O Milagre da irmã Dulce

(Fotos: Portal Infonet)

Um segredo guardado durante 10 anos e revelado na última semana deixou milhares de católicos ao redor do Brasil e do mundo emocionados e felizes. O anúncio da beatificação da irmã Dulce após a comprovação de um milagre que aconteceu no ano de 2001 a uma sergipana da cidade de Malhador foi confirmada pelo Vaticano.

A reportagem do Portal Infonet esteve com todos os personagens que participaram desta fantástica história e conta em detalhes como tudo aconteceu.

A funcionária pública Cláudia Cristiane dos Santos chegou na madrugada do dia 11 de janeiro de 2001 ao Hospital São José em Itabaiana já em trabalho de parto. Ela estava grávida de seu segundo filho e o que ocorreu dali para frente é explicado pelo médico responsável pelo parto.

“Tenho 34 anos de profissão, mas esse caso me marcou”

O médico obstetra Antônio Cardoso Moura, bastante conhecido em Itabaiana e na região conta como se sucedeu todo o procedimento após o parto de Cláudia. O doutor Cardoso disse que Cláudia fez todo o pré-natal em Aracaju e inclusive já havia marcado o parto cesariano na capital, mas que de última hora ela resolveu mudar e preferiu fazer o parto em Itabaiana com ele.

Cláudia se emociona ao voltar ao hospital (Fotos: Portal Infonet)

“Faltando uma semana ela resolveu não querer mais fazer em Aracaju, mas fazer comigo aqui em Itabaiana. Como era a sua segunda gravidez, a família achou melhor que ela deveria fazer uma laqueadura por conta do agravante no seu primeiro parto em que ela teve hemorragia após o nascimento do seu primeiro filho”, revela o médico argumentando que percebeu que não era o que a paciente realmente queria.

“Eu achei estranho ela não comentar essa questão da laqueadura, então eu fui perguntar a ela porque ela não se manifestou e ela me disse que estava indecisa e a orientei que ela não fizesse, para fazer somente quando tivesse certeza. Então dois dias depois ela chegou a ir à maternidade já em trabalho de parto, chegou bem, e cerca de 40 minutos depois desencadeou o parto dela, fizemos todo o procedimento sem maiores problemas, mas em seguida ela começou a apresentar um quadro muito grave em termos de obstetrícia que é a hemorragia pós-parto”, destaca.

Um fato que chamou a atenção dos médicos é que não foi encontrado o local onde havia o sangramento, então não havia como explicar a hemorragia. “Ela não tinha nenhum rompimento que mostrasse de onde vinha esse sangramento, logo depois ela começou a apresentar anemia aguda, somente então que a família me informou que no primeiro parto ela tinha tido esse sangramento, como ela não havia feito o pré-natal comigo eu não tinha esse conhecimento”, acrescenta.

O doutor Cardoso também se emociona ao lembrar o caso (Fotos: Portal Infonet)

“É triste uma mãe deixar um filho ainda pequeno”

O padre José Almir de Menezes conhecia a família dela em Malhador desde sua adolescência, mas em 2001 ele já morava em Aracaju e era capelão do então Hospital João Alves quando recebeu a notícia do estado da menina a qual ele se recordava com o nome Cláudia.

“No momento da intercessão eu sabia que ela tinha um filho com 10 anos à época, e eu tinha perdido minha mãe com 13 anos. Quando eu soube da notícia através de uma irmã minha de que ela já tinha tido problemas de saúde eu temi por ela. Eu disse, você tem algum santinho de irmã Dulce? Ela disse que sim. Então eu pedi para que ela fizesse chegar até ela e comecei a rezar e movimentar o povo, porque é triste uma mãe deixar um filho ainda pequeno”, afirma.
A advogada Ana Lúcia que conhecera o padre Almir em Aracaju por seu trabalho de capelão no hospital também resolveu ajudar e orou pela mulher que lutava pela vida em Itabaiana.

“Uma semana antes ele estava com a irmã com problemas de saúde, e uma semana depois me pediu para falar sobre o problema de Cláudia e pediu a intercessão de pessoas que ele conhecia para orar por ela”, relata.

O padre Almir mostra onde colocou a imagem da irmã Dulce (Fotos: Portal Infonet)

O tempo contra a vida

O relógio marcava entre 6h e 7 horas da manhã da quinta-feira, 11, quando o doutor Cardoso teve de fazer a primeira intervenção cirúrgica em Cláudia. Uma histerectomia fez a paciente responder bem e estancou o sangramento. Porém já por volta das 13 horas, Cláudia começou a piorar novamente.

“Ela começou a ficar com sangramento, distensão abdominal e pressão baixa. Então resolvi abrir a paciente e fazer procedimentos normais como lavar a cavidade e repor o sangue, ela teve uma nova melhora”, aponta o médico.

Pela terceira vez, na noite da quinta-feira Cláudia Cristiane apresentou novamente o sangramento. “Ela começou a apresentar um quadro de choque, nós fazíamos a reposição e ela já não conseguia responder, realizamos outra cirurgia já na madrugada da sexta-feira e ela teve um melhora tímida e disse para os enfermeiros que essa condição era o que tinha o que fazer em termos de medicina”, comenta.

Após 24 horas sem dormir o médico foi descansar e nesse momento ele ainda foi falar com a família disse que o quadro era grave, mas ela estava estável naquele momento, porém ele alertou que não poderia afirmar que ela iria sair daquela situação.

O milagre e o final feliz  (Fotos: Portal Infonet)

“Fui descansar uns 30 a 40 minutos quando a enfermeira entra no meu quarto e eu não deixei nem ela falar e perguntei o que aconteceu, ela me disse que a Cláudia estava procurando o filho dela e de fato ela estava conversando e pedindo para ver o filho”, fala o médico já emocionado, ele continua já com os olhos embargados e afirma que este caso marcou sua carreira.

“Em termos de medicina a gente faz o possível, mas não tenho como julgar essa situação, eu não tinha UTI aqui na maternidade e um caso grave desse, é um caso que tem que se pensar em outro lado. Talvez eu tenha sido um instrumento de alguém que tivesse uma força muito grande que chegou à situação de tirá-la daquele quadro. Este é um caso que me marcou e foi uma vitória muito grande saber que mãe e filho saíram da melhor maneira possível”, afirma.

Segundo o Padre Almir, já em Aracaju quando a mulher foi transferida para o hospital João Alves, ele foi ao encontro dela. “Eu coloquei a imagem na haste do soro e disse para Cláudia olhe para esta imagem que a irmã Dulce olhará do céu para você. Quando ela chegou ao João Alves, ela estava melhor, mas não se mexia, mexia apenas os olhos e em três dias ela saiu da UTI e foi para um apartamento, foi surpreendente e dentro do meu coração eu sabia que um milagre tinha acontecido”, destaca.

“A única coisa que eu lembro ao acordar é ver uma mulher vestida de branco”

Casada há 22 anos, a funcionária pública Cláudia Cristiane dos Santos ainda se emociona ao entrar no Hospital e maternidade São José em Itabaiana, mas diz se lembrar de pouca coisa no momento em que lutou para viver.

“Como eu tomei anestesia para a realização do parto, eu dormi, então eu tive meu filho e não lembro do nascimento. A minha lembrança é quando eu acordei e enxergando muito distante vi uma pessoa de branco que acredito ser a enfermeira e se aproximou de mim e eu perguntei se eu já tinha tido neném e ela disse que sim que ele era lindo. O médico já estava há 28 horas sem dormir e descansar, ele chegou a dizer para a minha família que havia feito todo o possível e que naquele momento era rezar e esperar a mão de Deus. Quando a enfermeira chegou chamando ele, ele ficou sem reação e percebeu que tinha alguma força espiritual porque cada vez que ele fazia algo por mim, era como se ele fizesse muito mais”, fala emocionada.

Cláudia ainda recorda quando o padre Almir no hospital João Alves em Aracaju a entregou em mãos o papel com a imagem da irmã Dulce. “Eu não lembro o que ele falou, eu só me lembro daquela imagem. Logo depois no hospital, eu comecei a me recuperar rapidamente. Atribuo isso a graça de Deus e a intercessão da irmã na minha vida o que me possibilitou estar aqui para contar minha história já que nem os médicos acreditavam mais que eu sobreviveria”, finaliza.

A cerimônia de beatificação de irmã Dulce acontecerá no próximo domingo, 22, no Parque de Exposições, em Salvador, a partir das 17 horas. A cerimônia será presidida pelo Cardeal e Arcebispo Emérito de Salvador Dom Geraldo Majella Agnelo e a expectativa é que o público atinja a marca de 60 mil pessoas.

Por Bruno Antunes

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