Os amigos e quem somos

Marlizete Maldonado Vargas
Mas, como os amigos e os laços de amizade influenciam nas nossas vidas? Que diferença esse sentimento faz durante o nosso crescimento e em momentos de escolha? Para a professora e psicóloga, Marlizete Maldonado Vargas, as amizades exercem papel fundamental em nosso desenvolvimento. Ela explica que a socialização é fundamental no processo de desenvolvimento humano. Sendo assim, como ela própria define “somos ‘colagens’ das relações que estabelecemos ao longo da vida”.

Marlizete coloca que o estabelecimento de laços de amizade são importantes desde a infância até a fase adulta. Baseada na Pirâmide das Necessidades do psicólogo americano Abraham Maslow, a professora explica que dentro da hierarquia das necessidades básicas do ser humano está o nível do pertencimento, de fazer parte de um grupo social. “Esse nível é mais básico do que a auto-estima. Ou seja, para você tê-la é necessário primeiramente ter segurança, atenção, aceitação, pertencer a um grupo. É claro que esse processo começa com a família, mas logo se estende para além dela. Então o que Maslow coloca é que o pertencimento é fundamental para o desenvolvimento da auto-estima”, detalha Marlizete.

CRIANÇAS – Com isso, a professora aponta no processo de desenvolvimento a importância de fazer amigos e conviver com eles. De acordo com ela, na idade escolar, entre os sete e os doze anos, “a aceitação pelos pares e as relações de amizade são importantes, principalmente, para que a criança desenvolva e aprenda a conciliar a honestidade com o suporte, ajuda ao outro, dependência mútua e respeito a independência do outro, competição e cooperação, e conversação e ação”. Marlizete acrescenta que, nesta fase, a compreensão é mais profunda e que o desenvolvimento dos conceitos sobre si mesmo e das habilidades sociais da criança ocorrem de forma acelerada.

“Nessa fase, a criança começa a ver no amigo um espelho, ou seja, há a formação de uma auto-imagem. A convivência e contato com o outro vai facilitar o processo de auto-conhecimento e de auto-aceitação. Com isso, uma criança que não é aceita no grupo vai sentir-se pior do que as outras, que é excluída porque não é boa e por isso não é aceita. E isso começa ainda mais cedo: desde a pré-escola já podemos observar essas questões. A existência da dependência do amiguinho para brincar e o entender que se tem que respeitar o tempo do amigo é fundamental no desenvolvimento da criança” reforça Marlizete.

ADOLESCENTES – Passando para a fase da adolescência, a professora explica que a relação com os amigos se torna ainda mais importante. “As amizades exercem uma influência fundamental na formação do adolescente”, diz Marlizete. Ela explica que o adolescente tem a necessidade de se desvincular do grupo familiar e vai encontrar nos amigos um ponto de confluência de idéias. “As amizades têm uma influência preponderante na socialização do adolescente, principalmente no início. Ele vai encontrar nos amigos aquela coisa da comunhão de idéias. Muitas vezes o adolescente vai ser mais dependente dos amigos, do que dos pais”, acrescenta a professora.

Marlizete coloca que os adolescentes precisam dos grupos de iguais para fazer as trocas de experiências. Além disso, ela acrescenta que alguns processos que iniciam-se na infância, como o da identificação, vão se acelerar e ao mesmo tempo vai haver uma seletividade muito maior. “Os adolescentes vão descriminar mais. Eles vão selecionar os seus amigos de acordo com os seus valores, suas idéias. Então, por um lado, ele vai assumir alguns modelos, um linguajar de acordo com o grupo em que ele vai se inserir, mas por outro lado, ele se insere num grupo porque  identificou ali valores que ele gostaria de assumir para si e que sozinho ele não consegue”, acrescenta Marlizete.

Nesse sentido, ela explica que o adolescente cria na relação de amigo uma força, um suporte para fazer coisas que ele não faria individualmente. “Pessoas sozinhas não vão assumir coisas que moralmente seriam inaceitáveis, por exemplo sair gritando pela rua, passar fazendo a maior folia, a maior correria. Sozinho ele não vai fazer isso, pois todo mundo vai achar que ele é louco, mas, se estão no grupo, tudo bem, pois as pessoas encaram com se estivessem brincando. O grupo facilita as expressões individuais que não são aceitas facilmente pela sociedade, porque a moral dos grupos é sempre mais reduzida, a questão dos valores ‘é nivelada por baixo’, a moral do grupo é mais frouxa do que a do individuo”, explica a professora.

Sobre os possíveis danos que um adolescente pode sofrer caso seja discriminado e acabe isolado nessa fase, Marlizete explica que uma das conseqüências é que ele acabe entrando num mundo mais de fantasia. Contudo ela ressalta que é complicado lidar com questões amplas, pois cada caso é um caso. “Hoje, a possibilidade de relações virtuais muitas vezes faz com que o adolescente venda uma imagem que ele não tem, se valendo do fato de o outro não poder vê-lo pessoalmente”, coloca. Marlizete destaca ainda que o adolescente que é deslocado, geralmente é uma figura fisicamente mais estranha, por exemplo ele pode ter crescimento tardio ou precoce em comparação aos outros na mesma época.

“Ele quase sempre está um pouco fora das faixas consideradas, pela maioria, como mais aceitáveis. Infelizmente há muita discriminação e o jovem, o adolescente, coloca crivos para separar aqueles que são do grupo e os que não são. Então um cara que é muito estudioso num grupo onde a tendência não é essa, vai se sentir discriminado. Sendo assim, caso ele se sinta inferior por causa disso a sua auto-estima vai ficar rebaixada. Daí ou ele deixa de estudar e se coloca no mesmo nível que os amigos ou ele segue naquele padrão e se desloca do grupo e isso pode ter sim conseqüências danosas para o adolescente. Esse afastamento pode levá-lo a ter o que a gente chama de adição, seja por comida, computador ou até mesmo por drogas”, detalha a professora.

 ADULTOS – Finalmente na idade adulta, as amizades começam a tomar um caráter um pouco mais diferenciado. Marlizete coloca que quando se entra na idade adulta, no sentido de adentrar numa fase mais produtiva, de responsabilidade, que exige das pessoas mais tempo, as amizades acabam ficando mais restritas. “As amizades continuam, mas você não tem mais aquele tempo disponível para elas, aí vão perdurar mesmo as relações que sobrevivem à distancia e ao tempo, que são as mais sedimentadas, no sentido de que foram mais investidas emocionalmente, nas quais houve mais trocas significativas, importantes”, explica Marlizete.

Neste momento, os amigos já não exercem, fundamentalmente, a função de grupo, de respaldo para determinadas atitudes e de espelho. Nessa fase, a seletividade acaba sendo maior e, segundo Marlizete, isso é importante também porque são esses amigos que perduram que detêm um pedaço da história do outro. “Então o reencontrar, o estar com os amigos para as pessoas mais velhas, na idade madura, é fundamental. Isso porque esses amigos são a história e a gente tem a necessidade de voltar, de lembrar, de rir das besteiras que fazia, das histórias que viveu e os amigos duradouros é que vão possibilitar isso”, esclarece a professora.

Amigos, quase irmãos

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