Cleomar Brandi (Foto: César de Olivera) |
O amigo e colega Cleomar Brandi faleceu neste domingo depois de tanto lutar pela vida. Desde que eu o conheci, Cleomar sempre me impressionou por atenuar as adversidades de sua saúde com algumas brincadeiras ou doses de conhaque. Ele fazia aquilo de uma forma tão doce que transformava qualquer dor em amor.
A primeira vez que vi Cleomar Brandi eu ainda estava nas cadeiras da Universidade. Ele entrou com aquela cadeira de rodas e disse tudo aquilo que gostaríamos de ouvir. O quanto o jornalismo é importante, o quanto tudo que escrevemos e falamos têm ressonância social e o quanto temos “poder”. Mas neste mesmo discurso ele também ressaltou como é grande a responsabilidade por este tal poder.
Naquele momento, como mais um palestrante da Universidade, nunca pensei que um dia seríamos amigos. Nunca imaginei que sentaríamos por diversas vezes em mesas de bar, nunca imaginei que aprenderia tanto com um professor, porque era isso que Cleomar era: um “professor da vida”. Eu não me cansava de ficar horas e horas ouvindo-o. E como eram bons os seus conselhos, críticas e devaneios!
Com ele conheci grandes e pequenos músicos, atuantes ou decrépitos políticos, e muitos tantos profissionais que “passavam” em sua mesa de bar durante uma tarde de sábado. Com ele, ouvi músicas antes de serem tocadas no rádio, muitas crônicas antes de serem publicadas nos jornais e também muitas poesias escritas em guardanapos de papéis.
Tratava a todos com uma decência e importância que acabava por transformar até o mais importante rei em seu mais novo súdito. Simples, sincero e feliz por natureza, ele vendia a todos como nem alguns publicitários o fazem. Não existe um bar sequer que ele tenha frequentado que não tenha crescido. Ele fazia aquela propaganda boca a boca e, dentro de uns dias, aquele local já se tornava o point dos jornalistas. Aí, ao invés de achar ruim, por não ter mais direito a uma mesa naquele lugar, ele procurava outro que tivesse algum prato e tempero original, e assim começava tudo novamente.
Sim, comer era também uma das suas grandes paixões. Ao seu lado você também conheceria a importância dos temperos e de cada alimento. Ele falava da bebida e de sabores, como se estivesse relatando o corpo de uma mulher.
Ah! Outra paixão de Cleomar eram suas lobas. Ele apelidava cada mulher de sua convivência como uma loba de característica ímpar. Ele sempre dizia que algumas delas decidiram o seu rumo.
Além de publicitário, comerciante, poeta, cozinheiro, ele conseguia ser mestre, político, músico e conselheiro. Mas ele se destacava mesmo era como jornalista.
Amante desta linda profissão, Cleomar mostrava em seus posicionamentos e textos toda a sua ética e dignidade. Ele encontrava pautas como ninguém e transformava tudo em crônica – sempre com o seu humor sagaz e algumas vezes até cruel. Trabalhador incansável, conseguia varar noites na farra e estar bem cedo no Jornal com as idéias fervilhando para serem colocadas no papel. Poucos focas tinham tanta garra e vontade em poder trazer algo novo aos seus leitores.
Nos últimos dias, mesmo em uma cama de hospital, depois de tantas cirurgias e muitos tratamentos, as notícias e furos de reportagens ainda eram algumas de nossas pautas na cabeceira. E os pedidos por um cigarro e a vontade de sair de lá e ir comer no bar do Camilo ainda mostravam a sua fome pela vida.
Um homem admirável. Um exemplo de vida é o que Cleomar Brandi foi para mim.
Com muito amor…
Por Raquel Almeida
Editora do Portal Infonet
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