentos de ensino superior e até de escolas técnicas para fazer pesquisa.
A falta de campanhas de visibilidade da questão homossexual se cristalizou com os vários crimes de homossexuais que ocorreram durante os anos de 2004 e 2005 e não receberam por parte das entidades existentes a devida atenção, pelo contrário, a entrevista concedida por Thatiane Araújo ao CINFORM (MEDEIROS, 2005, p. 5) reforça ainda mais os estigmas, quando procura argumentar que estes crimes são decorrentes da ideologia proferida e propalada pela Igreja Católica e demonstra a falta de um discurso mais consistente no campo da defesa da causa homossexual em Sergipe.
Embora o movimento homossexual sergipano tenha entrado em sério declínio em 2003, restando apenas pequenos grupos gays em algumas atividades isoladas, subsistem redes de amizades criadas a partir do próprio Dialogay. Poucos militantes manifestam disposição para qualquer volta à atuação. Porém, em certos momentos críticos, os membros do ex-movimento homossexual têm estado presentes em situações que vão de encontro à violência e até mesmo dando sua contribuição à luta contra a AIDS.
A extinção do Grupo Dialogay de Sergipe (GDS) retardou em muitos anos a profissionalização do movimento social no Estado. O trabalho que vinha desenvolvendo teria levado muitas outras entidades a seguir seus passos, conforme aconteceu com a fundação do Fórum de ONGs AIDS e a efetivação do Fórum de Direitos Humanos. A prova dessa constatação é a repetição constante dos projetos desenvolvidos pelo GDS entre 2000 e 2002. Até agora nenhuma nova ação foi gestada e pensada pelos grupos de defesa da causa homossexual em atividade.
Deve-se também ressaltar que o grau de improviso das organizações do terceiro setor em Sergipe ainda é muito grande, o que as impede de conseguirem manter-se e até ganhar autonomia frente às forças políticas locais. Com isso mantem-se muito restrita a repetição de pequenas atividades ao longo do ano, somado a um amadorismo que impede a realização de momentos de planejamento e avaliação.
O movimento homossexual em Sergipe é marcado por conquistas esparsas e pouco consistentes, situação que oferece margem a pensar que nunca alcançou êxito.
Mesmo com todos os percalços vividos, o Dialogay foi a grande escola dos homossexuais sergipanos nestes últimos vinte anos, formando lideranças que hoje estão inseridos em muitas outras entidades ou órgãos públicos, desenvolvendo em geral atividades com que aprenderam a lidar no GDS.
A ausência do Grupo Dialogay de Sergipe é uma realidade presente na mente dos sergipanos que tiveram algum contato com suas lideranças ou vivenciaram alguma atividade desenvolvida ao longo de sua existência. E ainda, nenhuma instituição homossexual existente atualmente conseguiu suprir a sua lacuna.
Por Gilvan dos Santos Rosa
Licenciado em História e Especialista em Terceiro Setor e Políticas Publicas
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