“Plenário”, por Diógenes Brayner

Sanear ou punir O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Antônio Passos (PFL), é um cidadão que sempre teve um comportamento discreto. Usou da tribuna quando necessário e, durante os oito anos que passou na oposição, não chiou. Suportou bem a regra do jogo e foi superando obstáculos sem se posicionar como um radical. Sempre moderado, jamais fez uma crítica pesada ao Governo anterior, mesmo que estivesse do outro lado. Com a vitória de João Alves Filho, nas eleições de outubro passado, se credenciou para ser presidente da Casa e o foi em uma eleição tão confortável, que a disputa aconteceu para primeiro secretário. Mesmo sendo da oposição, durante a administração anterior, Passos sempre manteve relacionamento cordial com os seus colegas e, naturalmente, o seu nome foi aceito sem restrições. Um reconhecimento pela sua persistência e perseverança, porque ele, em nenhum momento, balanceou no seu compromisso com o partido e com o governador João Alves Filho. Infelizmente, Passos já tinha sido eleito e assumido a Presidência legislativo, quando aconteceu o assassinato do seu colega Joaldo Barbosa (PL). O crime de Joaldo Barbosa, de qualquer forma, ainda tem vínculos com a agiotagem. Ele estava comprometido com dívidas de campanha. Além das suas, ainda tomou emprestado 198 mil reais para ajudar ao então candidato José Eduardo Dutra (PT), hoje bem instalado à frente da Petrobrás, maior estatal da América Latina, a disputar o segundo turno com o pefelista João Alves Filho. No inquérito policial, que apura a morte do parlamentar, está bem claro que a trama para mata-lo teve início na promessa do pagamento de dívidas, caso o suplente assumisse o mandato. No geral, a essência do assassinato foi a impossibilidade de cumprir compromissos com agiotas. Dinheiro emprestado, nos meios políticos, é um comércio absolutamente natural. São milhares de reais liberados para que sejam pagos com a eleição. Quando o sujeito não consegue eleger-se, o jeito é se encontrar uma forma de liquidar os débitos. Infelizmente essa foi uma solução encontrada no caso de Joaldo Barbosa, morto para que dívidas de outros fossem cobertas. Mas nem por isso as transações deixaram de acontecer nos bastidores do parlamento. E está na hora de se dar um basta nisso, porque o dinheiro emprestado pelo agiota é pago pelo povo. E é aí que pode entrar a força firme de um cidadão sério como o presidente Antônio Passos. Na Assembléia Legislativa atuam alguns agiotas. Dois deles são muito conhecidos e fazem ponto em gabinetes de um ou outro parlamentar. Embora se evite citar nomes, não se pode esconder que alguns deles vivem na dependência desses senhores, que influenciam até em algumas decisões que possam prejudica-los. Esse pessoal ficou rico, têm coberturas e fazendas. Não se dá nada por eles em termos sociais, mas as suas contas estão sempre gordas e dispostas a tirar algum deputado do buraco. Atuam com habilidade e adoram período eleitoral, porque sabem que os candidatos eleitos e alguns reeleitos estão com a corda no pescoço com os gastos de campanha. As propostas são tentadoras: dinheiro, muito dinheiro, para não pagar nunca durante quatro anos. Quem não aceita? A forma é simples, mas corrupta e carece de providências imediatas. O agiota empresta dinheiro ao deputado e sugere que ele pague em quatro anos através de cargos nos gabinetes. Tudo dentro da normalidade e sem problemas de cobranças e outros tipos de pressões naturais de quem faz empréstimos no mercado informal. Nas bolsas desses agiotas podem ser encontrados dezenas de cartões, com valores diversos – sempre acima de 500 reais – todos em nomes de pessoas fictícias, ou parentes, ou laranjas. No final do mês, quando os salários são depositados, esses ilustres cidadãos dedicam parte do dia em passar cartões nas máquinas e retirar para eles o dinheiro que deveria ser pago a pessoas que poderiam estar preenchendo as vagas de gabinete. E não é pouco o montante de saque. E é exatamente com o dinheiro do povo, proveniente dos impostos, que alguns parlamentares pagam seus gastos de campanha, sem deixar de colocar nas mãos de duas ou três pessoas, lucros exorbitantes. Isso durante quatro anos. É verdade que muitas vezes esses agiotas, que socorrem pessoas em momentos difíceis, emprestam com taxas de juros inferiores aos bancos e com riscos de não receber. Mas os profissionais da Assembléia Legislativa têm a garantia do cartão bancário e do salário depositado todos os meses nas contas de quem eles indicam para servir aos gabinetes. Alguma providência tem que ser tomada pelo presidente Antônio Passos, porque se sabe quem pratica isso, onde está, como atua e a forma que recebe. Não é difícil por um fim nesse jogo sujo que não fica bem para a dignidade de um Poder… GARANTIA Depois do assassinato do deputado Joaldo Barbosa (PL) alguns parlamentares estão tomando algumas providências para a segurança. O deputado Mardoqueu (PL), por exemplo, trocou o celular e não faz o mesmo caminho de volta para casa ou para os lugares que freqüenta. EXPULSÃO A Executiva Nacional do Partido Liberal determinou a expulsão do deputado estadual Antônio Francisco, desde o momento que se divulgou o envolvimento do seu filho no assassinato de Joaldo. Segundo uma fonte da legenda, a Executiva Regional é que vem segurando um pouco. Só fará isso depois do resultado do inquérito. JERÔNIMO O ex-prefeito de Lagarto, Jerônimo Reis (PTB) disse ontem que até o momento não recebeu qualquer informação de que o partido foi passado para Clovis Silveira. Jerônimo diz que continua trabalhando dentro do partido, sem que houvesse qualquer alteração, embora Clovis Silveira tenha exibido ata que o nomeia presidente da Comissão Provisória do PTB. NÃO CONFIRMA O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) não confirma o registro da ata do PTB, que passa a legenda para o comando de Clovis Silveira. Nesse caso a ata deixa de ser legítima, porque ela não pode ser registrada em razão da falta do carimbo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que oficializa a sua entrada em Brasília. JACKSON O deputado federal Jackson Barreto (PMN) está praticamente filiado ao PTB, faltando apenas assinaturas, e deverá comandar o partido em Sergipe. Esta semana ele teve um encontro com a Executiva Nacional em Brasília e a sua filiação está 99% sacramentada. COMISSÃO Já está na Comissão de Constituição e Justiça o pedido da formação de uma Comissão Processante que vai atuar na cassação, caso seja aprovada em plenário. Alguns parlamentares, como Belivaldo Chagas, por exemplo, defende que a questão da cassação seja analisada depois da conclusão do inquérito. PMDB O deputado Augusto Bezerra (PMDB) disse ontem que o deputado federal Jackson Barreto (PMN) não vai retornar ao partido. O presidente continua sendo Benedito Figueiredo. Ontem, Augusto e o deputado federal Jorge Alberto conversaram com o presidente do PMDB, Michel Temer, e ele confirmou que Jackson não vai se filiar. CONVENÇÃO Michel Temer comunicou aos dois deputados que em maio próximo o PMDB vai fazer uma convenção para a eleição dos Diretórios Regionais. Em Sergipe já está tudo certo: o deputado Jorge Alberto será o presidente regional e a legenda continuará dando apoio ao governador João Alves Filho. SARNEY A ação para evitar o retorno de Jackson Barreto ao PMDB não se resumiu apenas a uma conversa com Michel Temer e decisões para as convenções. O pessoal também ligou para o presidente do Congresso, José Sarney e o líder do partido, deputado Eunício e, finalmente, fechou todas as barreiras. FUNDAÇÃO O Ministério da Saúde já enviou para o Diário Oficial da União a nomeação da enfermeira Gorete Reis para a direção da Fundação Nacional da Saúde em Sergipe. Gorete já entrou em contato com o presidente nacional da Fundação para agendar data de posse. Ele faz questão de estar presente. LOGOMARCAS Por decisão do Governo, as Secretarias de Estado não terão logomarcas específicas. Todas usarão a marca oficial aprovada para caracterizar a atual administração. A marca está impecável… A medida é correta porque acaba com a diversificação de marcas dentro de uma mesma administração. Já o slogan competência e trabalho não é dos mais originais. Existem frases mais criativas. SINGER O secretário do Turismo, Pedrinho Valadares, esteve com o presidente da Infraero para ratificar o pedido do governador João Alves Filho, na colocação de singers (sanfonas) no aeroporto de Aracaju. O superintendente disse que daria prioridade à reivindicação e aproveitou para falar sobre a situação da lixeira na cabeceira da pista do aeroporto de Aracaju. JOSÉ NELSON O ex-prefeito de Estância, José Nelson, está às voltas com o Tribunal de Contas, que reprovou as contas de sua administração. José Nelson está trabalhando para retornar à Prefeitura nas eleições de 2004, mas precisa não ter problemas com o TC… TELEMAR Quem ligar para algum telefone fixo, ele chamar o tempo todo e entrar uma voz anunciando que “estamos transferindo sua ligação”, saiba que “meteram a mão no seu bolso”. Primeiro não tem para onde transferir a ligação e segundo o telefone está ocupado. A voz foi uma invenção da Telemar para que você pague um impulso, mesmo que não fale com ninguém. Notas HÁBEAS O desembargador Gilson Góes, que decidirá sobre o pedido de hábeas corpus para o vereador Antônio Francisco Garcez Filho, informou ontem, por telefone, que ainda não havia tomado conhecimento do processo, o que só fará na próxima segunda-feira. Os advogados do vereador se animaram quando o processo caiu nas mãos de Góes. Na avaliação da Polícia, o pedido só será julgado depois da entrega do inquérito policial, na próxima quinta, porque o desembargador deve consultar a juíza Iolanda Guimarães, que foi quem determinou a prisão dos envolvidos. NEGANDO O vereador Antônio Francisco Garcez Filho continua negando que tenha qualquer participação no assassinato do deputado Joaldo Barbosa e também isenta o seu pai, deputado estadual Antônio Francisco, de envolvimento com esse crime. Apesar das provas concretas, Antônio Francisco insiste que nunca conversou e nem conhece os assassinos. Segundo uma fonte policial, ainda não foi feita a acareação dos envolvidos. É possível que isso aconteça neste final de semana ou na próxima segunda-feira. A Polícia diz que tem provas suficientes para incriminar todos eles. APELO O deputado estadual Antônio Francisco (PFL), cujo filho é acusado de tramar o assassinato do deputado Joaldo Barbosa, enviou bilhetes, ontem, para alguns colegas na Assembléia Legislativa, fazendo um apelo para que não cassem o seu mandato, antes que seja concluído o inquérito policial. No bilhete o deputado demonstra aflição. O pedido para abertura do processo de Antônio Francisco já está na Comissão de Constituição e Justiça para formação da Comissão Processante. Isso deve sair até a próxima terça-feira. O processo de cassação pode acontecer até o final da semana. Por Diógenes Brayner brayner@infonet.com.br

Portal Infonet no WhatsApp
Receba no celular notícias de Sergipe
Acesse o link abaixo, ou escanei o QRCODE, para ter acesso a variados conteúdos.
https://whatsapp.com/channel/
0029Va6S7EtDJ6H43
FcFzQ0B

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais