Maria e outras 300 famílias, aproximadamente, habitam hoje a ‘Ocupação 1° de Maio’. Liderada pelo Movimento dos Trabalhadores Urbanos (Motu), a ocupação teve início no feriado do Dia do Trabalhador com pouco menos de 100 famílias, hoje esse número já triplicou. A motivação de todas elas para conseguir se manter neste Além disso, a tentativa de fugir do aluguel, que às vezes compromete mais de 50% da renda de algumas dessas famílias que recebem menos de um salário mínimo, é outra característica em comum. Essa é uma realidade vivida não só por elas, mas por 3,2 % da população brasileira, é o que revelou recentemente dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Perto de completar sete décadas de vida, Maria do Socorro, viúva e mãe de cinco filhos, nunca teve uma casa própria, Este é o espaço em comum utilizado para pegar água na única torneira do prédio Claudinete conta que nunca teve moradia certa, vivia ‘pingando’ de lugar em lugar, até que soube da ocupação do hotel e resolveu se mudar para lá. O espaço é precário, mas as dificuldades, como a existência de apenas um banheiro para quase mil pessoas não tira a alegria de ter um lugar seguro para os filhos. Quando precisam fazer as necessidades todo mundo Crianças x perigo Quem visita as dependências da Ocupação 1° de Maio se surpreende com o número de crianças e com o perigo iminente para elas, presente por todos os lados. O prédio inacabado tem inúmeras escadas, pouca iluminação, vãos sem nenhuma proteção e diversos obstáculos que representam perigo até para um adulto desavisado. A coordenação do Motu garante que até o momento não foi registrado nenhum incidente, isso porque as “Eu sou muito vigilante. Fico o tempo todo de olho neles e quando estou lá dentro fazendo alguma coisa deixo a porta trancada”, afirma a mãe dos espertos Cailan, Yasmin e Inguid, respectivamente 3, 5 e 6 anos de idade. Nayara conta que quando casou foi viver nos fundos da casa dos sogros, uma experiência que prefere esquecer. “Foi horrível, passei muita humilhação”, conta. Ao deixar a casa dos sogros foi viver de aluguel, mas depois de o marido ficar desempregado o destino dela foi o prédio em construção. Destino Ao fundo fica localizado o único banheiro, a maioria dos moradores, no entanto, prefere fazer as necessidades num recipiente qualquer e descartar em ‘algum lugar’ Maria do Socorro reza todo dia o Rosário e pede a Deus felicidade e uma ‘casinha’ para acabar de viver em paz. Já Claudinete afirma “só um milagre para eu conseguir uma casa”. Se ela realmente precisar deixar o espaço, já que existe uma ordem de despejo para os ocupantes do prédio, o destino dela, de seus filhos e de muita gente que vive lá, volta a ser incerto. “Eu irei pra onde Deus quiser e o vento me levar!”, afirma.
Dona Maria do Socorro está vivendo há um mês num dos quartos de um hotel que teve suas obras paralisadas por conta de um litígio judicial há mais de vinte anos na zona sul da capital sergipana. A senhora de 69 anos está satisfeita com a nova morada, ela arrumou o espaço cuidadosamente para lhe garantir o mínimo de conforto, mas se queixa de duas coisas: o frio insuportável que faz à noite e a distância do filho deficiente que ainda não pode levar para seu novo abrigo. Maria do Socorro, 69 anos, sempre viveu de aluguel
espaço frio, sem água encanada e que mais parece um labirinto de três andares, é a mesma: o sonho da casa própria. Claudinete (ao fundo) divide o espaço com os filhos, marido e genro e diz estar satisfeita com a nova morada
sempre viveu de aluguel. Apesar de ter quase a metade da idade dela, Claudinete Moreira tem uma história parecida.
A jovem senhora mãe de sete filhos, dois já falecidos, e que carrega mais um na barriga, está muito feliz vivendo no quarto que divide com quase dez pessoas entre marido, filhos e um genro. “Onde eu tava antes era um pesadelo, um quartinho na feira das trocas onde meu esposo trabalha que era metade desse aqui. Não podia lavar roupa, não cuidava direito dos meninos, era horrível”, desabafa.
acaba dando um jeitinho. Para tentar amenizar essa situação, o Motu já está providenciando mais um banheiro e um espaço comunitário para banho. Crianças brincam indeferentes ao perigo e sob o olhar atento das mães
mães dos pequenos são muito atenciosas, a exemplo de Nayara da Silva, 25 anos e mãe de três. Janelões sem proteção são apenas um dos perigos para os moradores
Os moradores da Ocupação 1° de Maio estão lá na esperança de que o prédio seja cedido para que eles continuem vivendo no espaço, ou que o Governo os encaixe em algum programa de moradia popular. Mas a descrença no poder público leva a todos eles a acreditarem em apenas uma entidade: Deus.
Por Carla Sousa
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