“O transporte coletivo sergipano”, por Bernardo Rieux

Não é necessário ser nenhum adivinho, e nem residir em Sergipe, para prever acidentes rodoviários futuros ou constatar que há um grande problema no transporte público dessa região. Refiro-me à extraordinária imprudência com que os motoristas conduzem ônibus, vãs e micro-ônibus, e a mesma extraordinária passividade com que os passageiros costumam acompanhar tais imprudências. No transporte urbano, em linhas como o ´Circular Shoppings´ e ´Circular Indústria e Comércio´, vê-se de imediato os passageiros tensos e com as duas mãos firmes nas barras do ônibus. Em muitas paradas, alguns passageiros perdem o equilíbrio, acompanhando as ultrapassagens arriscadas, as freadas bruscas e a excessiva velocidade dentro da cidade. Quando alguém se dispõe a reclamar, muitas vezes enfrenta o riso do motorista e do cobrador, e às vezes dos próprios passageiros. É incrível. Como se tudo fosse uma brincadeira, há o riso, e não a indignação. Pior acontece com o transporte intermunicipal. Presenciei um espetáculo grotesco viajando de Neópolis a Aracaju, numa companhia chamada ´Santa Maria´: Velocidade excessiva, ultrapassagens em ponte, em trevo, pela direita, em faixa contínua, com carros próximos na via contrária, e três ou quatro vezes por pouco o motorista não batia violentamente em outro ônibus, caminhão ou carro. Ao reclamar com o motorista sobre sua excessiva imprudência, recebi o surpreendente comentário de que, se ele quase (quase mesmo, foi por um fio) havia se chocado contra um ônibus, a culpa era do outro motorista, e não a dele. Isso após uma tentativa forçada de ultrapassagem de uma grande fila de carros e ônibus. Como explicar a generalizada imprudência dos motoristas, bem como a conivência dos passageiros, para as coisas continuar como estão? Como explicar essa passividade, e esse riso? Teriam recebido os motoristas algum treinamento? Haveria alguma política de controle de velocidade em serviços de transporte público? A polícia vem medindo as ocorrências de abuso de velocidade? Ou as coisas são assim porque os próprios passageiros desejam? Sem meios de constatar como funciona a cultura local (não sou daqui, sou apenas um turista), deixo a interrogação, enquanto continuo a admirar esse bonito lugar.

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