Pedreiro morre soterrado em Boquim

Vala semelhante ao que soterrou ajudante de pedreiro (Fotos: Cassia Santana)

O auxiliar de pedreiro Reinaldo de Jesus Araújo morreu na manhã deste domingo quando trabalhava em obras que complementam a rede de esgotamento sanitário da Escola Profissionalizante, que está sendo construída em Boquim pelo Governo do Estado com parceria do Governo Federal.

De acordo com informações de testemunhas que residem na localidade, o auxiliar de pedreiro estava numa vala com profundidade superior a 3m colocando a tubulação da rede, mas o barranco cedeu devido à umidade do solo em função das chuvas, e ele acabou morrendo soterrado.

A escavação na travessa João Soares, na cidade de Boquim, vem sendo realizada, de acordo com informações dos moradores, há cerca de duas semanas. “Eles abriram buracos em toda a rua e deixaram aí largado, aberto”, comentou o pedreiro Gilson da Cruz. “Ontem, eu fui lá no canteiro de obras da Escola para pedir providências porque eu estava com meu carro preso, sem poder sair. Eles taparam um trecho e hoje acontece esta tragédia”, lamentou o pedreiro, para quem as ruas esburacadas devem ser, de imediato, pavimentadas.

Placa exposta em canteiro de obras: canteiro estava vazio

O aluno de sargento José Nascimento de Castro, amigo da família do auxiliar de pedreiro morto soterrado, lamentou a ocorrência e revelou que, durante muitos dias, a construtora abriu as valetas na travessa para implantar a tubulação, mas expôs os moradores a riscos, especialmente crianças. “Com as chuvas, as valetas ficaram alagadas e as crianças passando nas proximidades, correndo muito risco”, desabafou o policial.

Os moradores da localidade realizaram uma espécie de mutirão e tentaram socorrer o rapaz, que chegou a receber atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), ainda com vida. Mas acabou falecendo a caminho da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), da cidade.  Uma moradora da travessa, que, juntamente com o marido, conseguiu retirar toda a terra que cobria o auxiliar de pedreiro, cronometrou a ocorrência: telefonema ao Samu às 8h21; chegada da ambulância às 8h41 e às 8h50 o auxiliar de pedreiro foi transportado para a UPA.

Revolta

Unidade onde corpo foi resgatado pelo IML

Os familiares estão revoltados e denunciam descaso da construtora responsável pelas obras. O radialista Ricardo Jesus Araújo, irmão da vítima, acredita que Nem, como era conhecido o auxiliar de pedreiro na cidade, tenha falecido no local do acidente. Nem em Boquim, nem em Estância, a família conseguiu registrar o Boletim de Ocorrência. “Não há delegado nem aqui (Boquim) nem em Estância”, disse o irmão da vítima. “Tivemos que recorrer ao deputado (ele se refere ao ex-deputado federal Cleonâncio Fonseca) para ir até a chácara do secretário da Segurança Pública (João Eloy) para pedir providências”, revelou.

O ex-deputado Cleonâncio Fonseca foi até a chácara do secretário, conversou com João Eloy, se prontificou a acompanhar a família no episódio e lamentou a ocorrência. “Eles (os responsáveis pela obra) trataram o caso como se tivesse soterrado um animal”, comentou, com a reportagem do Portal Infonet. O radialista irmão da vítima solicitou rigor na apuração e, segundo informou ao Portal Infonet, o secretário João Eloy prometeu designar um delegado de polícia para tratar a questão com exclusividade.

Este seria o local do soterramento

No momento do soterramento, os moradores da travessa João Soares e amigos que se encontravam na obra entraram em desespero. “Os amigos choravam e foi muito homem aqui desmaiando”, contou uma mulher que reside naquela travessa que prefere não se identificar.

O auxiliar de pedreiro era casado. Deixa dois filhos e a esposa no sexto mês de gestação, segundo informou o irmão Ricardo Araújo. “Não é porque ele era meu irmão, mas Nem era um rapaz muito bom”, comentou. “Preferia me ver aí morto neste buraco do que meu irmão”, desabafou, em lágrimas.

A construtora tem contrato assinado com o Governo do Estado para construir a Escola Profissionalizante da cidade de Boquim. A obra, considerada demanda da Secretaria de Estado do Planejamento atendida com a liberação de recursos do BNDES, está avaliada em R$ 3,944 milhões, foi iniciada no dia 22 de junho do ano passado e tem previsão de conclusão para o dia 21 de junho deste ano.

A equipe de reportagem do Portal Infonet tentou ouvir os responsáveis pela construtora. A equipe esteve no canteiro de obras, mas não havia ninguém, assim como ninguém atendeu ao telefonema, cujo número é encontrado na lista telefônica.
O Portal Infonet permanece à disposição da construtora para prestar os devidos esclarecimentos.

Notas
As Assessorias de Comunicação da Construtora MKR Construções Ltda e da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano (Sedurb), contratante da empresa para realização das obras da Escola Profissionalizante, enviaram notas, lamentando o episódio. “Atuante no ramo da construção civil há mais de 15 anos, a nossa empresa pela primeira vez se depara com uma situação tão lamentável. Nesse ponto é fundamental esclarecer que o nosso colaborador que veio a óbito encontrava-se portanto todos os equipamentos de proteção individual (EPIs), bem como todas as medidas preventivas foram adotadas”, diz a nota da MKR.

Ao contrário do que revela o irmão da vítima, a empresa, na nota, garante que deu assistência à família tão logo tomou conhecimento da ocorrência. “Nosso técnico de segurança entrou em contato com a família e prestou toda a assistência possível nesse momento de dor. É compreensível que a dor da perda gere revolta, no entanto a nossa empresa não se eximiu de qualquer das suas responsabilidades até o momento e assim procederá até o fim”, complementa a nota.

Também em nota enviada ao Portal Infonet, a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano (Sedurb) lamentou o episódio e informou que, assim que tomou conhecimento, enviou à cidade de Boquim, o coordenador do Programa Sergipe Cidades, Ednilson Santana de Lima, “para acompanhar de perto as providências que a empresa estava tomando”. A Assessoria da Sedurb informa ainda que a MKR é a empresa “responsável direta pela segurança e integridade física dos seus funcionários”.

Na nota, a Assessoria de Comunicação da Sedurb revela que tomou conhecimento que a MKR teria dispensado assistência à família. “Mesmo com a confirmação de que a empresa estava dando toda a assistência necessária, Ednilson acompanhou as ações da empresa contratada e a assistência dada à família do seu funcionário”, diz a nota.

A matéria foi alterada às 7h15 desta segunda-feira, 30, para acréscimo das informações enviadas pelas respectivas  Assessorias de Comunicação

Por Cássia Santana

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