Nesta sexta-feira, meio-dia, o Brasil parou para escutar o que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha a dizer sobre a conjuntura política do país. Três horas depois do programado, ele foi ao ar em cadeia nacional para dizer que sentia “traído e indignado pela grave crise política”. O presidente apareceu na tela apático, com uma expressão cansada, mas não deixou de citar que o Brasil voltou a crescer e que a inflação é a mais baixa dos último cinco anos. Fonte: Agência Brasil
Alguns dizem que o presidente está tentando ganhar tempo
Em Sergipe, o discurso repercutiu entre as principais autoridades estaduais. “Creio que o presidente revelou coragem para enfrentar a crise e humildade para pedir desculpas ao povo brasileiro por uma série de eventos praticados por dirigentes e pelos quais não tem responsabilidade. Lula reafirmou sua disposição em combater os problemas denunciados e expôs o seu desejo de que todos os envolvidos sejam submetidos às mais duras punições possíveis”, disse Marcelo Déda, prefeito de Aracaju e conhecido pela boa relação que mantém com o presidente.
Mas para outros políticos, a boa-vontade de punir de Lula não é o suficiente para dirimir as dúvidas que pairam sobre o Planalto. A senadora Maria do Carmo Alves é categórica: “O que ele fez não resolve. A população quer é que ele explique o por quê de tudo isso. Só pedir desculpas não vai definir um caso tão grave. O depoimento de Duda Mendonça ontem foi um negócio estarrecedor”, diz.
Na opinião da senadora, os candidatos do PT não estão aptos para assumirem cargos majoritários nas eleições de 2006, sejam como governador, sejam como presidente. “Da forma que eles estão fazendo, eles não têm condições de administrar nem a casa deles, quanto mais um país”, sentencia.
Mais comedido, Almeida Lima, também senador, preferiu se manifestar em poucas palavras. “Não consegui assistir ao discurso” e “Não posso afirmar nada ainda”. Em relação à aptidão do Partido dos Trabalhadores para disputar cargos majoritários no próximo ano, Almeida diz que eles não estão habilitados para fazê-lo “em canto nenhum”.
SEVERINO – Nos corredores da Câmara dos Deputados, em Brasília, Severino Cavalcanti aproveitou para dizer, agora há pouco, o pronunciamento do presidente trouxe a mensagem que o povo brasileiro esperava. Ao se colocar na posição de traído, Lula se qualifica para combater a corrupção, isso na opinião de Cavalcanti.
Em relação a um possível impeachment, o presidente da Câmara voltou a dizer que ainda é cedo para falar no assunto, mas não garante que nenhum processo será movido contra o presidente no futuro.
BUARQUE – Também no Plano Piloto, o discurso do presidente fez com que seus opositores acreditassem que sua fala piorou mais ainda sua situação: Cristovam Buarque (PT-DF) disse que deve deixar o partido na próxima segunda-feira. Já o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, achou que o discurso foi pífio e pouco corajoso. Buarque disse, depois de assistir à transmissão, que esperava que Lula dissesse que não disputaria a reeleição à presidência. A decisão oficial de deixar o partido só será entregue na segunda-feira, anunciou.
Do lado de cá, Déda completa: “Eu acredito que seria muito prudente e inteligente que se convocasse o Conselho da República para se examinar a crise. O Conselho é uma instituição criada pela Constituição justamente para possibilitar ao presidente da República ouvir personalidades, juristas, lideranças, representantes da sociedade civil em casos como esse. E este é um momento de crise extrema”, analisa o prefeito.
Segundo ele, seria muito importante que o Conselho contribuísse oferecendo idéias – de uma agenda política – ao Congresso Nacional, para que o mesmo pudesse continuar trabalhando, paralelo aos últimos acontecimentos. “Para o país não parar. Ao mesmo tempo, o Conselho ofereceria sugestões para o futuro. Sugestões de reforma política, de novas leis e regras, que impeçam que situações como essas voltem a ocorrer. Não adianta apenas investigar e punir, é preciso que desse processo todo, que dessa dor e desse drama saia alguma luz para o futuro do Brasil, da política brasileira e da democracia em nosso país”, afirmou.
Por Wilame Amorim Lima
Da Redação do Portal InfoNet