Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a pistolagem pode ser aberta em Sergipe, até para que os deputados fiquem com a consciência tranqüila, de que estão tentando fazer alguma coisa para chegar aos mandantes e assassinos do deputado estadual Joaldo Barbosa. Mas, com certeza, ela servirá apenas de rótulo para uma ação que não chegará nem à azeitona da pizza. A profissão de pistoleiro é tão antiga quanto à da prostituta e não há como acabar uma ou outra. Por trás ambas servem à elite dominante. Um dos mais respeitáveis homens públicos do Estado recebia, sempre, em seu gabinete, entrando pelas portas dos fundos, personagens má encaradas, sisudas e que não olhavam nenhum cidadão de frente. Falavam pouco e ouviam muito. Tinham uma fidelidade canina. Um dos seus amigos mais próximos, intrigado com as visitas esporádicas desses elementos, perguntou: “Mas o senhor, uma pessoa tão boa, por que recebe essa gente em seu gabinete e lhe dá tanta assistência?” Com um sorriso leve no rosto, o ilustre cidadão bateu nas costas do amigo e respondeu-lhe: “Esse pessoal faz o trabalho que você não tem coragem de fazer”. Assim como o narcotráfico, que faz uma guerrilha urbana no Rio de Janeiro, a pistolagem jamais terá fim no Nordeste. Os profissionais da área já tiveram – ou ainda têm – até uma organização clandestina que se denominava de “Sindicato da Morte”. Nenhuma CPI terá condições de desmanchar uma tão bem estruturada organização. Os traficantes que estão nos presídios são meros agentes de um esquema milionário, que envolve personalidades importantes de todos os poderes do país. Assim age o famoso “Sindicato”. Por trás deles estão figurões do mais alto grau, que sempre têm um “servicinho” sujo para ser feito. O dinheiro que corre é farto e uma eliminação importante envolve órgãos de segurança, principalmente a polícia, além de ter guarida nos podres poderes que dominam o País e os Estados. São parlamentares, coronéis, juizes, desembargadores, governadores, empresários, que geralmente se envolvem com esta organização e facilitam o trabalho quando a causa serve para todos. Será extremamente difícil descobrir quem matou Joaldo Barbosa. É possível que esse cidadão já nem exista mais, no chamado processo de queima de arquivo. Afinal de contas, tem um retrato falado seu, publicado em alguns pontos do Estado, até porque ele cometeu um acidente de trabalho, ao ser visto, cara a cara, pela empregada, e tê-la deixado como testemunha. Evidente que não se dá para imaginar quem estava por trás do cidadão que eliminou o deputado, mas é muito difícil chegar lá, porque com certeza não era “um Zé Mané qualquer”. Da mesma forma, ficará impune o crime do vereador Carlos Gato. Esse com uma complicação: fez muitos inimigos e ninguém é capaz de indicar um deles, porque poderá estar cometendo uma grande injustiça. O crime do agiota Motinha, ocorrido em um restaurante da moda na praia do Robalo, já está nos arquivos dos insolúveis e ficará por isso mesmo. Em razão de tudo isso, dessa impunidade declarada, dessa força invisível que comanda boa parte dos crimes, do tráfico de tóxicos, da corrupção no país, é que uma CPI não vai chegar a lugar algum. Está claro que tem que haver uma solução. Afinal tem muita gente inocente pagando pelo que não fez e um bom número de pessoas freqüentando os mais requintados ambientes da podridão social, com ares de fidalgo, por trás de toda uma estrutura criminosa. É uma questão política. Assim como a pobreza, a fome e a seca, a pistolagem não pode ser esquecida como um mal que atinge segmentos importantes dos Estados e do país. O crime organizado não está na mão de nenhum desses marginais que estão presos, nem dos pistoleiros que cumprem fielmente a sua profissão. Mas de uma estrutura sólida que comanda, que administra, que produz, que julga, que dá segurança e que se coloca à disposição para a defesa. Quando a Itália quis acabar com a Máfia, foi fundo e prendeu os chefões que financiavam o seu funcionamento. E o fez pegando aqueles que eram usados para a prática dos crimes, para contar com a sua conivência. Só assim é que se pode tomar uma atitude saneadora mais definitiva. Uma CPI para apurar a pistolagem, sinceramente, é uma forma de marcketing para se posicionar, em busca de alguns passos à frente, na vida pública. Quem está no crime sabe que o “mal feito tem que ser bem feito”, para que ninguém caia e todos se mantenham numa situação privilegiada de vítimas da violência que eles mesmos financiam. Não dá para acredita numa CPI do tipo… Por Diógenes Brayner brayner@infonet.com.br
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